Odara Gallo é mãe de Franco, de 3 anos, diagnosticado com autismo, e escreve sobre a experiência às sextas no Delas
– Autista? Imagina! Ele não fica no “mundo dele”, é sorridente, interage com a gente!
Essa normalmente é a reação das pessoas diante do diagnóstico do Franco. Com cuidado e compreensão, tentamos explicar que existem vários níveis de autismo e que ele tem muitas das características. A negação rapidamente se transforma em um sentimento de “pode acontecer com qualquer um então!”.
Franco
Arquivo pessoal/Odara Gallo
Franco
E vem a pergunta:
– Como vocês suspeitaram?
Os sinais. Eles apareciam e se confundiam com “coisa de criança”, com “daqui a pouco passa”, com “isso é normal”, com “é o jeitinho dele”, com “isso é inteligência demais”. Todos os traços, leves ou severos, se uniram para se transformar em diagnóstico anos mais tarde.
+ Num dia Franco era uma criança diferente. No seguinte, eu era mãe de um autista
Franco não atendia sempre que chamávamos, só quando queria. (Concentrado!)
Brincava sozinho e se desinteressava quando tentávamos brincar junto. (Independente!)
Alinhava todos os bonecos, milimetricamente, em vez de fazer de conta que eram personagens. (Organizado!)
Não levava as coisas sozinho à boca. Só comia a papinha que já estava habituado e quando dávamos a ele. (Preguiçoso!)
Sempre foi apegado às rotinas. Não lidava bem quando os rituais diários saíam da ordem. (Puxou o pai!)
Franco vendo TV (confortavelmente?) com 1 ano e meio
Arquivo pessoal/Odara Gallo
Franco vendo TV (confortavelmente?) com 1 ano e meio
Não queria saber de falar. Mais do que isso, não se interessava em comunicação, mostrar o que queria etc. (Menino demora mais pra falar mesmo, né?)
Durante um bom tempo, andava para todo lado com um objeto azul em uma das mãos e vermelho na outra. Se pegava algo azul, corria para procurar algo vermelho. (É…)
Não tocava em nenhum alimento, seco, molhado, fruta, legume. Com dois anos, já sentia vontade de comer algo e superou o asco de tocar no alimento. Em vez de levar à própria boca, matava sua vontade dando para o pai ou a mãe comer. (Hum…)
Usava nossas mãos como instrumento para pegar as coisas que queria e que estavam ao alcance. (…)
“As frases eram normalmente repetitivas, sem comunicação funcional, com padrão de ecolalia tardia. (Autismo)”
Começou a falar. As frases eram normalmente repetitivas, sem comunicação funcional, com padrão de ecolalia tardia. (Autismo)
Durante todo o processo, passamos pelas fases de preocupação excessiva, expectativa, dúvidas.
Exagero? Pais de primeira viagem com muito acesso à internet procurando pelo em ovo?
Mesmo com todos os sinais, o que mais me chamava atenção era o olhar. Era diferente. Percebia que Franco não tinha a mesma expressão das outras crianças. Um olhar profundo, sem aquela inocência característica, parecia já saber das coisas e achar tudo aquilo ao redor um saco. Quando não estava sorrindo, parecia não querer estar ali, como se tudo fosse monótono demais.
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Odara e o filho, Franco
Arquivo pessoal
Odara e o filho, Franco
*Odara Gallo é formada em Jornalismo desde 2006, mas só criou coragem para ter um blog dez anos depois, quando descobriu que seu filho, Franco, tinha Transtorno no Espectro Autista. Às sextas, escreve sobre sua experiência no Delas. “Num dia Franco era uma criança diferente. No seguinte, eu era mãe de uma criança autista. Um pouco do que aconteceu dentro de mim com essa mudança quis sair e se desenhar em palavas. Nasceu esse blog. Quê Cê Qué?”
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