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“Sobrevivi abraçada a coqueiro”, lembra vítima do tsunami de 2004 na Indonésia,

TSUNAMI

 

Neti Rahmi conta como sobreviveu à tragédia ao lado do irmão e fala da saudade de seus pais, que jamais foram encontrados

Quando o chão começou a tremer naquele 26 de dezembro de 2004 na província de Aceh, Indonésia, a jovem Neti Rahmi, à época com 20 anos, se sentiu tonta. 

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Arquivo pessoal

Após o tsunami de 2004, Neti Rahmi, com então 20 anos, nunca mais teve notícias dos pais

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O tremor era tão forte que o lustre da sala de estar dos Rahmi começou a balançar violentamente de um lado para o outro. A família decidiu correr para a calçada, temendo que o objeto e o teto caíssem sobre suas cabeças. Ali, eles pensavam, estariam mais seguros.

A sensação de alívio, porém, logo foi substituída pela da angústia quando ouviram ruído que lembrava a queda de uma enorme cachoeira. Ao olharem para o horizonte na direção da praia, avistaram um inacreditável paredão de água se aproximar e engolir, em minutos, o vilarejo onde viviam, no extremo norte da ilha de Sumatra.

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“Não tivemos tempo de escapar. A água nos chicoteou enquanto eu estava abraçada aos meus pais. Depois disso, nos soltamos. Foi a última vez que os vi”, lembra Neti durante sua conversa com o iG.

Naquele domingo ensolarado, o abalo de 9,1 na escala Richter atingiu, além da Indonésia, outros 13 países como Sri Lanka, Índia, Tailândia, Madagascar, Maldivas, Malásia, Mianmar, Seicheles, Somália, Quênia, Tanzânia e Bangladesh. Na costa da Indonésia, as ondas de até 30 metros avançaram 12 quilômetros no território da província de Aceh, área mais devastada pelo tsunami. 

 

Imagens feitas por satélites, mostram regiões da Indonésia antes e depois do Tsunami de 2004. Foto: Nasa
Impacto da onda gigantesca foi tão grande que alterou quadro geográfico da Indonésia (arquivo). Foto: Nasa
Imagens mostram o antes e o depois de regiões atingidas pelo tsunami da Indonésia (arquivo). Foto: Nasa
Corpos estendidos após tsunami da Indonésia (arquivo). Foto: Wikimedia Commons
Destroços tomaram conta de cidade da Indonésia após tsunami de 2004 (arquivo). Foto: Reprodução/Youtube
Onda gigante atinge a costa da Tailândia, um dos 13 países atingidos pelo tsunami (arquivo). Foto: Wikimedia Commons
Pai atravessa com filhas rua inundada em distrito comercial de Jacarta (17/01/2013). Foto: Reuters
Equipes de resgate atuam no litoral da Indonésia (arquivo). Foto: Wikimedia Commons
Mesquita Grand Baitul Makmur, em Meulaboh, após tsunami de 2004 que destruiu a Indonésia (arquivo). Foto: Wikimedia Commons
Rua do centro de Banda Aceh, Indonésia, após tsunami (arquivo). Foto: Wikimedia Commons
Restos de casa em Aceh, Indonésia, um ano após tsunami (arquivo). Foto: Wikimedia Commons
Jamaliah, à esq., beija a filha Raudhatul Jannah, 14, que reencontrou após dez anos. A menina sumiu durante o tsunami de 2004, em Banda Aceh (8/08). Foto: Reuters
Homem ajuda criança a sair de local alagado após tsunami da Indonésia (arquivo). Foto: Reprodução/Youtube
Idoso é retirado do local alagado após onda gigante atingir área da Indonésia em 2004 (arquivo). Foto: Reprodução/Youtube
Homem tenta driblar correnteza após onda atingir a Indonésia (arquivo). Foto: Reprodução/Youtube
Criança desacordada é retirada da água após tsunami atingir Aceh, Indonésia (arquivo). Foto: Reprodução/Youtube
Imagens postadas no YouTube mostram o momento em que as ondas invadiram o litoral da Indonésia (2004). Foto: Reprodução/Youtube
Resorts foram invadidos pelas ondas gigantescas vindas da praia (arquivo). Foto: Reprodução/Youtube
As ondas ultrapassaram os 30 metros na Indonésia, um dos 13 países atingidos pela tragédia (2004). Foto: Reprodução/Youtube
Milhares de mortos foram confirmados em vários países, inclusive na Indonésia (arquivo). Foto: Reprodução/Youtube
Imagens feitas por satélites, mostram regiões da Indonésia antes e depois do Tsunami de 2004. Foto: Nasa
 
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O fenômeno deixou ao menos 230 mil mortos – cerca de 37.087 na Indonésia, até 23.231 no Sri Lanka, pelo menos 12.405 na Índia, e aproximadamente 5.395 na Tailândia. Esses foram os países mais atingidos pelo fenômeno. Distante 200 quilômetros do epicentro do terremoto, a superpovoada faixa costeira da Indonésia e seus 800 quilômetros de extensão ficou plana devido ao impacto das ondas.

Tragada pelo tsunami, Neti não pensou em outra alternativa a não ser manter o ar nos pulmões o máximo de tempo possível enquanto tentava alcançar um objeto sólido no qual pudesse voltar para a superfície. Após longos minutos sem respirar, a jovem foi levada pela correnteza até um coqueiro, de onde só saiu quando a água recuou e uma equipe de resgate a socorreu, várias horas após o desastre.

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“Fiquei agarrada à árvore. Tenho várias cicatrizes pelo corpo, principalmente nos braços e pernas. Mas a pneumonia foi o que mais me preocupou”, explicou.

Depois do diagnóstico, Neti foi transferida para um hospital de referência em Jacarta, capital do país. Ao lado do irmão, encontrado após seu resgate, ela ficou internada por dois meses até ter alta. A partir daí, o problema dos dois não foi apenas físico, mas emocional: superar o desaparecimento dos pais. 

Segundo a sobrevivente, familiares e amigos próximos fizeram longas buscas pela vizinhança e cidades próximas a Aceh durante vários dias em busca de notícias ou dos corpos. Mas eles jamais foram encontrados.

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“Nunca mais ouvimos falar deles. Assumimos então que se eles estivessem vivos, teriam nos procurado. Foi o pior momento de nossas vidas”, admitiu.

Prejuízo

Após o tsunami, 2 milhões de indonésios ficaram sem abrigo e 500 mil construções foram destruídas. O prejuízo à época foi avaliado em cerca de US$ 10,7 bilhões. No Sri Lanka, onde até 35 mil foram mortos, os custos chegaram a 1,5 bilhão de dólares enquanto a Índia teve 2,6 bilhões de dólares em danos. 

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Dez anos após o desastre, Neti conta que sua cidade foi totalmente reconstruída e quase não se vê resquícios da tragédia de 2004 a não ser, claro, pelas obras em memória das vítimas, pontos turísticos relacionados ao tsunami e prédios antigos que foram preservados.

 

Hoje com 30 anos, Neti vive em Yangon, Mianmar, desde 2011, onde trabalha como chefe de Assuntos Consulares da Embaixada da República da Indonésia. Apesar de viver à sombra de seu passado, ela afirma ter saído mais forte dessa experiência.

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“Era tão jovem quando o tsunami aconteceu. Eu não tinha prioridades ainda”, afirmou. “Espero não ter de experimentar uma tragédia dessa novamente. Mas, se Allah, o Todo poderoso, decidir que preciso viver tudo isso mais uma vez, espero ser forte o suficiente para enfrentar mais esse obstáculo”, refletiu.

Por Amanda Campos – iG São Paulo