Cerco da PF ao escândalo da Lagoa pode ter tirado Cartaxo da disputa ao governo, diz deputado
Raoni Mendes questiona obra da Lagoa

Uma entrevista concedida em fevereiro deste ano pelo superintendente da Polícia Federal da Paraíba, André Viana, pode ter sido decisiva para o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), desistir de participar da disputa pelo Governo do Estado nas eleições deste ano. A avaliação é do deputado estadual Raoni Mendes (Democratas).

O parlamentar, que foi o primeiro agente público na Paraíba a levantar questionamentos sobre a reforma do Parque Solon de Lucena – Lagoa -, lembrou que, no último dia 27 de fevereiro, o delegado André Viana foi taxativo, ao afirmar que Polícia Federal não iria esperar o andamento das eleições para dar prosseguimento às investigações sobre as denúncias de desvio de recursos públicos da obra.

“Ouvi muita gente alegar que o prefeito desistiu da disputa por causa dos desentendimentos nas oposições ao governador Ricardo Coutinho. Outros alegam que ele desistiu porque não confia no vice-prefeito. Eu, no entanto, creio que ele desistiu por causa das declarações do superintendente da Polícia Federal. Já imaginou uma nova fase da Operação Irerês em plena campanha? Isso seria fatal para as pretensões do prefeito”, observou Raoni em entrevista ao Paraíba Já, nesta terça-feira (10).

Para o deputado democrata, a qualquer momento a Polícia Federal pode deflagrar uma nova fase da operação. “Em nível nacional, a Operação Lava Jato é um exemplo claro de que a Polícia Federal tem sido implacável no combate à corrupção, por isso, para mim não será surpresa a deflagração de uma nova fase para investigar todo o lixo que está escondido por debaixo da obra da Lagoa”, destacou.

Cerco da PF ao escândalo da Lagoa pode ter tirado Cartaxo da disputa ao governo, diz deputadoRelembre o caso

Em junho do ano passado, a Polícia Federal deflagrou a Operação Irerês para investigar denúncias de irregularidades na licitação e na execução nas obras realizadas pela Prefeitura de João Pessoa no Parque da Lagoa. Laudos técnicos produzidos à época pela PF apontaram um prejuízo aos cofres públicos estimado em R$ 6,4 milhões.

Durante a operação, foram cumpridos dois mandados judiciais de busca e apreensão em João Pessoa, um na sede da Compecc, empresa contratada pela prefeitura para executar a obra investigada, e outro na residência de um dos sócios da empreiteira.

Os mandados foram expedidos pela 16ª Vara da Justiça Federal em João Pessoa. Além dos mandados, a Justiça Federal também tornou indisponíveis os bens da Compecc e proibiu que a Prefeitura de João Pessoa realizasse novos pagamentos referentes à obra.

Saiba mais

Orçado em R$ 40 milhões, o novo Parque Solon de Lucena, rebatizado de Parque da Lagoa, no Centro de João Pessoa, passou por reforma durante quase dois anos e foi reinaugurado no dia 12 de junho de 2016. O trabalho começou pelo desassoreamento da lagoa e da construção de um túnel. Em dezembro de 2015, a Controladoria Geral da União (CGU) divulgou um relatório que apontava um prejuízo de aproximadamente R$ 10 milhões.

No documento, a CGU identificou um prejuízo de R$ 5,9 milhões em pagamentos pelo serviço referente à remoção de solo mole e cerca de R$ 3,6 milhões em pagamentos na construção de um túnel para regularização do espelho d’água da Lagoa.

Cerco da PF ao escândalo da Lagoa pode ter tirado Cartaxo da disputa ao governo, diz deputado

Na época, a prefeitura chegou a espalhar placas no entorno do parque para propagar a informação de que teria retirado 200 toneladas de lixo da lagoa. O montante foi questionado e a Câmara de Vereadores de João Pessoa chegou a dar início a uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), mas foi arquivada por determinação judicial.

Em 2016, o Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal começaram a investigar o caso. Segundo o procurador da república Yordan Delgado, os dois itens principais da investigação foram os identificados no relatório da CGU: desassoreamento e construção do túnel.