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Blog do Vavá da Luz

A DOENÇA DO CIÚME (Rena Bezerra)

Seu dotô, seu coroné

Seu home da capitá,

Me iscute esse labacé

Que agora vou lhe contá,

Aconteceu no sertão

Numa noite de São João

Num forró do arraiá.

 

 II

Eu dançava com Raimunda

Num remelexo arretado,      

Ela balançava a bunda

E eu num passo acertado,

Fazia tudo dereito

Quando eu vi que um sujeito

Tava mei inciumado.

 

 III

O cabra tava cum zói

‘Vermei’ que nem uma pimenta,

O ciúme lhe corrói

Que assoprava pelas venta,

Foi se achegando pra mim

E foi dizendo: -ô bichim?

Quero vê se tu me agüenta.

 

 IV

E eu falei sem demora

Não vim aqui pra brigar,

Mas tombem num vou simbora

Pro mode tu me insurtá,

Mais quero saber o pruquê

Do ciúme que você

Ta sentindo pela ta?

 

 V

O cabra me olhou de novo

Cum olhar atravessado,

Botando medo no povo

Com os zóião abuticado,

A Raimunda se tremendo

Saiu as pressa, correndo

Mais fiquei ali parado.

 

 VI

Ele vêi para o cacete

O bicho era atrivido,

Impurrei-lhe um tamborete

Pro riba do pé duvido,

Que o cabra caiu tremendo

E o sangue foi escorrendo

Era fei o destampido.

 

 VII

Nisso chega o delegado

Pra me prender sem motivo,

Eu ainda tava parado

Cuns miolo pensativo,

E falei sem cacoete:

-Prenda esse tamborete

Que esse bicho é agressivo!!!.

 

 VIII

O delegado pensou

Recantou-se, ficou só,

Aí outra vez vortou

Trazendo sua lei de có,

E falou num tom aceso:

-O tamborete ta preso

E continue esse forró.

 

 IX

Tiraro o cabra do chão

Lavaro cum água de sá,

Foi chegando a multidão

Vortaro logo a dança,

A Raimunda avoroçada

Foi chegando na latada

Pra ser de novo meu par.

 

 X

Meus amigo aqui presente

Me ouça cum atenção,

Essa coisinha doente

Que penetra o coração,

Acontece de custume

E essa doença ciúme

É coisa do cramuião.

 

Rena Bezerra

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