Pular para o conteúdo

Poema do Velho ( Do saudoso jornalista, escritor e Poeta Ingaense Anco Marcio)

Poema do Velho

Eu não sou velho…
Velho é o tempo que nasceu antes de mim,
velhos são os monumentos
que me parecem eternos…
Eu não sou velho…
Velhos são os ponteiros do relógio
que no seu tic-tac incessante
Fazem andar as horas e os dias…
Eu não sou velho…
Meus filhos é que nasceram muito tarde
quando minha cabeleira já branca ficava…
Meu neto é que veio de repente
e me alcançou já aos sessenta.
Hoje andamos de mãos dadas pela grande casa minha
Ambos com passos meio incertos.
Ele por não conhecer ainda os caminhos do andar,
eu, por conhecer demais esses caminhos
e por eles ter trilhado tanto tempo…
Meus cabelos já perderam a cor
e cor da neve ficaram….
É bom, pois meu neto me julga assim,
um Pai Noel somente seu…
Eu não sou velho…
Hoje, meus olhos de lentes necessitam.
A visão borrou-se, desfocou-se,
como desfocado ficava,
o visor de minha velha máquina de fazer fotos…
Tive muitos amores, várias paixões,
e em todos eles deixei,
a marca forte e indelével de meu corpo…
Hoje, as mulheres passam por mim, indiferentes,
me chamam de Senhor e perguntam se estou sentindo algo.
Não respondo, mas me dá vontade de dizer que sim…
Que sinto falta das pernas,
antes tão velozes, e hoje,
pesando toneladas de viver…
Que sinto falta de meus olhos de águia
que viam longe e brilhavam intensamente
e hoje,
hoje não brilham mais, nem alcançam as distâncias…
Que sinto falta das mulheres de mãos bem macias,
cabelos soltos, pele perfumada,
que acariciavam meu sexo feito pedra…
Dá vontade de dizer que sim,
que sim, que sim!
que me faz falta aquela vida jovem
que sempre me pareceu tão longe do final…
Anoitece…
Me sinto cansado da inutilidade
de não fazer nada…
Deito e custo a dormir…
A vida passa num repente ante meus olhos fechados…
Uma lágrima que sobrou
Desce pelo rosto…
Me ajudando a chorar pelo tempo que não volta…
Anco Márcio.