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Blog do Vavá da Luz

ESSA EU VI NO BOIGA DE FLORENTINO : O lado engraçado de Ramalho Leite

Deputado estadual, deputado federal, secretário estadual e municipial, diretor de banco, Ramalho Leite só não foi tudo nessa vida porque não chegou a ser prefeito. Preferiu dar essa honra a Marta, sua esposa, prefeita duas vezes de Bananeiras, seu xodó. Imortal da Academia Paraibana de Letras, membro do IHGP, Ramalho Leite destacou-se também pela escrita e pelo humor fino. Como o leitor verá em seguida.

O soldado

Arlindo Ramalho, pai de Ramalho Leite, era prefeito de Borborema e pediu ao filho para acompanhar Nino Flor, filho de uma amigo dele, até o comando da Policia Militar. Nino pretendia ingressar na policia como soldado e, conhecendo o Cel. Gadelha, então comandante da PM, Ramalho foi até o seu Gabinete. O Comandante começou a indagar do candidato a militar?

– Você sabe ler e escrever?

-Não Senhor! Respondeu Nino.

-Sabe as quatro operações ? Somar, dividir, multiplicar?

-Não Senhor, repetia o candidato…

-Assim tá ruim, amigo! O Governador tá querendo melhorar os quadros da Polícia e quer que os soldados sejam pelo menos alfabetizados…

Foi interrompido pelo ex-quase soldado:

-Seu coronel, o senhor acha que se eu soubesse tudo isso que o Senhor me pergunta, eu vinha ser soldado de policia?

A operação

Mazureik Morais, médico na Maternidade Cândida Vargas, colocava sua especialidade à disposição do deputado Ramalho Leite, de quem era amigo e colega de partido. Ramalho utilizou seus serviços para uma operação de períneo em Lourdes Galega, uma eleitora, profissional do sexo na Rua do Tôco, em Solânea. Operada, Lourdes não deu mais notícia. Voltando de uma festa no Casserengue, Ramalho deu carona a duas de suas colegas, que voltavam cedo para casa. Resolveu então lhes perguntar onde andava Lourdes Galega e a resposta foi ilustrativa:

– Ah! Deputado, depois que o senhor mandou fazer aquela operação nela, ela tá importante, aumentou sua tabela de preço e tá muito procurada… Sua outra companheira arrematou:

– Doutor, arranje uma operaçãozinha daquelas pra mim…

O carro preto

Para completar sua maioria na Assembléia, o governador Tarcisio Burity cooptou parte dos deputados do PDS para que formassem nova agremiação, o PL. Ramalho era Líder do Governo e do PMDB e foi obrigado a admitir também nesse grupo de sustentação ao Governo, o deputado Afrânio Bezerra, seu principal adversário no brejo e que, sem dúvida, deveria dividir com ele as atenções do governo naquela área. Mesmo contrariado, caloi-se. Mas passou a exercer constante vigilância sobre os passos do seu adversário.

Certa feita, passando pela sala da Secretaria Particular do Governador, viu em cima da sua mesa um bilhete do Governador para o Chefe da Casa Militar: determinava a entrega de um veículo oficial para o uso do deputado Afrânio. Era só o que ele queria. Desfilar pelo brejo em um carro preto. Era demais…

Surrupiou o bilhete e o carro nunca foi entregue ao deputado. Sem essa demonstração de prestigio ele terminou desistindo do governo. Sem carro preto, voltou à oposição em pouco tempo!

Verso infeliz

Seu Titiva, vereador em Pilões, quando na mesa de bar, dominava o ambiente versejando de improviso. De certa feita, Ramalho visitava Pilões como deputado estadual, e no clube local, em torno de uma mesa, reunia vários amigos, ouvindo os versos do poeta sem viola. Entusiasmado, Seu Titiva estava no meio de uma sextilha quando chega  o prefeito de Belém, Lula Firmino. Ramalho avisa:

 Chegou o prefeito de Belém, e seu Titiva completa:

 …e o prefeito de Belém, nunca pagou a ninguém, como hoje quer pagar?…

Seu Titiva conseguiu a rima, mas teve que se derramar em desculpas ao prefeito pelo verso infeliz..

A branquinha

O Desembargador Semeão Cananéa era um grande apreciador da aguardente Rainha desde quando foi Juiz na Comarca de Bananeiras. Saiu de lá mas continuou fiel à famosa cachaça, sendo abastecido constantemente pelo seu fabricante, Mozart Bezerra.

Certa feita Ramalho Leite encontrou-se com o ilustre magistrado e se referiu à cachaça Serra Limpa, agora “muito famosa e melhor do que a Rainha”, fez a contra-propaganda. Ele já tinha provado a branquinha e concordou com seu conceito, mas, preveniu:

– Eu gosto da Serra Limpa, mas não faça propaganda disso… senão, Mozart deixa de me mandar a Rainha…

A lei do cão

Egídio Madruga enquanto foi deputado estadual, presidiu a Comissão de Justiça da Assembléia e emitiu parecer sobre todos os projetos que os deputados apresentaram. Costumava trabalhar em casa, para onde mandava levar os processos, que, às vezes, nunca voltavam…Certa feita, Ramalho Leite aguardava parecer em projeto de sua autoria, quando foi procurado por um assessor da CCJ com cópia do projeto para que o assinasse. Surpreendeu-se com o pedido e recebeu a explicação inusitada:

– É que a cachorra de Egídio comeu o seu projeto…

Eleitor de visão

Pelos idos de 1982 Ramalho era candidato a deputado estadual e fazia uma dobradinha com José Maranhão, candidato a deputado federal. Trocavam votos. Ramalho votava nele em Bananeiras e Solânea e ele votava em Ramalho em Belém e Dona Ines. Cada qual por sua conta. Próximo à eleição, quando o assédio e o petitório dos eleitores aumenta, procurou seu companheiro de luta para que autorizasse o pagamento da confecção de algumas dezenas de óculos para os seus eleitores. Cauteloso nos gastos como sempre foi, para não dizer “amarrado”, Maranhão olhou por cima dos óculos (dele) e, desconfiado, perguntou:

– Essas pessoas vão votar em mim mesmo Ramalho?:

– Claro que vão. É gente minha, de confiança e carentes, respondeu !

Ele então concluiu, escapando da despesa::

– Então… se vão votar em mim, é sinal de que têm boa visão… não precisam de óculos…

Cheque de motel

Ramalho era Líder do Governo Burity II e, em minoria na Assembléia, tinha dificuldade em aprovar as matérias de interesse do Palácio da Redenção. Um grupo de deputados, rebelados, ajudava a oposição a derrotar o Governo. Em plena Ordem do Dia, procurou o deputado Gilberto Sarmento, um dos rebeldes, e lhe informou que o Motel Fogeama estava publicando uma lista de cheques sem fundo e o nome dele constava da lista.

-Vá urgente ao Cartório de Chico Souto!

Gilberto esbravejou, disse logo que deveria ter sido um vereador a quem ele dera um cheque e saiu às pressas.

Quando ele saiu, o Governo reconquistou a maioria e Ramalho solicitou que se botasse a matéria em votação.
Sem Gilberto, o Governo ganhou mais uma…

Terminada a sessão, eis que Gilberto retorna e diz que não encontrou a tal lista.Até hoje não sabe que foi vitima de um ardil parlamentar…

O preso

Pelos idos de 1978 Ramalho Leite reclamou na Tribuna da Assembléia da decisão do juiz de Pilões, que proibira os comícios de ultrapassarem as dez horas da noite. Um cabo eleitoral seu e de Waldir dos Santos Lima que atendia pelo indecente apelido de Furico, dia seguinte, chegou em Pilões logo cedo com o jornal O Norte debaixo do braço, elogiando o deputado e endossando as criticas ao Juiz. Como o Juiz não podia prender o deputado, mandou prender Furico.

Ademar Leite, primo de Ramalho, lhe mandou um bilhete contando o fato e concluiu:

– O Juiz disse que, se alguém for lá pedir para soltar o Furico, ele não solta. Mas se ninguém pedir, na segunda feira ele solta o Furico…

E assim foi feito!

(Furico morreu em João Pessoa, assassinado por um taxista, quando, bêbado, confessava não ter dinheiro para pagar a corrida.)

Anjos e demonios

Na sua casa de Bananeiras, Ramalho mantém um painel com fotos em exposição. Lá estão Frei Damião, Collor, Figueiredo, João Agripino, Ernani Satyro, Pedro Gondim, entre outros. Essa exposição ele a denominou de “Ramalho Leite entre anjos e demônios”. O visitante escolhe quem é demônio e quem é anjo.

O jornalista José Euflávio acompanhou o então Governador Cássio Cunha Lima a Bananeiras. Vendo a exposição e querendo embaraçar Ramalho, perguntou para que Cássio ouvisse:

– Ôxente, não tem nenhuma foto de Ronaldo? (Referia-se a Ronaldo Cunha Lima, pai do Governador).

– “Ronaldo não é anjo nem demônio, Ronaldo é Santo” – escapou Ramalho, sob risadas gerais da assistência

O exame

Submetido a uma ultrasonografia abdominal que incluía exame de próstata, na clinica de dr.Lavoisier, ali na Duarte da Silveira, Ramalho ficou encantado com o diagnostico do médico:
 Sua próstata é de um adolescente…

Mas assim mesmo, indagou inconformado:

– Dr. Não dá pra trocar por outra coisa de adolescente não?

O exame II

Ao se submeter a vários exames, por recomendação médica, para um checkup anual, Ramalho ouviu da atendente da clínica:

 A urina tem que ser colhida no primeiro jato…

 Jato ? Espantou-se Ramalho e indagou:

– Não dá pra ser de um téço-téco não?