
Ex-governador Ronaldo Cunha Lima; foto: arquivo pessoal
Em uma trajetória política marcada por poesia e coragem, Ronaldo Cunha Lima inscreveu seu nome na história como o único político da Paraíba a ocupar, por eleição direta, os cargos de vereador, prefeito, deputado estadual, deputado federal, governador e senador. Todos os cargos em disputa no âmbito da Paraíba. Um feito inédito, que nenhum outro paraibano conseguiu repetir.
Nascido em Guarabira, em 18 de março de 1936, e radicado desde a juventude em Campina Grande, Ronaldo começou cedo sua jornada política. Aos 23 anos, foi eleito vereador de Campina Grande pelo PTB, com 952 votos, em 1959. Três anos depois, em 1962, chegou à Assembleia Legislativa da Paraíba como deputado estadual, cargo que exerceu por dois mandatos até 1969, quando teve seus direitos políticos cassados pela ditadura militar.
Em 1968, foi eleito prefeito de Campina Grande pelo MDB, por meio do sistema de sublegenda, mas seu mandato foi brutalmente interrompido menos de dois meses após a posse, em março de 1969, também por força do AI-5. Cassado, exilou-se politicamente por dez anos, vivendo no Rio de Janeiro como advogado, até ser anistiado.
Com a redemocratização, voltou à política nos braços do povo: foi novamente eleito prefeito de Campina Grande em 1982, agora pelo PMDB, com ampla maioria. Deixou o cargo em 1988, passando o bastão ao filho Cássio Cunha Lima, então com apenas 23 anos.
Em 1990, protagonizou uma das disputas eleitorais mais emblemáticas da história recente da Paraíba, derrotando o ex-governador Wilson Braga no segundo turno e se tornando o 42º governador do Estado. Renunciou ao mandato em 1994 para se candidatar ao Senado Federal, sendo eleito com folga.
Após o mandato no Senado, voltou à Câmara dos Deputados, sendo eleito deputado federal em 2002 e reeleito em 2006. Foi um político que encantava com a palavra e que misturava, sem cerimônia, o lirismo da poesia com os jogos de poder.
Publicou dezenas de livros de poesia, foi membro da Academia Paraibana de Letras e teve como uma de suas marcas o dom de transformar atos administrativos em versos. Deixou como legado o Parque do Povo, a institucionalização do São João de Campina Grande e uma extensa obra política e cultural.
Faleceu em 7 de julho de 2012, vítima de um câncer no pulmão, aos 76 anos. Foi velado e sepultado sob comoção popular. Ao morrer, deixou uma biografia única entre os políticos paraibanos — e uma trajetória que o inscreve no panteão das figuras mais relevantes da política brasileira.
Ronaldo Cunha Lima foi, como gostava de se autodefinir, um poeta. Mas foi também muito mais do que isso: foi um operário da política, um personagem de sua época, um construtor de narrativas e um estrategista habilidoso. Uma figura que o tempo, com todos os seus julgamentos, ainda não conseguiu reduzir à simplificação. Ele foi múltiplo. E, sobretudo, singular.
Estreia hoje curta que resgata o legado do poeta e político
Nesta sexta-feira (8), às 19h, no Teatro Municipal Severino Cabral, em Campina Grande, será lançado o curta-metragem Habeas Pinho, que homenageia o legado literário e humano de Ronaldo Cunha Lima. A obra, dirigida por Aluízio Guimarães e Nathan Serino, tem produção de Gal Cunha Lima e conta com Lucas Veloso no papel principal. A entrada é gratuita e aberta ao público.
Por Fonte83 – 08/08/2025