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Por que é tão difícil se livrar de um relacionamento abusivo?

Mulheres narram agressões físicas e emocionais, roubos e dificuldade para tomar atitude em relação ao parceiro; por que é tão difícil escapar de vez dos abusos?

Você conhece alguma mulher que vive ou já viveu algum tipo de relacionamento abusivo? Se sua resposta é “não”, talvez o problema esteja na forma de fazer a pergunta. Já ouviu alguma história sobre uma mulher vítima de um homem violento ou psicologicamente manipulador?

Sempre existe uma amiga da amiga, um caso que circula nas rodinhas, no trabalho e na televisão. E tem ainda outra possibilidade: você talvez conheça uma mulher, mas, por vergonha ou medo, ela pode nunca ter mencionado o abuso que sofreu – ou sofre.

Domingas (Maeve Jinkings) sofre diariamente nas mãos de Juca (Osvaldo Mil) mas não se livra dele
Divulgação/Globo

Domingas (Maeve Jinkings) sofre diariamente nas mãos de Juca (Osvaldo Mil) mas não se livra dele

Assunto de novela

Em “A Regra do Jogo”, novela das nove da Globo, o tema violência contra a mulher é amplamente discutido. Na trama, Domingas (Maeve Jinkings) sofre recorrentes abusos de Juca (Osvaldo Mil), mas continua morando debaixo do mesmo teto que o marido. É claro que a atitude dela gera revolta e indignação, mas muitas mulheres passam por isso diariamente. Por que é tão difícil se livrar de um relacionamento abusivo?

Fuja 

Vanessa de Oliveira, fundadora do movimento Mulher Magnética, que tem como objetivo principal devolver a autoestima e a dignidade dos relacionamentos, explica que é possível prever relacionamentos abusivos antes de cair em qualquer presepada.

“Fuja terminantemente de homens que abusam de álcool e usam drogas. Não existe casamento feliz onde a bebida e a droga estão inseridas. Escolher um homem só porque ele parece bom nos momentos em que está sóbrio é uma das escolhas mais insanas que conheço”, alerta.

Personagem agressivo tenta agarrar mulheres à força em 'A Regra do Jogo'
Divulgação/TV Globo

Personagem agressivo tenta agarrar mulheres à força em ‘A Regra do Jogo’

“Ele me bate”

Laura*, de 32 anos, vivia, como ela mesma diz, “muito bem e feliz sozinha, obrigada”. Por meio de uma turma de amigos, conheceu o homem que seria seu futuro marido em poucos meses.

“Ele era romântico e presente. Supriu a minha solidão de uma hora para a outra. Fizemos planos e fui morar com ele. Nos primeiros dias, sentia que ele era ciumento demais. Controlava minha vida, meus passeios com as amigas e vivia me falando sobre mulheres ‘vagabundas’, aquelas que, segundo ele, saíam para beber e se divertir sem seus companheiros. A bebida, no entanto, era problema para ele. Quando estava sob efeito de álcool, inventava histórias de que eu estava dando bola para outros homens e me batia. Ele me bateu várias vezes e, apesar de ficar com marcas nos braços, ninguém da minha família percebia. Apesar de não conseguir mais transar, porque minha admiração por ele tinha acabado, ainda tenho medo de me separar porque ele faz ameaças. Hoje, tomo antidepressivos e faço terapia para recuperar a autoestima que perdi, pois ele fez com que me sentisse desvalorizada. Segundo ele, tenho uma parcela de culpa nos descontroles do meu marido porque me nego a fazer sexo, o que o deixa inseguro.”

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“Segundo ele, tenho uma parcela de culpa nos descontroles do meu marido porque me nego a fazer sexo, o que o deixa inseguro”

Homens misóginos

Para Vanessa, homens agressores, no fundo, “odeiam” as mulheres.

“É triste, mas é fato. Existem os homens misóginos. Quer se surpreender um pouco mais? É muito comum que, apesar de serem sexualmente ativos com suas mulheres, a bissexualidade seja comum”, diz a especialista.

“Muitas vezes, a libido dele não é por ela, mas por ele próprio e por sua capacidade de dominar. Na mente delas, no entanto, ele ter desejo estaria vinculado a afeto, mas é exatamente o contrário”, continua.

“Ele dava golpes”

Janaína* tem mais de 45 anos, é solteira, ganha bem, tem casa própria… é o tipo de mulher independente financeiramente e, mesmo assim, foi vítima de um golpista.

Ah, mas o que golpe tem a ver com abuso ou violência? Se você parar para prestar atenção na primeira declaração de Janaína, vai perceber que as cicatrizes emocionais são profundas.

“Ele se fez passar por um homem apaixonado, morou comigo e, durante um período, emprestava dinheiro. Gostava dele e achava que ele sentia o mesmo. Alguns meses depois de pagar cerca de R$ 10 mil em contas e compras, percebi que ele dava golpes nas mulheres para viver às custas delas. Eu não era a única. Foi difícil acreditar e tirá-lo da minha vida de uma vez, mas consegui com ajuda de uma amiga. Fui morar na casa dela e, em poucos dias, sem dinheiro, ele acabou saindo”.

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Desconfie

Vanessa ainda indica: “Fuja de homens que te pedem dinheiro emprestado em início de relacionamento, que te deixam pagar o motel, principalmente nas primeiras vezes, e observe melhor aqueles que te dão presentes demais, te levam para passear demais e te prometem uma vida com muitas regalias ao lado deles. Geralmente, esses homens estão tentando te comprar. E sua vida própria, sua dignidade e sua liberdade não têm preço. Deixe isso claro a um homem. Com essas palavras”.

'Me envolvi com um homem que tirou minha alegria de viver'
Divulgação/TV Globo

‘Me envolvi com um homem que tirou minha alegria de viver’

“Acreditei que era louca e tentei suicídio”

Amora*, de 25 anos, foi agredida duas vezes e vítima de Gaslighting, que é a violência emocional por meio de manipulação psicológica.

“Fuja de homens que te pedem dinheiro emprestado e observe melhor aqueles que te dão presentes demais. Geralmente, estão tentando te comprar. E sua vida própria, sua dignidade e sua liberdade não têm preço”

“Sempre fui uma pessoa muito feliz, até que me envolvi com um homem que tirou toda minha alegria de viver. A gente começou a se relacionar e, antes mesmo de namorarmos, de fato, a relação já era conturbada. Ele era extremamente manipulador, me fez acreditar por muito tempo que eu tinha enlouquecido e isso fazia ele sempre ter razão em tudo. O que eu mais ouvia era: ‘você está louca, você não tem senso de humor, você não sabe brincar e, enquanto isso, ele sugava minha energia manipulando minha vida e me tornando uma pessoa completamente dependente dele. Cheguei a realmente achar que eu estava louca e a situação chegou em níveis tão desesperadores que até tentei suicídio. Por duas vezes, rolou agressão física, mas só na segunda decidi ir embora. Perdi o senso de realidade, o amor próprio, perdi minha vida. Foi um relacionamento abusivo, infiel, baseado em uma pessoa só, que no caso não era eu. Após o termino, ele tentou reatar várias vezes, mas eu já estava empoderada e consciente sobre o que me fez dizer ‘não’ e seguir minha vida”.

Péssima estima das mulheres

Vanessa explica que, geralmente, o motivo está fundamentado “na péssima estima que uma mulher tem”.

“Cheguei a realmente achar que eu estava louca e a situação chegou em níveis tão desesperadores que até tentei suicídio”

O que fazer?

Claro que denunciar é fundamental. Além disso, Vanessa indica como se livrar dele emocionalmente. “Pode ser que a mulher ainda tenha sentimentos controversos em relação a ele, que, assim que perceber sua reação, irá novamente tentar seduzí-la, para, logo em seguida, destruí-la. E, se a mulher não está bem resolvida com seus ideais, ela poderá terminar novamente nas garras deste predador.

Portanto, a fuga ainda é a melhor saída. Não se trata de covardia, trata-se de supra inteligência, encare desta forma. A mulher precisa se desconectar de toda essa energia negativa, obscura, pesada e desgatante. Só assim, ela conseguirá encontrar a paz e a felicidade”, orienta.

Gaslighting, Manterrupting, Bropriating e Mansplaining
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