Na entrevista exclusiva que concedeu aos jornalistas Wellington Farias e Eloise Elane, para o PB Agora, o ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), chegou a apontar semelhanças entre a Operação Calvário e a Lava Jato. A propósito comentou: “Taí a Vaza Jato. Que negócio é esse? Eu escolho o criminoso para depois eu ir atrás do crime? Eu vejo gente acusada e exposta, que não tem dinheiro para fazer feira. Não tem dinheiro para pagar advogado. Como é que alguém participa de um amplo esquema de corrupção e não tem dinheiro para fazer feira? Tem algo errado no meio disso”.

A entrevista de Ricardo Coutinho, feita na quarta-feira (24), durou mais de duas horas e foi a mais longa que ele já concedeu desde que deixou o Governo da Paraíba. O PB Agora está publicando por partes: a primeira foi ontem, e esta é a segunda. Uma terceira parte já está sendo produzida.

Sobre a sua relação com o governador João Azevêdo, Ricardo Coutinho disse que, “para a surpresa de muitos”, ele não tem nenhuma interferência na administração do estadual. “Administrativamente, eu nunca fui consultado sobre absolutamente nada. Politicamente, sim, mas em algumas crises. Nas vezes em que fui demandado, tentei contribuir. Mas demandado sempre em crises, não em projeções nem programas”. Perguntado se, de fato, estaria havendo um afastamento político entre ele e o seu sucessor, Ricardo Coutinho respondeu: “Não. Há um respeito. Só posso me incluir num espaço quando sou chamado. Eu respeito isso, e não posso estar extrapolando o meu limite”. Sobre boatos de que ambos estariam perto de um iminente rompimento político, o ex-governador da Paraíba e presidente da Fundação João Mangabeira foi objetivo: “Só discuto política pública. A política eu discuto, porque sei o trabalho que deu tirar a Paraíba daquela situação de antes, para poder chegar a essa outra situação, de indiscutível reconhecimento nacional”.

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Segue a segunda parte da entrevista:

PB Agora – Em algum momento dessa caminhada de gestor, o senhor chegou a ter a sensação de que o projeto poderia não dar certo?

Ricardo Coutinho – Não. Em alguns momentos, eu sentia muita pressão, mas eu acreditava que aquilo era necessário. Por exemplo: a Escola Integral. Ninguém pense que aquilo era festejado. Havia uma reação. Reação legítima até. Tinha professores que trabalhavam em várias escolas, particulares e públicas. É natural que esse professor reagisse para não ficar dois turnos numa só escola, mas o imperativo de você olhar para uma população, quase nenhuma perspectiva de futuro, e tentar dar a ela educação, alimentação é uma obrigação da parte de quem governa.

Ricardo Coutinho – Eu não podia titubear. Havia companheiros que diziam “Ricardo, que m… é essa?”, mas eu tinha que ir adiante. É esse exercício que faz perder, e eu perdi, pessoas de apoio; mas que faz ganhar, também. Mas você tem que ser coerente com aquilo que pensa, e isso para mim é inegociável. E nesse sentido, eu sou estúpido. Se eu tenho pouco tempo para fazer alguma coisa, eu não posso esperar o tempo passar em função de um cargo futuro. Imagina as coisas que eu fiz na Prefeitura (de João Pessoa), ou no próprio Estado, causando reação, porque tinha reação. Eu lembro que, em 2012, quando perdemos a eleição em João Pessoa, muita gente disse que nós estávamos acabados. Mas eu sabia que tudo que você faz corretamente dá frutos. A população não é burra e sabe das coisas, observa as coisas acontecendo. Eu não titubeei na Segurança. Nós construímos uma pauta de muita cobrança na Segurança, mas também tinha que dar condições que não havia antes. Eu peguei um Estado em que a segurança não tinha pistola, tinha revólver 38 com duas balas no tambor. Um policial desses vai sair na rua para fazer o que, com um 38 e duas balas? Nós demos pistola, carro novo e combustível. Agora, o trabalho tem que ser feito.

PB Agora – Qual teria sido o seu grande erro e quais os grandes acertos do seu governo nos oito anos de gestão?

Ricardo Coutinho – Eu cometi muitos erros, evidentemente. Tem coisas que eu gostaria de ter feito. Melhorado a administração, o gerenciamento do setor público. É um desrespeito se ver uma fila enorme de pessoas para tirar um documento; não tem sentido. Agora, confesso que não tinha tanto fôlego para fazer tanta coisa. Eu sei é que, do início até o último dia, 31 de dezembro de 2018, lá em Campina Grande, inaugurando a organização do Mutirão do Serrotão e mais 32 obras, eu não me dei ao direito de relaxar um minuto. Eu me frustro, porque gostaria de ter avançado, de ter começado a Educação Integral Profissionalizante antes do que comecei, no setor sócio educativo, na Fundac. Fiz só depois daquela tragédia do Lar do Garoto, em Lagoa Seca, em que morreram sete jovens. Ali foi uma briga de dois grupos, facilitada por agentes que estavam para sair – porque tinha havido uma seleção – e eles botaram os meninos, botaram “os galos” pra brigar. Aquilo me impactou. Eu fiz uma reunião e disse “quem manda agora sou eu e quero saber de tudo”. E só a partir daí, e esse é meu lamento, foi que implantamos o Ensino Integral e Profissionalizante em todas as unidades da Fundac, coisa que não tem em nenhuma parte do Brasil. Não tive como implantar um sistema de governança, em que você faz pra trás, mas olha pra frente. A gente olha pra trás, só problema, problema. Isso é um atraso enorme para o setor público. Eu como prefeito ou como governador, olhava pra tudo. E dizia que o que der errado a culpa é minha, e o que der certo, naturalmente, o gestor capitaliza.

PB Agora –O senhor falhou na falta de diálogo com os setores da sociedade?

Ricardo Coutinho – Em alguns momentos não consegui dialogar. Porque o diálogo com alguns setores não era um diálogo que ia na melhor direção. E tem algumas coisas que é fundamental ter direção; é inegociável ter direção. Não do ponto de vista particular, mas do ponto de vista político. Esse é o ônus de quem se elege. Quem se elege e diz que vai para onde o povo quer é um péssimo gestor, é um péssimo líder; não é verdadeiro, é um líder falso. Quem se elege é para comandar, respeitando e democratizando os poderes, os espaços. Porque, se a população lhe delegou poderes e vai cobrar o que você está dizendo, e você tem que ir.

 

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Ricardo Coutinho compara Calvário à Lava Jato: “Vejo gente acusada de corrupção que não tem dinheiro nem para fazer a feira” – parte 2

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