Apoio da população ao porte de armas levou a novo recorde de interação da sociedade pelo 0800 da Câmara dos Deputados
Nem educação, nem transporte, nem saúde. Assunto polêmico e delicado, o porte de armas de fogo e munições é o recordista de apoio popular pelos canais de interação da Câmara dos Deputados com a sociedade, como o telefone 0800 da instituição. Por ele ou porenquetes disponíveis em sua página na internet, a população tem interagido a favor de uma proposta que revoga o Estatudo do Desarmamento, lei federal de 2003.
Desde sua assinatura, há quase 10 anos, 65 projetos de lei foram propostos por deputados da casa com o intuito de alterar ou mesmo revogar seu texto. Mas nenhum havia chegado tão longe quanto o PL 3722/2012, que após um período estacionado, há um mês foi designado a uma Comissão Especial formada por 46 deputados. Neste semestre, uma nova audiência pública deve acontecer com a presença de Bene Barbosa, presidente do Movimento Viva Brasil (MVB); o advogado Fabricio Rebelo, pesquisador em segurança pública no Nordeste e também integrante do MVB; e o delegado Fernando Segóvia, representante da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ANDPF). Entusiastas do projeto de lei estimam que ele pode chegar para votação no Plenário ainda este ano.
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Proposto em 2012 pelo catarinense Rogério Mendonça Peninha (PMDB), o projeto de lei 3722 traz em seu texto uma vontade popular delineada em 2005, quando o referendo popular, terceiro na história do país e primeiro no mundo a consultar diretamente a sociedade sobre este assunto, constatou que 63,94% dos 95.375.824 brasileiros que responderam à consulta defendiam que o comércio de armas e munições não deveria ser proibido no Brasil. Não houve unidade federativa no país que apresentasse inclinação diferente.
Nos Estados Unidos, onde o porte de armas é um direito garantido pela Constituição, os estados são autônomos para legislar sobre o assunto. Na maioria deles, a venda e o uso de armamento pessoal são permitidos.
Iniciativa popular chega ao Senado
Plataforma de participação política, o portal e-Cidadania contempla um espaço destinado à proposição de novas leis por cidadãos comuns. Para que cheguem a ser avaliadas pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado, as ideias precisam conquistar 20 mil apoios. Desde quando foi lançada, a plataforma já recebeu mais de 1360 propostas legislativas. Destas, apenas três conseguiram os 20 mil apoios necessários no tempo hábil para seu andamento: a que regula o uso recreativo, medicinal e industrial da maconha; a que regulamenta as atividades de marketing de rede; e a que garante o direito de porte de armas a cidadão devidamente qualificado.
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Proposta por André de Carvalho Franco em 18 de fevereiro deste ano, a ideia demorou pouco mais de dois meses para conquistar as 20 mil assinaturas; a título de comparação, a igualmente polêmica proposta de regulação da maconha levou menos de uma semana. O autor, um atirador de estande de Osasco, em São Paulo, chegou a pedir apoio em um fórum do site Tiro Dinâmico, que se dedica a “atiradores e apreciadores de armas de fogo”. Procurado pela reportagem de iG, André não retornou os e-mails ou ligações.
Legítima defesa ou justiça com as próprias mãos?
Somadas, a iniciativa do deputado Peninha e a ideia legislativa proposta pelo e-Cidadania podem ser associados – e costumam ser justificados com – a sensação de insegurança no país: em 2012, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgou que mais de 20% dos brasileiros não se sentiam seguros dentro de suas casas. O levantamento se valeu de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad, 2009) que se referiam ao tema Vitimização e Justiça.
“A população sabe que está à mercê da criminalidade. O Estatuto do Desarmamento reduziu em 60% a comercialização de armas legais, mas o bandido, o marginal, quando compra arma, vai pelo contrabando. O cidadão de bem não pode se defender ou defender sua família”, argumenta Peninha.
Casos de justiciamento que correram o país no último ano e que culminaram com olinchamento e morte de uma dona de casa no Guarujá, litoral paulista, são um exemplo claro do clima de revolta ante a impunidade associada à justiça brasileira. “Não podemos confundir a justiça pelas próprias mãos com legítima defesa. O homem só deve usar a arma de fogo pra sobreviver”, afirma Bene Barbosa.