A Maçonaria está dividida entre os que se conformam com as coisas do jeito que estão, e os não conformistas. Sabemos que os que se sujeitam, os resignados, jamais se comprometem publicamente ou ousam perguntar o porquê das coisas. Daí, chegamos à conclusão de que toda mudança e progresso em nossos estudos depende dos que fazem as perguntas certas e se dispõem a enfrentar as transformações.
O Universo não é estático; nosso planeta, a natureza que nos cerca ‒ e mesmo nosso corpo e mente ‒ estão em constante mutação. Por que haveria de ser diferente com a Maçonaria, entidade progressista que se propõe a “combater a ignorância em todas as suas modalidades… ser um sistema e uma escola não só de Moral, como de filosofia social e espiritual, não impondo nenhum limite à livre investigação da Verdade?”
Por acaso nossa Sublime Ordem, em pleno Século XXI, deveria permanecer engessada pelos métodos dos séculos anteriores? Preservada a essência dos nossos trabalhos, o sistema iniciático e os objetivos, nada impede que os métodos de estudo, nossa legislação e nossos foros sejam arejados pelo esclarecimento alcançado em mais de 500 anos de história tradicional. De outra forma, permaneceríamos os mesmos homens do Século XVIII, tentando “reinventar a roda”, ou com ideias e projetos remanescentes de remotas supertições incutidas nos pedreiros do antigo Egito ou fórmulas mágicas da Idade Média.
Os que se conformam com crendices dirão que nada pode evoluir nesse campo, alegando “tradição histórica”. Mas são eles mesmos que se recusam a estudar a História e as tradições, buscando viver na zona de conforto, batendo malhete até o final de suas vidas.
Nem o famígero Landmark nº 25 exige tanta rigidez ou impede mudanças que atendam ao progresso; ele ordena simplesmente o seguinte:
“Landmark Vigésimo Quinto: Que esses Landmarks nunca possam ser mudados”. (“That these Landmarks can never be changed”.)
A cláusula pétrea aqui expressa não diz que “a Maçonaria não possa sofrer variações no tempo ou progredir”, desde que ‒ salvo melhor entendimento ‒ a ESSÊNCIA SEJA MANTIDA. Se fosse diferente, não poderíamos usar computador e editores eletrônicos de texto para redigir atas nas sessões ‒ teríamos que nos virar com um pena de ganso e um tinteiro com tinta vegetal; não usaríamos lâmpadas elétricas nem condicionadores de ar nos Templos; as velas teriam que ser obrigatoriamente de cera de abelha… os malditos celulares ligados então!! nem pensar ‒ tocando durante as Sessões ritualísticas ou mesmo cerimoniais fúnebres maçônicas. Todos teriam que acompanhar o ritual (“Atenção meus Irmãos! “) e não ficariam babando em cima de IPads a enviar mensagens estúpidas pelo WhatsApp.
Vejam como tudo mudou… por que não as mudanças que atenderiam as necessidades do homem moderno em sua EVOLUÇÃO?
Desconfio (e vocês também desconfiam) que a resposta está no interesse que têm os pseudo-gurus incapazes de apresentar as coisas de forma clara ‒ porque não querem, ou porque não entendem do assunto .
A questão dos RITOS e dos RITUAIS, por exemplo: em todos os países do mundo os maçons entendem como isso funciona; só no Brasil, a mentalidade colonial e a manutenção dos feudos ou tribos maçônicos comandados por murumuxauas tupiniquins, ainda impede que se estude o assunto com seriedade e respeito para com a inteligência dos Irmãos.
Ainda discutem, como comadres no fundo do quintal, os fatos de 1927, quando o Supremo Con selho do Grau 33 legou às recém criadas Grandes Lojas, rituais padronizados do Simbolismo, providenciados pelo Soberano Grande Comendador, Irmão Mário Behring. Querelas intermináveis e exumação de defuntos tentam “demonstrar” que Mário Behring inventou os rituais simbólicos legados às Grandes Lojas juntamente com as Cartas Constitutivas. Esquecem ou ignoram esses doutores que:
1) O nascimento de uma Potência depende de ela ser criada por três ou mais Lojas Regulares, etc… etc… e que receba autoridade de uma outra Potencia (no caso, o Supremo Conselho que assim agiu em 1927 e nos anos seguintes);
2) Rituais não nascem em árvores, não são produtos naturais da flora e, portanto, carecem de ser escritos por alguém a partir de determinado momento. Foi o que fez Thomas Smith Webb (1771-1819), fundador e pai do York americano; o mesmo se deu em 1743 e 1813 quando os dignos e virtuosos ingleses tiveram que criar os rituais de Emulação para por fim às brigas dentro da Grande Loja da Inglaterra, dividindo a Potência que só mais tarde foi apaziguada com o nome de Grande Loja UNIDA da Inglaterra; foi o que fez Friedrich Ulrich Ludwig Schröder (1744-1816), pai e fundador do Rito Schröder. A mesmíssima coisa se deu com o nascimento do Rito Brasileiro em 1914, no Grande Oriente do Brasil, pelos sapientes Irmãos José Joaquim do Rego Barros, Lauro Nina Sodré e Silva, entre outros que escreveram os rituais, inclusive com a presença e apoio do próprio Irmão Mário Marinho de Carvalho Behring que lá estava.
Pergunto: os rituais que usamos hoje nos Graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre ‒ e que trazem estampado nas capas os dizeres “Rito Escocês Antigo e Aceito” ‒ são os mesmos concebidos na prática em 1660, na Escócia, e constituídos na França, em 1776 pelos partidários dos Stuarts? Faço a pergunta para todas as Potências que usam este simbolismo: são os mesmos rituais escoceses de Charleston? Então, por que cada Potência brasileira tem o “seu” próprio escocês?
Os rituais padronizados do Simbolismo que Mário Behring oficializou e registrou na Biblioteca Nacional, levavam o frontispício lógico de “Rito Escocês Antigo e Aceito”, pois ele era o Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito no Brasil e proprietário legal desses textos (registrados até hoje na Biblioteca Nacional como foi feito em outra Potência, mais recentemente).
Em 1927, a não ser o rádio e o cinema, o lazer das elites era preenchido com a conversação e a leitura. Por consequência, os maçons dispunham de mais tempo para analisarem os textos ritualísticos e não precisavam do excesso de orientações e entrelinhas como se faz atualmente. Nem ficavam cometendo os mesmos erros durante décadas. Discutia-se menos sobre as festivas, dia disso e dia daquilo… e empenhavam mai s tempo no estudo e na prática da Maçonaria conforme seus objetivos fundamentais.
Mas à medida que a Maçonaria foi indevidamente “apoderada” pelas interpretações equivocadas do ocultismo e do sincretismo religioso, foi preciso explicar tudo de novo para que os rituais e o Templo não se transformassem numa nova religião ou num sistema de crendices. Daí as constantes revisões que periodicamente acrescentaram ou excluíram centenas de penduricalhos – tanto nos textos como na decoração dos Templos.
Todos vocês sabem que, entre nós ‒ seja no mundo da política profana ou no âmbito das associações de quaisquer naturezas ‒ o poder é preservado mantendo-se as bases na ignorância das leis e dos estudos inerentes às instituições às quais pertencem e custeiam. Então, aí vai: só poderemos servir bem à nossa Ordem e alcançarmos o aperfeiçoamento, SE CONHECERMOS A ORDEM MAÇÔNICA! E certamente evitaremos os enormes sacrifícios e contendas que preenchem nossas vidas nas Lojas e fora delas.
Colaboração Hiran de Melo