Todo mundo e a mulher de Seu Raimundo concordam, plenamente, com o presidente da Assembleia Legislativa. Até a oposição concorda, inclusive, a sua ala antirricardista, embora não admitindo publicamente. Na surdina e constrangida, admite que não há páreo para o ex-governador na disputa pela sucessão de Luciano Cartaxo.

Claro que ai cabe aquele velho mimimi de sempre, inclusive muito usado na campanha de 2018. Coisa do tipo: oxente, e é assim, é o rei, é o dono da Paraíba, ganha de qualquer um?! Como assim, tem adivinhão no bolso? Então me passa os números da mega-sena! Tudo blablabla!

Não falta, porém, quem pergunte, e com muita lógica: deixarão mesmo Ricardo Coutinho disputar a Prefeitura de João Pessoa, sobretudo diante de um favoritismo tão escancarado? Vocês acreditam mesmo que Ricardo será candidato?

Este é um prognóstico que não é fácil de se fazer. Vai depender de uma série de acontecimentos, inclusive, até onde poderá ir essa roda que já começa a girar ao contrário, sobretudo, depois que o InterceptBrasil expos as lambanças da Lava Jato, mostrando que Moro, mesmo na condição de magistrado, comandava operação, e possivelmente manobrou, junto com os procuradores, para botar Lula na cadeia, a fim de que ele não pudesse disputar à sucessão presidencial…

A partir de março, sobretudo, quando começa o novo ano produtivo (e eleitoral), muita coisa vai aparecer. Talvez até muito antes, para não dar muito na cara. As oposições vão se virar nos trinta para encontrar uma brecha para incriminar Ricardo Coutinho. Eles sabem que RC é páreo duríssimo e, chegando à cadeira hoje ocupada por Luciano Cartaxo, poderá voltar ao Governo.

Se as máscaras continuarem caindo até o início do ano que vem, acredito que o ex-governador Ricardo Coutinho sairá ilesos de todas as armações que possivelmente montarão.

Do contrário, até uma cadeia pode levar. Ora, Lula que é Lula foi preso, imagine Ricardo Coutinho…

História e textos maravilhosos

A coluna transcreve o genial Rascunho Epistemológico, de autoria do Jornalista, escritor e professor Wellington Pereira, intitulado “Sumé, Doutor Roquinho e o Pasquim – Um 7 de setembro nos tempos da Ditadura”. (*)

La vai:

“Nos anos 1970, o presidente do Brasil era o general Ernesto Geisel.
A Ditadura Militar já dava sinais de enferrujamento por conta das torturas e da corrupção nos quartéis.

Geisel de formação presbiteriana tentava segurar a manada de gorilas com sangue nos lábios, ao mesmo tempo que articulava com seu feiticeiro Golbery do Couto e Silva, a distensão política.

A cidade de Sumé amanheceu embaixo de um sol filho do Eclesiastes no Cariri paraibano para celebrar o 7 de setembro – feriado nacional – mais um enxerto histórico para falar de nossa tomada oficial de poder pelos europeus.

No sol a pino, jovens moças vestindo trajes coloridos, rapazes em cores quase militares desfilaram por toda Rua Augusto Santa Cruz, construída nos moldes da Champs Elysée – Paris – até o buffet de Seu Barata (na praça dos franceses Mayer) para saudar as autoridades locais.

No Palaque improvisado no buffet, o prefeito Víton – homem culto, dos quadros da Arena 1,fez um discurso – como de praxe – cuja extensão só perdia para os de Fidel Castro. Depois falaram, o coletor, o padre, o médico.

Como juiz não era bom de oratória facultou a palavra ao promotor Doutor Roquinho, que amava os Beatles e os Rolling Stones.

Doutor Roquinho, que já tinha tomado uns ‘uscos’- como chamava Zé de Hosana – amigo da eminente autoridade – não se fez de rogado: lascou o pau na Ditadura Militar, disse os fins: Geisel era um pastor alemão, Golbery, um vendido aos EUA, pediu a libertação dos presos políticos e recomendou, aos seus alunos do Colégio Estadual, para não assistir ao programa Flávio Cavalcanti (TV TUPI), mas que lessem o Pasquim.
O padre se benzeu, o coletor botou a mão no bolso, Mané Gravata – o único membro da Guarda-Municipal – tirou o quepe. Mas o prefeito fez sinal e a Filarmônica São Thomé cortou as últimas frases do discurso de Doutor Roquinho.

Terminada a cerimônia oficial, Doutor Roquinho foi carregado nos Braços por seus alunos até a Sorveteria de Silvio Braz para tomar umas cervejas e saber que novidade era aquela: o Pasquim.

(*) O Pasquim foi um dos primeiros jornais alternativos a enfrentar a Ditadura Militar. Era um tabloide (no sentido brasileiro) que fazia duras críticas ao governo Militar. A maioria de seus colabores, entres eles Jaguar, Caetano Veloso, Henfil, Betinho, lutava pela redemocratização do país.

Há uma importante tese em nível de doutoramento defendida pelo ex-professor da UFPB José Luiz Braga em Paris – nos anos 1980 sobre o Pasquim.

 

Welligton Faria