‘Ser deputada federal com Eduardo Cunha na presidência foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida’, diz Cristiane Brasil
Rio – A deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ) irá pedir até o fim deste ano o indulto para seu pai, o ex-deputado Roberto Jefferson, delator do escândalo do Mensalão. Ele, que cumpre prisão domiciliar por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, poderia, se a presidenta Dilma Rousseff autorizar, candidatar-se e dividir o plenário com a filha. Pela primeira vez em Brasília, Cristiane assumiu a presidência nacional do PTB e tem planos de mudar a legenda: quer trazer para o partido a colega Clarissa Garotinho, que está em litígio com o PR. Opositora ferrenha dos governos petistas, ela declarou ao DIA que espera ver a Operação Lava Jato chegar ao ex-presidente Lula, criticou seu companheiro de legenda Fernando Collor e defendeu o presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
ODIA: A senhora convidou a Clarissa Garotinho para entrar no PTB?
CRISTIANE: Ela é uma das meninas mais preparadas que há em Brasília.Está com boa atuação e busca uma luz própria, longe do ex-governador Garotinho. Ela recebeu um ultimato do partido dela, o PR, por estar conversando com o PSDB. Conversei com alguns tucanos que me revelaram uma resistência ao nome dela por causa do pai. Se eles não quiserem, eu quero. Ela tem um CPF, o pai tem outro, e o convite já está feito.
A ida dela está condicionada a uma candidatura para prefeitura em 2016?
Não necessariamente. Aqui no Rio, vivemos uma situação peculiar, porque fui secretária do prefeito Eduardo Paes (na pasta de Envelhecimento Saudável) e isso me permitiu ter a imagem de gestora. Nossa relação é boa, mas a conversa sobre apoio ainda não aconteceu. Precisa ver também se Clarissa quer ser candidata.
Como comandar um partido em que parte é aliada do governo e parte é oposição?
Fui eu quem costurou a aliança com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) na disputa com Dilma ano passado. Depois que me tornei presidenta, conversei com a bancada, com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro (PTB-PE), e deixei claro que vou respeitar os acordos individuais. Mas eu sou de oposição, minha voz é de oposição. Vou respeitar quem da minha base quer votar junto com o PT na Câmara. Mas não falem em nome do partido. Não quero nada desse governo.
Diante dessa divisão, como a bancada se comportaria se for aberto um processo de impeachment contra a presidenta? Eduardo Cunha pediu para os pedidos serem desengavetados recentemente.
Para você abrir um processo de impeachment, é necessário ter crime de responsabilidade. De fato, houve uma maquiagem nas contas de 2014 para que a economia do Brasil parecesse melhor do que realmente era. O que eles fizeram com a economia é criminoso. Se isso for apurado e chegar nela, o PTB irá fazer o seu papel e votar pelo impeachment.
Não só sobre a presidenta, mas também há suspeitas sobre Eduardo Cunha, investigado pela Operação Lava Jato.Ele é suspeito de ter pedido propina de U$ 5 milhões . A senhora defende a saída dele da presidência da Câmara?
Ser deputada federal com Eduardo Cunha na presidência foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Ele deu dignidade ao parlamento. Foi completamente diferente das outras legislaturas. Os deputados se sentem valorizados, se sentem importantes. A fase em que se encontra o processo dele é muito inicial. Pelo que eu li e vi, existe apenas a prova testemunhal da delação do Júlio Camargo, ex-consultor da Toyo Setal. E ele não diz que entregou a propina ao Eduardo, só que ele pediu. Na realidade, isso é uma estratégia do governo para tirar o foco e colocar a Câmara na berlinda.
Muito se fala que, com Cunha na presidência, a Câmara tem vivido dias mais conservadores. Exemplo é a pauta da redução da maioridade penal e todo o debate feito em torno da proposta. O parlamento é, hoje, mais conservador?
Até hoje, tenho visto que Eduardo atua de forma neutra na Câmara. O que ele fez na idade penal, apontado como manobra, nada mais é do que um expediente absolutamente normal e previsto no regimento. Não teve pedalada. Vejo, neste sentido, que há uma vontade conservadora crescendo na sociedade.
Qual o futuro político da Operação Lava Jato?
É cedo ainda para fazer análise, mas no caso do Collor, por exemplo, existem maiores indícios de que ele está envolvido. O partido só irá tomar decisão depois que o processo passar pela Justiça. Confio muito no juiz Sérgio Moro, e quero que tudo seja apurado da melhor forma possível. Torço para que a Lava Jato chegue logo ao Lula. Basta de PT no governo.
Seu pai foi o delator do escândalo do Mensalão. Vocês conversam sobre aquele momento, de dez anos atrás, e o atual?
Na nossa opinião, o ‘petrolão’ usa o mesmo mecanismo de corrupção do mensalão. Não mudou nada. Ele não vai ficar calado sobre esse assunto para sempre, é melhor que ele fale quando a Justiça permitir.
Seu pai volta para política?
Foi dado o indulto ao José Genoino (ex-deputado federal condenado pelo STF no julgamento do Mensalão. Dilma concedeu o indulto de Natal a ele em 2014, e o Supremo suspendeu sua pena). Pedirei indulto para meu pai no fim do ano. Se a presidenta der o decreto, ele tem o perdão pela cassação dos direitos políticos dele. E assim, se ele decidisse voltar para política, seria para ser deputado federal. Todo dia eu ligo para ele e falo “pai, o que você acha disso?”. Seria uma honra, um orgulho imenso, ser deputada ao lado do meu pai.
Acossado pela crise política e econômica, o governo ainda tem saída?
Não acredito. O que eles querem é não acabar de uma vez com o país. A equipe econômica está empenhada em não deixar o Brasil quebrar. Não sei como a gente sustenta um governo mal das pernas até o fim. Mas o ideal é que Dilma termine seu mandato, sofrendo as consequências de tudo de errado que o PT fez. A articulação política não funciona, o Planalto não cumpre o que promete. O vice-presidente Michel Temer tem mais sucesso, mas quando a demanda sai dele e vai para o governo, tem um entrave chamado Aloizio Mercadante (ministro da Casa Civil). Não dá mais.