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Desemprego e perda de renda assombram quem sobrevive do câncer

Vagner Rodrigues, diagnosticado com leucemia-linfoma há 10 anos, mudou-se com mulher e filhos para a casa dos pais

Sobreviventes do câncer convivem com mais um fantasma além do medo do retorno do tumor: o desemprego e a redução da renda.

Estudo feito em 12 países com 1.273 mulheres que tiveram câncer de mama mostra que, entre as brasileiras, 66% tiveram o trabalho interrompido (decisão própria ou demissão) após o diagnóstico. Para 57%, houve redução de renda, e 92% foram obrigadas a adaptar os gastos.

“Normalmente se fala no custo da doença para os convênios ou para a máquina pública, mas pouca atenção é dada ao lado do paciente”, diz a mastologista Maira Caleffi, que coordenou o estudo na América Latina.

É a primeira vez que uma pesquisa científica aborda o tema no Brasil. Ela será apresentada no próximo dia 10 em simpósio de câncer nos EUA.

Outros trabalhos internacionais vão na mesma linha. Estudo da Universidade de Michigan mostra que um terço de 746 sobreviventes do câncer de mama perdeu o emprego após o diagnóstico.

Em pesquisa na Alemanha, com 55 homens que tiveram câncer de cabeça e pescoço, só 1 a cada 3 que tinham emprego quando o tumor foi encontrado seguia trabalhando cinco anos depois.

Embora o câncer acometa a maior parte de suas vítimas em uma idade mais avançada, um terço delas enfrentará a doença antes dos 60.

“Soma-se a isso o fato de que as novas drogas estão aumentando a sobrevida dos doentes”, diz Caleffi.

Segundo Marcello Ferretti Fanelli, diretor de oncologia clínica do A.C. Camargo Cancer Center, a perda de renda preocupa mesmo quem se mantém no emprego. “As despesas com o tratamento são grandes. Muitos medicamentos e procedimentos não são cobertos pelo plano nem pelo SUS”, afirma.

Ele diz que há empresas que apoiam empregados com câncer, ajudando com remédios, por exemplo. Mas não é a regra: “Há muitos maus patrões. E maus empregados, também, que usam a doença para obter benefícios”.

A questão chegou aos tribunais do trabalho. Tem sido crescente o número de decisões obrigando empresas a reintegrar trabalhadores que tiveram câncer e foram demitidos sem justa causa após o diagnóstico da doença.

UOL