Delator da JBS afirma que atual ministro da Ciência e Tecnologia recebeu mesada de R$ 350 mil quando era prefeito de São Paulo. Kassab nega. Veja

Futuro secretário estadual da Casa Civil no governo de João Doria, Gilberto Kassab,  é suspeito de ter recebido até R$ 58 milhões ilegais da J&F. Ele nega
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Futuro secretário estadual da Casa Civil no governo de João Doria, Gilberto Kassab, é suspeito de ter recebido até R$ 58 milhões ilegais da J&F. Ele nega

A Polícia Federal fez buscas e apreensões no apartamento do atual ministro da Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab (PSD), em São Paulo, na manhã desta quarta-feira (19). A ação é consequência do depoimento de um delator da JBS que afirma que o política recebeu mesada de R$ 350 mil entre 2010 e 2016, começando quando ainda era prefeito de São Paulo, em troca da defesa dos interesses do grupo.

Além do apartamento de Gilberto Kassab, os policiais também estiveram na residência de Renato Kassab, irmão do  futuro secretário estadual da Casa Civil na gestão do governador eleito João Doria (PSDB). Ao todo, os agentes de PF cumprem oito mandatos na capital paulista, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, em São José do Rio Preto, no interior, e em Natal, no Rio Grande do Norte.

A ação da Polícia Federal ocorreu após petição da procuradora-geral da República (PGR), Raquel Dodge, onde ela afirma que os colaboradores premiados Wesley Batista e Ricardo Saud informaram ter repassado R$ 58 milhões ao ministro em duas situações distintas.

Primeiro, em forma de mesada de R$ 350 mil, realizada ilegalmente através de contratos fictícios de alugueis de caminhões com a empresa Yape Transportes, ligadas ao político, totalizando R$ 30 milhões. Os policias investigam se a Yape Consultoria, também de Kassab, também foi utilizada no esquema.

Depois, o ministro Gilberto Kassab também teria vendido o apoio político do PSD ao PT na campanha de reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2014. Os pagamentos teriam sido realizados pela J&F por meio de doações oficiais do partido totalizando outros R$ 28 milhões.

 

Em nota a Procuradoria-Geral da República (PGR) afirmou que “o objetivo dos pagamentos era contar com poder de influência do ministro em ‘eventual demanda futura de interesse do referido grupo’. Para viabilizar os repasses, os envolvidos celebraram contrato fictício de prestação de serviços com uma empresa do ramo de transportes que possuía relação comercial com a J&F”.

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a ação dos policiais com base no inquérito que investiga se Kassab cometeu corrupção passiva, lavagem de dinheiro e caixa-dois. Moraes também determinou a quebra de sigilo bancário e telefônica de Kassab e das empresas investigadas de fazerem o repasse financeiro.

Os policiais chegaram por volta das 6h, mas não conseguiram cumprir os mandados de imediato porque o apartamento estava fechado. O advogado do ministro chegou à residência, no Itaim Bibi, zona sul de São Paulo, pouco antes das 7h e entrou sem falar com a imprensa. Ele acompanhou o cumprimento do mandado de busca.

O ministro, por sua vez, disse por telefone que está em Brasília e, por isso, não acompanhou a ação dos agentes em sua casa, ele, no entanto, aproveitou para alegar inocência. “Ao longo de todos esses anos de vida pública não há nada que me comprometa no campo da imoralidade. Estou tranquilo porque sempre respeitei os princípios da ética. Estou à disposição do Ministério Público e do Poder Judiciário. Não há nada que macule minha imagem”, disse.

Considerado um homem forte do futuro governo de João Doria (PSDB) devido às suas habilidades de negociação,  Gilberto Kassab (PSD) será o articulador político do Palácio dos Bandeirantes com os deputados na nova Assembleia Legislativa diplomada na tarde da última segunda-feira (18) após o resultado das eleições 2018.