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Lula condena extrema direita, e Boric cobra o mesmo tom com ditaduras de esquerda

O presidente do Brasil e da Espanha, Pedro Sánchez, organizaram um evento para debater a democracia na atualidade durante a Assembleia-Geral da ONU

Lula e Boric estão em Nova Iorque para participar da Assembleia-Geral da ONU – (crédito: Michael M. Santiago / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva realiza, nesta terça-feira (24/9), o evento Em defesa da democracia, combatendo os extremismos, durante programação da Assembleia-Geral da ONU, em Nova Iorque. A reunião foi chamada pelo Brasil em parceria com o presidente da Espanha, Pedro Sánchez. No evento, Lula e Gabriel Boric, presidente do Chile, condenaram ataques à democracia — em diferentes vieses. 

“É inegável que a democracia vive hoje seu momento mais crítico desde a 2ª Guerra Mundial. No Brasil e nos Estados Unidos, forças totalitárias promoveram ações violentas para desafiar o resultado das urnas. Na América Latina, as notícias falsas corroem a confiança e afetam os processos eleitorais. Na Europa, uma mistura explosiva de racismo, xenofobia e campanhas de desinformação coloca em risco a diversidade e o pluralismo. Na África, golpes de Estado demonstram que o uso da força para derrubar governos ainda refletem os resquícios do colonialismo”, iniciou Lula.

Compreender por que a democracia se tornou alvo fácil para a extrema direita e suas falsas narrativas é um desafio compartilhado. O extremismo é sintoma de uma crise mais profunda, de múltiplas causas. A democracia liberal demonstrou-se insuficiente e frustrou as expectativas de milhões”, acrescentou o presidente. 

Lula, então, critica algumas questões da sociedade capitalista. “Um modelo que trabalha para o grande capital e abandona os trabalhadores à própria sorte não é democrático. Um sistema que privilegia os homens brancos e falha com as mulheres negras é imoral. Fartura para poucos e fome para muitos em pleno século XXI é a antessala para o totalitarismo”, disse ainda. 

 

Boric rebate

Durante a reunião, o presidente do Chile, Gabriel Boric, pediu a palavra para comentar sobre os ataques à democracia.

“Eu gostaria de iniciar falando não sobre os adversários da esquerda, mas sobre nós mesmos. Hoje os setores progressistas são questionados pela própria sociedade e é muito importante estabelecer o seguinte, em conjunto: existem certas matérias que representam avanços civilizatórios, em relação as quais deveríamos ter uma única postura, sem duplo padrão”, iniciou o presidente chileno, dando a entender que estava falando sobre a postura neutra que Brasil e alguns outros países têm adotado diante dos resultados das eleições da Venezuela. 

“As forças progressistas são enfraquecidas quando, diante de certos conflitos, adotam posturas vacilante, hesitante ou posturas em defesa de certos interesses políticos, no lugar de seguir os seus princípios”, disse ainda Boric. Especialistas consultados pelo Correio, já haviam adiantado que o presidente Lula poderia ser cobrado por uma postura mais firme em relação a Venezuela, uma vez que Maduro foi reeleito sem transparência no processo eleitoral. O Brasil segue narrativa de que “aguarda as atas de votação” para um posicionamento, o que não tem previsão de ocorrer. 

“Diante dessas situações no mundo precisamos adotar uma única posição como países progressistas. Os direitos humanos e a violação dos direitos humanos não podem ser julgados conforme a cor do ditador de turno ou do presidente que os violar, seja Netanyahu, em Israel, Maduro, na Venezuela, Ortega, na Nicarágua, e Putin na Rússia. Quer se autodefinam de esquerda ou de direita, como progressistas precisamos ser capazes de defender princípios e, por isso, eu acho que as vezes nós fracassamos porque não usamos a mesma medida para julgar aqueles que estão do nosso lado”, finalizou Boric. 

O chileno não ficou até o final da reunião, pois tinha outro compromisso. Antes de sair, ele propôs a Lula que o próximo encontro dos países em defesa pela democracia ocorra em Santiago, no Chile. 

Fake News

O combate às fake news e a regulação das redes sociais foi amplamente discutido pelos chefes de Estado. “As redes digitais se tornaram um terreno fértil para os discursos de ódio misóginos, racistas, xenofóbicos que fazem vítimas todos os dias. Nossas sociedades estarão sob constante ameaça, enquanto não formos firmes na regulação das plataformas e do uso da inteligência artificial”, defendeu Lula. 

Emmanuel Macron, presidente da França, também defendeu a regulação das redes sociais, assim como o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau. 

Lula finalizou discurso acenando para o pluralismo. “A democracia em sua plenitude é base para promover sociedades pacíficas, justas e inclusivas, livres do medo e da violência. Ela é fundamental para um mundo de paz e prosperidade. A História nos ensinou que a democracia não pode ser imposta. Sua construção é própria de cada povo e de cada país”, declarou.