
EM 2010, EM UMA EXPEDIÇÃO franco-brasileira que participei, organizada pelo amigo arqueólogo, Prof. Juvandi de Souza Santos, fizemos uma volta pelo nordeste por terra; indo e voltando para o sudeste no Piauí, notadamente para visitar o Parque Nacional Serra da Capivara. No caminho de ida, fomos palmilhando as estradas, passando por cidades e, chegando a Remanso/BA, perto do meio dia, resolvemos parar para almoçar, o que fizemos às margens do Rio São Francisco, não sem antes nos banharmos rapidamente, sentindo a energia do Velho Chico, no calor dos 39ºC. Foi ali meu primeiro contato com esse grande e insondável rio.
Há um mês, junto a uma expedição PB/AL do grupo Borborema Cangaço, composto por seu presidente Julierme do Nascimento, Grijalva Maracajá, Inácio Gonçalves, Roniere Leite e eu, partimos de Campina Grande para Piranhas/AL e o objetivo foi conhecer seu patrimônio histórico, a rota do cangaço, mas, sobretudo, a Grota de Anjicos, local onde Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros encontraram o caminho da morte através das armas da volante, que chegou cedo ao pousio do grupo de Lampião e pegou todo mundo desprevenido. O restante conseguiu fugir. Mas para chegar no lado sergipano onde ocorreu a contenda, no município de Poço Redondo, é preciso atravessar um trecho do baixo Rio São Francisco entre Piranhas/AL e Canindé de São Francisco/SE. Para a jornada, fretamos um pequeno e eficiente barco no qual o simpático Mateus nos conduziu.

Como é impressionante e enigmático navegar no Velho Chico. Em cada curva ele revela uma de suas surpresas. Inúmeras e aconchegantes prainhas povoam suas margens, umas maiores, outras não tem quinze metros, entre inúmeras pedras lisas que ajudavam a empurrar as águas quando em forma de lajedos, ou disciplinando a passagem da água em blocos maiores, refúgio de peixes. Os acessos às prainhas se escondem em meio a vegetação espinhosa e aos paredões que lhe emolduram. Muralhas enfeitadas de xique-xiques, alastrados, algumas árvores como o angico, uma craibeira destacando seu amarelo e uma série de arbustos. Em algumas prainhas era possível ver tendas onde alguns habitantes locais se deleitavam. Por falar em vegetação, eu que moro no semiárido, fiquei maravilhado como em um ambiente de caatinga em que viajamos e na descida para Piranhas Velha, as ruas são ladeadas de um lado por construções centenárias e à esquerda cactáceas de vários tipos se apegando às pedras, de repente nos deparamos com um rio tão caudaloso, tão pujante, tão belo. No Rio da integração nacional suas águas possuem temperatura amena, mesmo por volta das onze da manhã.
















Clique na imagem para ampliar. Rio São Francisco – TB
Estiquei meu braço para tocar suas águas, me energizei com a ancestralidade e a história que aquelas águas nos ofertam e que tantas civilizações a buscaram no passado. Caminhos por onde os colonizadores conheceram o âmago de nossas terras e hoje essencial para os estados vizinhos, presenteando e repartindo sua riqueza, através da transposição que, aqui na Parahyba, entra por dois trechos, no Sertão pelo município de São José de Piranhas, indo ao encontro do Rio Piranhas e nos Cariris Velhos pelo município de Monteiro, buscando o nosso rio maior, o Rio Parahyba, de onde a água segue o leito passando por alguns açudes e do açude de Boqueirão bebemos suas águas.

No Velho Chico, víamos embarcações de passeio coletivo, pequenos barcos à remo cortavam seu leito de um lado a outro e, às margens, avistava-se canoas estacionadas por seus donos, pescadores que manuseavam suas redes mansamente. Sem camisa, nem davam fé do sol quente que fazia.
Bem no meio entre margens, me vem um misto de euforia e medo, mas também de contemplação. Suas águas abastecem o corpo e a alma, o imaginário e a cultura por onde passa. Aventura inesquecível.
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Publicado na coluna ‘Crônica em destaque’ do Jornal A UNIÃO em 29 de novembro de 2025.