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Blog do Vavá da Luz

O TIME DOS VELHOS (Tião Lucena)

 

 

O TIME DOS VELHOS

Os amigos que morreram ao longo dessa minha jornada encheriam um salão de festas.

Claro, exagero de expressão isso aí, mas não foram poucos os que mudaram para o outro mundo.

Dos companheiros de infância, poucos restaram. Conto nos dedos.

De adolescência e juventude, idem.

E dos que se incorporaram ao time na idade adulta quase a metade também já se foi.

Lembrei agora de Zé Samuel, o conterrâneo que se especializou em anunciar os nomes dos mortos.

De tanto anunciar, terminou morrendo sem ter quem anunciasse o seu adeus.

Por que me pego falando sobre esse assunto?

Simplesmente porque descobri que a fase da solidão dos que, mesmo em meio ao burburinho da vida, sentem-se sós pela falta dos antigos companheiros, não é uma lenda, uma ficção. Ela existe, está aí na porta insultando, desafiando, perguntando o que você continua fazendo aqui, quando todo seu time já está do outro lado.

E olhem que não sou tão velho assim.

Nem eu, nem Chico Pinto, tampouco Vavá da Luz.

Entramos nos enta cheios de vigor, com tesão natural ou artificial, mas jogando nas quatro linhas.

Vavá, por exemplo, procurou socorro na clínica do cirurgião e se valeu da borracha para substituir a carne inerte. E ele faz questão de alardear que aquele cheiro de borracha queimada a incendiar os arredores da Senzala não é fruto das queimadas dos monturos da Prefeitura. É ele agindo e mostrando que está vivo.

Chico Pinto quer entrar no time de Vavá e até me estimulou a fazer o mesmo.

O danado é que aqui no lar há resistência. A mulher já disse que se eu implantar um negócio desses, não saio mais de casa.

E cumprir pena em prisão domiciliar é coisa pra rico.

Resta, portanto, olhar a fila andar.

E ligar para os poucos restantes perguntando o número da respectiva senha.

Ou então tomar uma no Bar de João.

E vamos recordar um pouco de minha vida com Tião.

Tião Lucena/vavadaluz