Pular para o conteúdo

A cidade e a cidadania na eleição ( Damião Ramos Cavalcanti )

                      A cidade e a cidadania na eleição

         Ser pilarense, itabaianense ou pessoense, ou morar na sua cidade não é um título, é uma vida. Pode haver até vida sem título, mas como se explicar um título sem vida? Seria uma caixa sem conteúdo, como uma garrafa, com rótulo, mas vazia. O conteúdo é o que dá significado ao título, como a substância, aos entes, às entidades, sejam essas mitológicas, autárquicas, sociológicas ou históricas. É bem melhor o substantivo sem título, do que apenas o título… 
          Sonhando um pesadelo, a cidade parecia estar vazia. Cheia de ruas, de becos, de casas, de prédios, de carros, de ônibus, de trens e de comboios sem passageiros. A natureza ainda vivia… As águas da Lagoa estavam silenciosamente paradas; somente o rio corria, também o vento, fazendo as folhas de algumas árvores centenárias se movimentarem. Eram apenas coisas que faziam parte da urbs; coisas urbanas, como o esgoto, os abandonados transportes urbanos, os reconhecidos logradouros, coisas deixadas, sem vida, que se inferiorizavam no meio da ainda natureza verde. Agoniado pesadelo, a cidade estava vazia: nenhuma mulher para o mundo das crianças, tampouco alguma criança, nem sequer um idoso para nos contar o que teria acontecido ou pessoas com experiência para orientar os sem experiência de vida, para bem das vindouras gerações. Seria uma cidade vítima de armas ou talvez de catástrofes; talvez apenas coletivamente deserdada. Mesmo dormindo, aparecia um estranho convencimento: sem gente, não há cidade; aquilo era apenas um amontoado de coisas fabricadas ou construídas. Havia a urbs, faltava a civitas; a urbs é a estrutura, a civitas, o organismo, a vida orgânica. Para haver cidade, fazem-se necessários cidadãos e cidadãs; e para serem felizes, comportando-se coletivamente como gente daquela cidade, libertando-se do “homo lupus homini”, sendo o povo povoando o povoado, a exemplo da “primeira comunidade cristã” (Atos dos Apóstolos, 4, 32 a 35).
            A tendência de ser feliz na sociedade é a coragem de ouvir e participar do consensus, visando o Bem Comum, numa “sociedade comunitária”, segundo Daniel Bell, em Les Contradictions Culturelles du Capitalisme. A eleição é única circunstância cidadã para se escolher pessoas que nos ajudem a esses benefícios consensuais.  Corajosamente não é o medo, nem a dúvida ou o talvez… O histórico do candidato ajuda a desfazer o temor da aventura. Não há eleição sem escolha, sem o mínimo de comparação, sobretudo quando existem candidatos com distintas e diferentes qualidades, o que enriquece a democracia. Daí, sempre repetir em poucas palavras: ninguém escolhe sem comparar. Quando apresentam candidato único, costumo ouvir do eleitor: “Não tive escolha”. Hoje, a conduta reprovável, contrária à cidadania, seria retroagir às eleições capitaneadas pelos “coronéis”, então  “proprietários” de redutos eleitorais; à compra de voto repudiada pelos que desejam o bem da nossa sociedade e até punição pela Justiça. Decepções experimentadas educaram o povo a recorrer eleitoralmente aos candidatos que já provaram e comprovaram  o bem-fazer e se portam como o bem exige. Candidato favorito deve apresentar sua história política, feliz desempenho, confirmado em outras gestões, através da maturidade política, do dinamismo, do trabalho, da seriedade com a coisa pública e do tirocínio administrativo. Convence-nos o inquestionável lógico Aristóteles: contra fato não há argumento ou contra factum argumentum non datur.  
 

Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti