Marinho Mendes Machado
Prefeito Luciano Cartaxo, nunca lhe pedi nada, nem o conheço pessoalmente, nunca o vi, mas ouso lhe encaminhar da forma mais humilde, com a alma tocada de tristeza e com o mais agudo desalento (acreditava muito na sua sensibilidade e benevolência, mas não fio mais), a mais comedida e despretensiosa súplica: Pelo amor de Deus, páre com essas festas!
Sr. Alcaide, sou Promotor da Infância e da Juventude na cidade de Bayeux,talvez Vossa Excelência não saiba, mas sou. Quiça esse Burgomestre não tenha ciência, que lá na minha sala, passam dezenas de mães desesperadas, de pais enlouquecidos, com olhares perdidos, desorientados, com a auto-estima destruída, desesperançados, uma vez que filhas e filhos adolescentes, entre os 12 e 14 anos, simplesmente amanhecem o dia nessas suas folganças e outras simplesmente desaparecem, são aliciadas para motéis, arranjam colegas nessas festas e ficam com homens novos e velhos e outras se encharcam de drogas de todos os naipes, mas o Senhor não tá nem aí e eu que pensava na sua benignidade, tô um fosso de desapontamento.
A mídia noticiou, que somente nos primeiros 50 dias do seu mandato, o erário pessoense atirou no lixo (penso desta forma), a estonteante quantia de R$ 1.057.244 e que esse Cacutu desembolsou do dinheiro desse povo pobre e carente, mais de meio milhão de reais para duas bandas de nomes estrambóticos, Natirus e Sambô. Aqui prá nós: se esse dinheiro fosse seu, você contrataria por esse valor esses conjuntos musicais? É óbvio que o senhor balançaria a cabeça negativamente.
Caro Administrante, suas festas estão matando sonhos de famílias simples, uma mãe modesta ao extremo, teve sua filha de 13 anos atraída por um morador de bairro nobre e lá na sua casa, deflorou a quase criança. Ambas estão com impiedosa depressão. Mas o estupro descarado não foi com ninguém próximo, importante! Enquanto estupros coletivos são praticados nas augustas areias, aí onde o superintende máximo adora gastar os recursos que mataria fome, sede e exterminaria vergonhas, isto sem dó e sem compaixão, afinal, não são seus mesmo. Ao tempo que outras mancebas passam dias fora de casa, outras trazem “amigas” para suas casas ao alvedrio dos pais, todas vítimas dos seus festejos (hoje tive que retirar duas de Bayeux e solicitar ao Conselho tutelar que fosse deixá-las em seus aconchegos, onde encontraram mães com as mãos na cabeça) e daí minha meu pirronismo nesse gestor.
A imprensa do nosso sublime torrão nada notícia de políticas públicas para crianças e adolescentes. Quanto dinheiro que poderia abrir oportunidades, criar possibilidades de resgates, de acesso, tornar sonhos acalentados pelos necessitados realidade. Pasmem! gera efeito contrário, pois auxilia essa juventude a cada dia, ébria pelo ópio da sua propaganda e sem visibilidade do veneno que o senhor a oferece, eufórica, se entrega aos prazeres sexuais precoces, às drogas, causando estragos indeléveis em suas vidas e no seio das suas famílias esfaceladas, já que os reflexos dos seus folguedos, repercutem no interior desses lares, cujas faíscas vão afundando-os a cada dia.
Atenda minha simplória petição clamorosa! Rogo! pare com essas festas terrivelmente danosas à construção de uma mocidade sadia, e com essas fortunas, crie eventos educativos por meses a fio para esse público, construa centros da juventude, edifique escolas profissionalizantes de ponta em cada bairro populoso, para atender regiões carentes da comuna, funde a universidade municipal para a pobreza, também eleve com esmero e amor centros de tratamento de dependentes químicos, casas de acolhimento e de passagem para situações extraordinárias de abandono, riscos e vulnerabilidades, forneça transportes de qualidade grátis para participação em eventos culturais, educacionais, de construção de identidade, invente, planeje, projete. Fazer festas qualquer pródigo fanfarrão e exibicionista sabe fazer, notadamente quando o dinheiro não é dele.
Imploro! Pare com essas festas! já que elas estão condenando milhares de crianças e adolescentes à desonra, à ignomínia, à infâmia do atraso, do sepultamento de sonhos. Não é sensacionalismo, lhe convido para passar um dia no meu gabinete e verás a violência que são suas farras, pagas com os impostos que deviam servir à esse povo que o comedido e discreto mandatário jurou publicamente tirar das trevas da ignorância e da lama da miséria.
Venha conhecer os adolescentes sem nada, daqui de Bayeux e daí de Jampa, do Valentina, dos Cangotes, dos Rabos das Bestas, das Curvas dos “SS”, das vergonhosas cracolândias bem pertinho do Paço onde o gerente público tem pomposo gabinete, aí bem no coração da cidade de Nossa Senhora das Neves, e nas suas belas praias e sem dúvida, o maioral da administração pessoense se convencerá e cabisbaixo, vencido pelo pudor de nada ter feito por esse segmento, exclamará: “Marinho, você tem razão, quem quiser festa que pague, pois honra, caráter, honestidade, também passa por não se locupletar de divertimentos bancados com o dinheiro da massa famélica e ávida de instrução, e dirá ainda mais: Marinho, onde eu estava que não vislumbrei essas crianças e adolescentes desvalidos, que perdi um ano e nada fiz, nada gerei em seu favor e meus auxiliares também só viram sombras, trevas, não tiveram olhos para vê-los, e então acolherá o meu grito desesperado, mandando parar os descabidos saraus, antes que o descrédito seja geral e mais, dentro da minha reduzida esfera de atribuições, irei responsabilizar sua administração pelos danos irreparáveis causados a esses infantes e às suas famílias dignas dos seus olhares.