Neti Rahmi conta como sobreviveu à tragédia ao lado do irmão e fala da saudade de seus pais, que jamais foram encontrados
Quando o chão começou a tremer naquele 26 de dezembro de 2004 na província de Aceh, Indonésia, a jovem Neti Rahmi, à época com 20 anos, se sentiu tonta.
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O tremor era tão forte que o lustre da sala de estar dos Rahmi começou a balançar violentamente de um lado para o outro. A família decidiu correr para a calçada, temendo que o objeto e o teto caíssem sobre suas cabeças. Ali, eles pensavam, estariam mais seguros.
A sensação de alívio, porém, logo foi substituída pela da angústia quando ouviram ruído que lembrava a queda de uma enorme cachoeira. Ao olharem para o horizonte na direção da praia, avistaram um inacreditável paredão de água se aproximar e engolir, em minutos, o vilarejo onde viviam, no extremo norte da ilha de Sumatra.
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“Não tivemos tempo de escapar. A água nos chicoteou enquanto eu estava abraçada aos meus pais. Depois disso, nos soltamos. Foi a última vez que os vi”, lembra Neti durante sua conversa com o iG.
Naquele domingo ensolarado, o abalo de 9,1 na escala Richter atingiu, além da Indonésia, outros 13 países como Sri Lanka, Índia, Tailândia, Madagascar, Maldivas, Malásia, Mianmar, Seicheles, Somália, Quênia, Tanzânia e Bangladesh. Na costa da Indonésia, as ondas de até 30 metros avançaram 12 quilômetros no território da província de Aceh, área mais devastada pelo tsunami.
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O fenômeno deixou ao menos 230 mil mortos – cerca de 37.087 na Indonésia, até 23.231 no Sri Lanka, pelo menos 12.405 na Índia, e aproximadamente 5.395 na Tailândia. Esses foram os países mais atingidos pelo fenômeno. Distante 200 quilômetros do epicentro do terremoto, a superpovoada faixa costeira da Indonésia e seus 800 quilômetros de extensão ficou plana devido ao impacto das ondas.
Tragada pelo tsunami, Neti não pensou em outra alternativa a não ser manter o ar nos pulmões o máximo de tempo possível enquanto tentava alcançar um objeto sólido no qual pudesse voltar para a superfície. Após longos minutos sem respirar, a jovem foi levada pela correnteza até um coqueiro, de onde só saiu quando a água recuou e uma equipe de resgate a socorreu, várias horas após o desastre.
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“Fiquei agarrada à árvore. Tenho várias cicatrizes pelo corpo, principalmente nos braços e pernas. Mas a pneumonia foi o que mais me preocupou”, explicou.
Depois do diagnóstico, Neti foi transferida para um hospital de referência em Jacarta, capital do país. Ao lado do irmão, encontrado após seu resgate, ela ficou internada por dois meses até ter alta. A partir daí, o problema dos dois não foi apenas físico, mas emocional: superar o desaparecimento dos pais.
Segundo a sobrevivente, familiares e amigos próximos fizeram longas buscas pela vizinhança e cidades próximas a Aceh durante vários dias em busca de notícias ou dos corpos. Mas eles jamais foram encontrados.
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“Nunca mais ouvimos falar deles. Assumimos então que se eles estivessem vivos, teriam nos procurado. Foi o pior momento de nossas vidas”, admitiu.
Prejuízo
Após o tsunami, 2 milhões de indonésios ficaram sem abrigo e 500 mil construções foram destruídas. O prejuízo à época foi avaliado em cerca de US$ 10,7 bilhões. No Sri Lanka, onde até 35 mil foram mortos, os custos chegaram a 1,5 bilhão de dólares enquanto a Índia teve 2,6 bilhões de dólares em danos.
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Dez anos após o desastre, Neti conta que sua cidade foi totalmente reconstruída e quase não se vê resquícios da tragédia de 2004 a não ser, claro, pelas obras em memória das vítimas, pontos turísticos relacionados ao tsunami e prédios antigos que foram preservados.
Hoje com 30 anos, Neti vive em Yangon, Mianmar, desde 2011, onde trabalha como chefe de Assuntos Consulares da Embaixada da República da Indonésia. Apesar de viver à sombra de seu passado, ela afirma ter saído mais forte dessa experiência.
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“Era tão jovem quando o tsunami aconteceu. Eu não tinha prioridades ainda”, afirmou. “Espero não ter de experimentar uma tragédia dessa novamente. Mas, se Allah, o Todo poderoso, decidir que preciso viver tudo isso mais uma vez, espero ser forte o suficiente para enfrentar mais esse obstáculo”, refletiu.
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– iG São Paulo