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ZÉ CAVALCANTE, O FILÓSOFO SERTANEJO ( Rui Leitão)

José Cavalcante, sertanejo de São José de Piranhas, nascido em 1918, chamava a atenção pelo seu jeito próprio de falar e de escrever. Foi político em Patos, mas após sua cassação pela ditadura militar, passou a residir na Capital dedicando-se à literatura.

Exímio contador de “causos”, retratava inteligentemente o pensamento popular, mais particularmente do chamado “matuto”, o indivíduo nascido e criado no interior. A sua experiência no mundo da política permitiu-lhe também publicar livros em que contava estórias engraçadas que vivenciou nos palanques, na tribuna da Assembleia Legislativa e no relacionamento com os eleitores. Descrevia fatos da vida sertaneja, na linguagem popular, aproveitando-se de sua fantástica memória. Era autêntico, alegre, simples, uma figura que conquistava a todos com sua forma de se comunicar.

Ao ingressar na politica, a convite de Ernani Sátiro, foi eleito para os cargos de deputado estadual pela UDN por três mandatos consecutivos, até 1963, quando renunciou pra assumir o cargo de prefeito de Patos, para o qual acabara de ser eleito. Em 1968 teve seus direitos políticos cassados. Após cumprir o período de cassação que lhe foi imposto, decidiu, em 1986, candidatar-se a deputado estadual, não conseguindo se eleger. Afastou-se, então, definitivamente das atividades políticas, exilando-se em João Pessoa e se dedicando a escrever e falar das coisas do povo sertanejo, publicando seus “causos” nas páginas do Correio da Paraíba e O Norte, com o pseudônimo de “Zé Bala”.

Publicou vinte e seis livros: Espalha Brasas, Potocas, piadas e pilhérias; Casca e nó; Sem peia e sem cabresto; Bicho do cão; Gaveta de sapateiro; Bisaco de cego; Quengada de matuto; Papo furado; Rabo cheio; Caga-fogo; Busca-pé; Um setentão; A Política e os políticos; Pais tolos, filhos sabidos; Curupaco papaco; As potocas de seu Zé; 350 lorotas políticas; Discurso acadêmico; Pensamentos avulsos; Sabedoriapopular; Sertanejadas.” Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraíbano, do Instituto de Genealogia e Heráldica da Paraíba e da Academia Paraibana de Letras.

Na sua produção literária, destacamos algumas frases interessantes, engraçadas, embora tratassem de temas sérios, expressando com inigualável senso de humor, conceitos populares da política e dos políticos. “A bajulação política é como labareda, destrói quem a abraça”. “A vaidade política é como água salgada; quanto mais se bebe, mais aumenta a sede”. “Político em campanha é como motorista de taxi, se oferece sem ser chamado”. “Um contraste de quase todo político: amar a traição e odiar o traidor”. “O político é um sujeito que pensa uma coisa, diz outra e faz o contrário”. “A política é como mulher bonita: desejada duas vezes, uma pelo que mostra e outra pelo que esconde”.

Faleceu no último dia do ano de 1994, em João Pessoa, deixando inédita grande produção literária. José Cavalcanti da Silva foi personalidade marcante na vida política e literária da Paraíba e será sempre lembrado como um dos grandes folcloristas de nossa terra.

Rui Leitão