Em termos de lei, ambos os grupos islâmicos seguem a Sharia, mas Estados têm interpretações diferentes sobre as punições
Fundado por Maomé (570-632) no século 7, o Islamismo foi dividido predominantemente entre xiitas e sunitas após a morte do líder religioso, quando foi iniciada uma disputa sobre quem ocuparia a posição de principal liderança da comunidade islâmica mundial. Mas apesar de esses grupos corresponderem a vertentes distintas da religião, eles ainda compartilham de crenças e práticas fundamentalistas, como a fé no Alcorão e a regência da Sharia, código de leis do islamismo.
Hoje, cerca de 90% dos muçulmanos, ou 900 milhões deles, são sunitas. Já os xiitas são compostos por uma média de 120 e 170 milhões, como explica a docente do programa de ciências da religião da Universidade Mackenzie Lidice Meyer Pinto Ribeiro.
“Diferentemente dos evangélicos e católicos, por exemplo, os muçulmanos não enumeram os seguidores nas mesquitas. Então é difícil precisar seu número de seguidores”, afirma.
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Essa divisão sectária tem gerado inúmeros conflitos ao longo da história, principalmente em países como o Líbano, a Síria, o Iraque e o Paquistão. Mas embora pareça hoje que as seitas não coexistem, elas ainda compõem comunidades em várias partes do mundo. Em áreas urbanas do Iraque, por exemplo, uniões entre sunitas e xiitas eram, até bem recentemente, bastante comuns.
Quem são os xiitas?
Os xiitas surgiram após o assassinato do quarto sucessor de Maomé, o califa Ali (601-661), também primo e genro do profeta. Como Maomé não indicou um sucessor, os califas – chefes de Estado – assumiram a liderança da comunidade muçulmana. Depois da controversa posse de Ali, porém, uma parte dos muçulmanos – os autodenominados “shiat Ali”, ou “partidários de Ali”, em tradução livre – passou a defender que a única liderança legítima para o Islã deveria vir da linhagem direta de Maomé.
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Em meio à violência e rede de intrigas que dominou o curto reinado de Ali, o assassinato do califa rendeu uma série de outras tragédias entre os herdeiros de Maomé. Seus netos, Hassan e Hussein, foram mortos em diferentes circunstâncias: Hassan teria sido envenenado por Muawiyah, o primeiro califa da dinastia Umayyad, e Hussein foi vítima de uma conspiração em uma batalha. Esses eventos deram origem ao conceito xiita do martírio e rituais de luto.
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Estimativas mostram que muçulmanos xiitas são maioria no Irã, Iraque, Bahrein, Azerbaijão e Iêmen. Há também grandes comunidades no Afeganistão, Índia, Kuwait, Líbano, Paquistão, Qatar, Síria, Turquia, Arábia Saudita e Emirados Árabes.
Saiba mais sobre os sunitas
Já os sunitas, termo que deriva da palavra Sunna – documento sagrado que narra as experiências de Maomé em vida –, assumiram uma visão mais ortodóxica e pragmática do Islã após a morte do profeta. Diferentemente dos xiitas, eles reconhecem a liderança dos primeiros califas que assumiram a liderança da comunidade islâmica após 632, e não apenas Ali, genro e primo do profeta.
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A seita defende ainda que a religião e o Estado devem ser uma coisa só e acreditam que os quatro califas que sucederam Maomé lideraram a comunidade legitimamente e seguiram governando o mundo árabe até o fim do Império Otomano, depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Diferenças e semelhanças
Em termos de lei, ambas as seitas seguem a Sharia, mas com interpretações diferentes. De acordo com um relatório do Council of Foreign Relations, cada país tenta conciliar os costumes locais com o Islã, o que diferencia o peso que cada uma aplica à forma como a sharia é interpretada.
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Quando o assunto é casamento ou divórcio, as leis de ambas as seitas são bem parecidas, mas diferem expressivamente sobre as leis criminais. No Irã, que é xiita, a pena capital mais aplicada é a forca. Já na Arábia Saudita, sunita, as sentenças variam. Por apostasia – abandono da fé – por exemplo, o condenado é decapitado com uma espada, enquanto, por adultério, a pena é a morte por apedrejamento.
Geralmente, os sunitas são mais abertos em termos religiosos e políticos do que os xiitas. “Igrejas xiitas no Brasil são feitas somente para descendentes de árabes. Um brasileiro não pode se converter e ser bem recebido numa mesquita xiita. Porque você não é visto como alguém que pertença ao grupo”, explica Lidice Meyer Pinto Ribeiro.
Estado Islâmico é sunita?
Os terroristas do Estado Islâmico, que se definem como grupo sunita, não seguem nenhuma vertente conhecida do Islã, mas uma corrente nova que aplica as leis da Sharia e do Alcorão conforme a visão do líder e fundador do EI, Abu Bakr al-baghdadi, como explica o chefe do Departamento de Relações Internacionais da PUC-SP, Reginaldo Nasser.
“Quando o Estado Islâmico realiza ataques no Oriente Médio, mata xiitas, sunitas e outros grupos religiosos. Eles não são sunitas, criaram para eles mesmos uma justificativa para o terror”, avalia.