Numa de suas melhores intervenções na campanha presidencial, Lula disse que os tucanos só se lembram dos pobres em época de eleição.
Visto o ministério que vai sendo montado por Dilma, talvez só possa dizer que hoje o PT só se lembra da militância em época de eleição.
Causou um estridente desagrado à maioria dos petistas a notícia – ainda por confirmar – de que o Ministério da Agricultura será entregue à senadora Kátia Abreu, uma das lideranças mais conspícuas entre os ruralistas.
Montar um gabinete com o quadro político atual, em que se governa com coalizão, é realmente complicado. Você acaba fazendo um “saco de gatos”, como o velho Frias se referia às diferentes ideologias dos colunistas do jornal no passado.
Mas Kátia Abreu?
Viralizou nas redes sociais, ressuscitado pelo DCM, um artigo que ela publicou na Folha em agosto passado.
Nele, Kátia acusava o governo de atrelar o Brasil ao “abismo bolivariano”.
Quando alguém usa a palavra “bolivarianismo” é porque enxerga o espectro de Simon Bolivar debaixo da cama.
“Bolivarianismo” é a versão moderna de “comunismo” na ditadura militar.
É uma expressão que você encontra frequentemente em Olavo de Carvalho, Reinaldo Azevedo, Rodrigo Constantino, Jabor, Gilmar Mendes – a essência, em suma, da direita radical brasileira.
Você pode, com boa vontade, alegar que o Ministério da Agricultura não vai ditar os rumos ideológicos do governo.
Mas há um alto custo simbólico em chamar para o ministério alguém tão claramente identificado como Kátia Abreu com tudo aquilo que, na reta final da campanha, Dilma disse ser contra.
No Ministério da Fazenda, as coisas não foram tão diferentes assim.
Com toda razão, Delfim Netto disse que algo está “muito errado” quando você “tem” que colocar na Fazenda alguém do mercado financeiro.
A notícia – também ainda não confirmada — de que o economista Joaquim Levy, do Bradesco, foi o escolhido foi comemorada pelo “mercado”. A Bolsa teve uma subida expressiva na sexta.
Levy, um economista ortodoxo, estudou em Chicago, berço do pensamento ultraconservador de Milton Friedman.
Para quem acha que o que é bom para o “mercado” é bom para a sociedade, Levy é o nome certo.
Mas quando a Bolsa subia a cada má notícia para Dilma na campanha não era este o entendimento do governo.
Era ingenuidade pensar que muita coisa mudaria com a permanência do mesmo sistema político, mas o choque de realidade foi demais para muitos petistas.
Está claro que uma reforma política genuína só será feita com movimentos sociais saindo às ruas, como em junho de 2013. A diferença é que não se lutará por vinte centavos. E é previsível que militantes petistas, ao contrário do que ocorreu em junho de 2013, adiram às manifestações.
A melhor tirada veio de Gilberto Maringoni, candidato do PSOL ao governo de São Paulo.
“Em nome da coesão nacional”, escreveu ele no Facebook, “Dilma monta o ministério de Aécio.”
Diario do centro do Mundo