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Blog do Vavá da Luz

A ESMOLA ( MARCOS SOUTO MAIOR (*)

 

                  MARCOS             A violência incontida me assusta e tem trazido novos hábitos, não deixando qualquer pessoa se dirigir a mim, sem que procure me precaver de um possível assalto. Fica muito difícil distinguir entre os bons e maus perambulando pela vida!

                               Hoje, até menores e velhos são utilizados, desenfreada e criminosamente, pela bandidagem do dia a dia em qualquer cidade, desestimulando a prática saudosa do ato da caridade para com o próximo, em razão do risco da própria vida! Lembro-me bem, dos tempos da casa da Rua Santos Dumont, onde meus imorredouros pais não se cansavam de atender aos pedintes no portão da casa e, na falta de uma moeda, alimentos eram entregues em mãos…

                               Se foi o tempo em que se davam alimentos aos mendigos, e fui testemunha viva de pessoas maltrapilhas se recusando a receber frutas ou sobras limpas de refeições. Só aceitavam dinheiro mesmo. O assalto tornou-se, assim, muito mais fácil e rendoso para os delinquentes de todos os matizes, levando a grande maioria de o povo evitar contato com quem não conhece!

                               A súplica pela necessidade da fome é eterna em todo o mundo, apenas da forma suplicante de conseguir viver, se divide entre o bem e o mal. De mão estirada, o pedinte rogava: “Uma esmolinha pelo amor de Deus!” ou, o mais fácil e lucrativo: “Mãos para cima, é um assalto…”!

A parada obrigatória no farol do sinal de veículos, a saidinha dos bancos, o capacete do motoqueiro e o assalto à mão armada em residências e lojas, sob a filmagem de câmeras são realidades que transformaram a profissão de esmoler.

 As bolsas que o governo federal distribui mensalmente, também contribuíram para um novo jeitinho brasileiro de acabar, na teoria, com a mendicância pelas ruas e praças das cidades. Aliás, pouca gente sabe que tal prática fora abolida pela Lei n.º 11.983/09 riscando do mapa o art. 60 da Lei das Contravenções Penais, que fixava pena em quinze dias a três meses, aos que agissem com ociosidade ou cupidez. Em outras palavras: o desocupado!

Em meio ao que poderia ser conceituado de novel forma de receber esmola, o Poder Executivo Federal além de dar o necessário, também fecha os olhos para a duplicidade de benefícios, indo desde aposentadoria por enfermidade somada com uma das múltiplas bolsas existentes no cardápio federal. E a sabedoria popular não esquece o que nos interessa: “quando a esmola é grande, o santo desconfia”. Serão as eleições de 2014?

Quem tem o suficiente para viver, a escolha de conceder algo ao próximo, fica difícil e complicado, numa análise superficial, buscando encontrar merecimento no direito de minimizar a fome sofrida dos miseráveis!

Aí eu me filio à filosofia cantada, do sertanejo Luiz Gonzaga, quando encantou para todos os recantos do Brasil: “uma esmola, para o homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”.

                   (*) Advogado e desembargador aposentado