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A boate Passargada (segunda parte) Marcos Pires

A boate Passargada (segunda parte)

 

 

A boate era subterrânea. Localizada em meio a um enorme terreno vazio, a única parte visível para quem passava pela av. Epitácio Pessoa era seu teto metálico que parecia uma pirâmide. Porém as lateais não se encontravam, dando espaço a um “pano” de vidro enorme, que permitia aos frequentadores verem as estrelas e a lua. Instalamos 6 aparelhos de ar, cada um deles com 30 mil BTUs. Eram ligados às 5 da tarde e só abríamos as portas as 10 da noite. Criamos assim um clima privilegiado que dava conforto, permitia ao povo usar roupas mais elegantes e eu…kkkk, faturava bastante porque o consumo etílico aumentava exponencialmente. Descendo os degraus chegava-se à boate, totalmente escura, onde a iluminação era indireta. A pista de dança tinha a forma de uma elipse feita de um material transparente, ajustada sobre um lago onde havia um conjunto de luzes coloridas. Arrodeando aquela elipse uma cascata de água caia do teto em direção a uma pequena vala no chão, de onde uns aspersores jogavam jatos de água para cima, fazendo com que os clientes tivessem a sensação de que estavam dançando embaixo de uma cachoeira. Só havia o espaço de um metro para que eles entrassem e saíssem do dancing. O som foi especialmente planejado e construído para o local, possibilitando que dentro do dancing funcionasse mais alto e nas mesas mais baixo, permitindo conversar. Imaginem então, leitores queridos, desenvolver tecnologia em 1977 para juntar água, luz e som num funcionamento perfeito. Eu tinha duas opções; ou iria em busca dos engenheiros da NASA ou então… contratava os Monteiros. Emerson, Fernando e Jensen juntaram-se para realizar aquele sonho. Há muito mais a descrever, porém deixarei para depois, porque preciso de espaço para contar mais um pouco das fofocas da época.

A primeira delas diz respeito à chegada de Rose di Primo e das outras supermodelos para a inauguração da boate. Elas incendiaram os homens paraibanos. De repente eu passei a ser adulado pelos bacanas, dos milionários aos falsos ricos. Mas não havia muita margem de manobra. A lista de convidados para a inauguração era pequena e exclusiva, porque a lotação da Passargada era limitada. Tentei explicar isso e quase todos entenderam a situação. Porém houve um mais insistente, muito rico e muito ignorante, que chegou ao absurdo de me propor “desconvidar” alguém e colocá-lo na lista. Me pagaria o equivalente a dois mil dólares. Vendo que eu não cederia, desabafou: “- Menino, tu fica com o dinheiro porque na verdade eu num quero ir na boate. Nem sei dançar. Eu quero é que tu estrume aquela muié neu!”.

Dançou, né?