Colunista diz muitos homens, sem perceber, fazem investidas ainda de um modo infantil ou inadequado para obter o que desejam e quando não conseguem, reagem da mesma forma
“Olá Fátima, eu queria uma ajuda. Temos 52 anos, filhos adultos e trabalhamos fora. Nossa vida social não é nada agitada, somos muito caseiros porque minha mãe está com Alzheimer e nos finais de semana me dedico a ela. Numa média, fazemos sexo de duas a três vezes por semana. Tem dia que estou realmente cansada e não tenho disposição nenhuma. Ele reclama porque se pudesse faria sexo todo dia. Meu psicólogo me disse que eu deveria ser menos mãe e mais esposa do meu marido. Imagino que por ser uma pessoa controladora meu lado “mãe” acabe falando mais alto. Desde então venho pensando em como agir de maneira diferente, mas confesso que não sei ser mais esposa e menos mãe. Você teria alguma sugestão?”
A insatisfação com a regularidade sexual entre os casais é uma queixa muito frequente, afinal são pessoas distintas. Cada um tem uma maneira de se expressar sexualmente; o desejo e a motivação para o sexo fazem parte disso.
Algumas pessoas são mais intensas, outras menos. Em geral, em nossa cultura o homem se mostra mais intenso, pois esperam dele maior demonstração da sua virilidade. Nesse sentido, muitos nem se permitem recusar ao sexo diante do cansaço de um dia extenuante. Outros buscam relaxar com uma boa transa.
Mas, tem mulheres com maior apetite sexual e que por vezes se queixam de seus parceiros.
A média de frequência sexual do brasileiro é de duas a três vezes por semana. Mas é claro que esse tipo de pesquisa nem sempre expressa a realidade, afinal sempre tem gente que aumenta um pouquinho para ficar bem na fita.
É mais incomum encontrarmos casais com a mesma intensidade de apetite sexual e que estejam sempre desejosos em transar no mesmo momento. A sincronia ocorre com maior frequência quando ainda estão na fase dos encontros e menos quando estão morando juntos.
Nesse contexto, todo o resto passa a ser prioridade como: trabalho, filhos, vida social, diversão, estudos, projetos; menos o sexo. Com isso o casal perde aos poucos a cumplicidade, a parceria e a intimidade. Não quer dizer que só o sexo proporcione isso, mas ele ajuda muito nessa manutenção.
Além disso, as diferenças na frequência sexual podem acontecer por alterações orgânicas, por exemplo hormonal; fases da vida; problemas psicológicos e idade. Cada um desses aspectos pode interferir negativamente na motivação e libido.
Sabemos que a qualidade sexual é mais importante que a frequência, mas o desequilíbrio geralmente, é um ponto de conflito. É preciso que o casal se disponha a fazer ajustes usando o bom senso. O sexo começa na maneira como os pares se tratam no seu dia a dia.
Cara leitora, você tem uma boa parte de sua energia deslocada para os cuidados com sua mãe e é esperado que a disposição para o sexo não acompanhe a de seu marido. Contudo, a frequência está dentro da média, não apontando déficit significativo em sua vida sexual.
Não sei em qual contexto seu terapeuta apontou o exercício do papel de “mãe” na relação com o parceiro, mas se for na questão sexual, acho que a reclamação dele, em relação à frequência, pode soar para você como a frustração de um filho.
Muitos homens, sem perceber, fazem investidas ainda de um modo infantil ou inadequado para obter o que desejam e quando não conseguem, reagem da mesma forma: resmungando, fazendo cara feia e com olhar de cachorrinho abandonado. Isso pode tocar no aspecto materno e despertar sentimentos de dó e raiva, por ter que ceder aos desejos do homem. Além disso, sexo todo dia também pode virar rotina e ficar sem graça, por mais variações que tenha.
Acredito que uma investida diferente do homem, explorando as melhores formas de despertar o desejo de sua mulher, com certeza levaria a um aumento na frequência e satisfação sexual do casal. Cada mulher é única e nem sempre dá para aplicar a mesma abordagem ou repeti-la para obter o mesmo resultado. A libido feminina é até hoje um mistério para a ciência.
Amiga, não faça sexo por piedade e com raiva, isso não fará bem para nenhum dos dois. Vá porque deseja ter e dar prazer. Além de outros direitos, decidir sobre quando e como deseja se expressar sexualmente fazem parte da sua liberdade sexual.
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Fátima Protti é psicóloga, terapeuta sexual e de casal. Pós-graduada pela USP e autora dos livros “Vaginismo, Quem Cala Nem Sempre Consente” e “Sexo, Amor e Prazer”.
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