“O Rio de Janeiro continua sendo…”
O Estado brasileiro precisa reconhecer a declaração de guerra feita pelos bandidos no Rio de Janeiro.
O estado de guerra civil já existe há muito tempo — desde que, há quase cinquenta anos, a polícia foi contida na defesa da população carioca, especialmente a mais pobre, que vive nas favelas.
Algumas estatísticas afirmam que quase metade da população brasileira vive, atualmente, sob o controle do tráfico. Nesses espaços geossociais e políticos, ninguém questiona a soberania. Das contas de luz, gás e água a serviços como internet, mercados, vigilância e trânsito — tudo é gerenciado pelo tráfico, em regime de monopólio.
Mesmo serviços puramente estatais, como a solução de litígios, são prestados pelas facções.
Outro ponto ainda mais grave: não é possível rejeitar os serviços nem deixar o território.
Lembra o cangaço, há cem anos.
Os cangaceiros já estão “altarizados” como heróis. Os traficantes são os próximos candidatos ao panteão.
A guerra civil, visível a olho nu e comprovada por números oficiais, alarma qualquer observador, por mais comedido que seja. Considerados os mesmos períodos, é bem possível que mais brasileiros tenham sido assassinados pela violência civil do que ucranianos na guerra.
A mídia, contudo, só destaca o que interessa — Gaza, a Ucrânia — porque é paga para isso.
Não por menos, a “Flotilha Instagrâmica da Greta” e o “Estadista de Botequim”, cujo exército não tem orçamento para o próximo mês, já prometeram resolver ambos os casos com “stories” e “uma cervejinha”. Nenhum deles chegou lá.
Mas essa é a política de “visão”.
Há cinquenta anos o Rio sofre disso. A deslegitimação da polícia como órgão de manutenção da segurança pública é a cereja do bolo.
Insisto: há, no Brasil, o usuário do tráfico — e o usuário da violência.
O que se gasta com segurança individual, coletiva e pública, e o que se perde com a corrupção somam uma parcela considerável do PIB. Projeções, mesmo conservadoras, chegam a 50%.
Se o PIB brasileiro é, hoje, em torno de 10 trilhões de reais, esse número corresponde a quase 5 trilhões — daria para pavimentar o Brasil com notas de 1 real.
Mas isso não pontua o desejo do eleitor.
Este está mais preocupado em ser atendido no hospital público por intermédio do cabo eleitoral, ou em arrumar um emprego.
Enquanto isso, a guerra está nas ruas — insidiosa e covarde — onde bandidos são considerados vítimas e os honestos, desamparados.
Essa hipermetropia política e ativista é um sério dano à visão da realidade do país, enquanto as instituições oficiais vivem em um universo paralelo.
Vem, Greta — traz a flotilha e algumas cervejinhas. Precisamos resolver a nossa guerra.

Por Irapuan Sobral