“Estamos num universo em que existe cada vez mais informação e cada vez menos sentido.”
Jean Baudrillard, Simulacros e simulação (1981)
Pandemia, Epstein, microfone esquecido. O que tanto isso junta?
Ao deixar a questão sobre a consciência de um velho amigo, ele se sentiu incomodado em seu silêncio antigo e eloquente. Eu saí de perto à espera de uma resposta, que com certeza viria mais cedo ou mais tarde.
E veio!
Ligou-me às desoras, tirando-me do sono que me abate cedo, nesse início de terceira idade. Mas foi direto e preciso. Como não me exigiu reservas, eu publico:
A forma mais comum de vestir a verdade é com versões que atenuem o seu peso na realidade e à compreensão vulgar. O tom da conspiração é o mais viável. Essa receita tem sido aviada desde Adão. Vocês, poetas, adaptaram-se à situação, dando melodia à metáfora. Os políticos insistem que a metáfora é alimento. Outros já transformaram o conhecimento (separando-o da sabedoria) em ciência, para que alguns áulicos fossem creditados à mentira. Até Deus, modernamente, é uma conspiração.
Ah! Nesses casos, faz como Baudrillard: dá legitimidade ao simulacro, citando a Bíblia. Quem vier com a necessidade da fé, acredita.
Você queria o quê deste tempo?
O escândalo da conspiração é deslegitimar o contra-argumento, sem o qual nenhum argumento vive. Até por necessidade de simetria lógica. Quando se quer manter, a custo forçado, uma ideia absurda, basta tratar o contraditório (ou antítese) como um absurdo. É como dizer sobre o próprio flato: ‘Flaturaram!’ É a tese das vacinas retóricas.
A teologia cristã sempre tentou destacar o inferno do céu, sem se importar que o fogo (que arde e queima) também faz a luz. Os clérigos tanto forçaram que limitaram a infinita misericórdia de Deus a um pecado de tormento eterno para o crente. Em algum momento, esse crente poderia pensar-se superior ao seu deus – no pecado, questionando a onipotência divina.
Com a pandemia, tentou-se destruir uma parte da população humana. Aquele vírus não parecia natural. Nem o vírus parecia natural, nem a vacina, a cura. O problema foi a resistência divina da humanidade. Agora, tudo é conspiração, negação etc.
Não tenho condições de avaliar as consequências dessas doses compulsórias.
O caso Epstein ainda está nascendo à publicidade. Mas está, intimamente, relacionado com a conversa que o microfone ligado por acidente revelou.
Há, sim, uma tentativa antiga, alquimista, de eternidade. Eles terminam conseguindo.
Houve um califa que ansiava pela eternidade juvenil. Tanto foi medicado que terminou morrendo por antecipação. No livro O jardim do califa, há um bulário para a virilidade que, hoje, qualquer pessoa resolve em qualquer farmácia, ao pedir: Tadalafila.
Os meninos hippies dos anos 60, pais da geração que está mandando no mundo contemporâneo, de maneira mais pueril, achavam que resolveriam com músicas e danças. Seus filhos não pensam assim, mas usam contraceptivos e temem doenças do sexo.
A conversa de Putin com Xi Jinping parece vazada propositalmente. Sim! Como você está ouvindo: como um aviso de que eles sabem tanto quanto deveriam sobre o que pensam os que sabem.
Sinceramente? Não creio numa longevidade útil ao vivente. Mas o poder é um risco que o vivente assume para viver cercado de medos.
A morte, entretanto, é um mistério que não se revela sem aceitação. Como pode ser o oposto da vida, ou a vida oposta, pode ter um poder até maior — mas que não submete a ninguém, fora do defunto, em particular.
Enfim, para lembrar o Eclesiastes:
Vem cá!
Você acha mesmo que essa possibilidade viria sem que as formigas soubessem antes?
Desligou!