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Blog do Vavá da Luz

“Prefiro pizza a sexo”

Assexuais, pessoas que não sentem interesse sexual, buscam visibilidade: “Muitos assexuais acham que são doentes”

Para alguns, o sexo é fundamental em um relacionamento e um dos fatores principais na escolha do parceiro ideal. Esse não é o caso dos assexuais, pessoas que declaram não sentir interesse sexual.

Dezenas de pessoas que se declaram assexuais se reúnem em São Paulo
Alan Victor Souza/IG

Dezenas de pessoas que se declaram assexuais se reúnem em São Paulo

“Prefiro pizza a sexo”

Algumas pessoas que participam da comunidade assexual costumam dizer que comida, jogos e estudos são formas prazerosas de substituição para o sexo. Alex, de 28 anos, brinca com a referência. “Trabalhei por muitos anos em uma confeitaria, acabei enjoando de bolo, então, não uso mais essa comparação. Mas posso dizer que, hoje, prefiro pizza a sexo”.

“Não gosto de beijo. Até de abraço eu não sou muito fã”

Alex se considera “arromântico”, mas revela que já se apaixonou por uma garota. “Não consigo ir além, namorar. Acho a pessoa esteticamente bonita, romântica, mas não consigo ter atração sexual”, afirma. Ele diz que possui duas certezas na vida: “A morte e que eu não gosto de sexo”.

Em busca de visibilidade e aceitação do seu estilo de vida, Alex e mais dezenas de pessoas se reuniram na avenida Paulista na 1ª Passeata Assexual, na sexta-feira (23).

“A intenção da manifestação é mostrar ao público o que é a assexualidade, pois muitas pessoas são assexuais e acham que são doentes”, disse Julia Fioretti, 21, organizadora do evento.

Definições

A falta de interesse por sexo não impede que laços afetivos sejam criados. “Dentro da assexualidade, existem os românticos, aqueles que se apaixonam e podem ter relação afetiva com outra pessoa. Já os arromânticos, são assexuais que não se apaixonam”, esclarece Julia.

Dentro a assexualidade, além daqueles que não fazem sexo, existem mais definições para outras formas de relacionamento:

Demissexuais – pessoas que sentem atração sexual esporadicamente ou somente quando criam fortes laços afetivos.

Gray-A – aqueles que podem sentir interesse sexual em casos específicos, sem que estejam relacionados ao romantismo.

Julia, organizadora da minifestação; 'muitas pessoas são assexuais e acham que são doentes'. Foto: Alan Victor Souza/IG
Maíra, de 16 anos, que se declara 'pansexual', também se junta à causa. Foto: Alan Victor Souza/IG
Raffi e Soren. Foto: Alan Victor Souza/IG
Soren, transexual e assexua: 'Vim do Rio de Janeiro para participar desse evento'. Foto: Alan Victor Souza/IG
'Um número grande de jovens substitui o interesse sexual por esporte ou trabalho, por exemplo'. Foto: Alan Victor Souza/IG
Assexualidade . Foto: Alan Victor Souza/IG
Ritz se declara do gênero não-binário (nem homem nem mulher). Foto: Alan Victor Souza/IG
Manifestação reuniu dezenas de pessoas na avenida Paulista. Foto: Alan Victor Souza/IG
Pessoas manifestam pela assexualidade. Foto: Alan Victor Souza/IG
Cartazes dão tom de alerta à manifestação. Foto: Alan Victor Souza/IG
Julia, organizadora da minifestação; ‘muitas pessoas são assexuais e acham que são doentes’. Foto: Alan Victor Souza/IG
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“Nos divertimos como as outras pessoas”

“Há situações em relacionamentos com muita confiança que eu sinto atração sexual, mas não é regra”, revela Raffi, de 23 anos. Ele se considera assexual dentro dos Gray-A e se sente incomodado quando questionam o seu bem-estar psicológico. “Se não fosse isso, nós estaríamos cem por cento confortáveis, pois levamos uma vida normal, nos divertimos como as outras pessoas”, completa.

João Pedro, de 18 anos, diz que, após a manifestação, passou a se sentir mais acolhido. “É muito difícil encontrar pessoas assim. Aqui, podemos mostrar ao mundo que nós existimos”, afirma.

Ele diz ainda que as pessoas sempre perguntam sobre sua sexualidade, se é uma fase ou se ele só se relacionou com pessoas erradas. “Respondo que não, não é só uma fase. Já me relacionei com as pessoas certas e sou assexual dos pés à cabeça”, completa João.

 

Sublimação do sexo

Para o psicólogo Jacob Goldberg existe certa frequência do desinteresse sexual, que pode acontecer em momentos da vida e se manifestar a partir de dificuldades psicofísicas. “Às vezes, pelo excesso de obsessão pelo sexo, um número grande de jovens sublimam o interesse sexual como, por exemplo, o esporte ou trabalho”, diz Goldberg.

“A intenção da manifestação é mostrar ao público o que é a assexualidade, pois muitas pessoas são assexuais e acham que são doentes”

O especialista afirma, ainda, que não se pode generalizar e que a assexualidade deve ser tratada como algo singular. “Algumas pessoas procuram a psicologia acreditando que estejam com algo mais sério, mas veem que estão passando por um momento transitivo”, completa.

Vale lembrar que, a assexualidade não deve ser comparada com celibato, que é uma escolha, e com o desejo sexual hipoativo, que é uma patologia.

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