Segundo investigações da Operação Capitu, JBS e rede de supermercados se aliaram no pagamento de propina a deputados do MDB e servidores do Ministério da Agricultura em troca de atos que favoreciam monopólio

Pivô de escândalo no governo Temer, Joesley Batista voltou a ser preso por esquema investigado na Operação Capitu
Valter Campanato/ABr

Pivô de escândalo no governo Temer, Joesley Batista voltou a ser preso por esquema investigado na Operação Capitu

Parte da propina paga em esquema envolvendo a JBS, uma rede varejista, integrantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e deputados federais era entregue em “malas e caixas de sabão”. As investigações sobre o esquema resultaram na deflagração, nesta sexta-feira (9), da Operação Capitu , que já resultou na prisão dos empresários Joesley Batista e Ricardo Saud, do vice-governador de Minas Gerais, Antônio Andrade (MDB), e de mais 12 pessoas. Foram emitidos um total de 19 mandados de prisão temporária.

Segundo os responsáveis pela Operação Capitu (nome que faz alusão à personagem de “Dom Casmurro”, de Machado de Assis), a JBS pagava propina a funcionários do alto escalão do Mapa e também a deputados do MDB em troca de atos de ofício para a “eliminação da concorrência e de entraves à atividade econômica, possibilitando a constituição de um monopólio de mercado”.

Para que o pagamento de propina fosse dissimulado, o grupo empresarial de Joesley e Saud teria se associado a uma das maiores redes de supermercados do País. De acordo com a Receita Federal, a organização criminosa se aproveitava do grande fluxo de dinheiro em espécie no varejo para “dar ar de licitude” no repasse de valores ilícitos em dinheiro vivo e em contribuições oficiais de campanha.

De acordo com as investigações, o total de doações oficiais feitas por empresas vinculadas e administradas pelo dono dessa rede de supermercados totalizou R$ 8,5 milhões somente nas eleições de 2014.

“[A entrega de dinheiro era feita] em caixas, em mala, caixa de sabão. Os supermercadistas trabalham com muito dinheiro em espécie, isso facilita por demais esse tipo de operação, porque eles recebem naquele varejo que eles vendem e com isso, em tese, perder o rastro desse dinheiro se não fossem boas investigações”, disse um dos integrantes da operação, conforme reportado pelo jornal O Estado de São Paulo .

O esquema passou a ser investigado a partir da instauração de inquérito policial em maio deste ano, baseada em depoimento do delator Lúcio Funaro , ex-corretor de valores, aliado do ex-deputado Eduardo Cunha (MDB) e um dos principais operadores do MDB. Funaro relatou que ele próprio atuava na distribuição da propina aos servidores do Mapa e a agentes políticos. Os valores, segundo o delator, eram discutidos entre intermediários da empresa e um deputado federal.

Segundo a PF, a propina era paga pela JBS visando a expedição de atos de ofício, por parte dos servidores do Ministério da Agricultura , pasta que foi comandada no governo Dilma Rousseff (PT) pelo hoje vice-governador de Minas, Antônio Andrade (MDB). Dentre esses atos de ofício estavam medidas pela regulamentação da exportação de despojos e a federalização das inspeções de frigoríficos.

No âmbito desse esquema, o grupo empresarial teria pago R$ 2 milhões em troca da regulamentação da exportação de carcaças de animais (despojos) e R$ 5 milhões pela proibição do uso da ivermectina (antiparasita) de longa duração.

À época dos fatos, ainda de acordo com a Polícia Federal , um deputado federal da Paraíba teria recebido R$ 50 mil do grupo como contrapartida, em decorrência da tentativa de promover a federalização das inspeções sanitárias de frigoríficos por meio de uma “emenda jabuti”, proposta de natureza totalmente alheia ao tema da medida provisória na qual foi inserida.

Operação Capitu devolve Joesley à prisão

Joesley Batista foi pivô do maior escândalo do governo Temer; ele voltou a ser preso na Operação Capitu
Cleia Viana/Câmara dos Deputados – 28.11.17

Joesley Batista foi pivô do maior escândalo do governo Temer; ele voltou a ser preso na Operação Capitu

Um dos alvos da operação desta sexta-feira, Joesley Batista retorna à carceragem da Polícia Federal em São Paulo após oito meses. Ele esteve preso no local entre setembro de 2017 e março deste ano , após investigações apontarem que ele omitiu da Procuradoria-Geral da República (PGR) informações em seu acordo de delação premiada.

Ainda antes de sua primeira prisão, o empresário foi pivô do maior escândalo do governo Michel Temer (MDB) ao gravar conversa com o presidente no Palácio do Jaburu e ajudar a polícia a flagrar o então assessor especial da Presidência, Rodrigo Rocha Loures (MDB), recebendo mala com R$ 500 mil. Loures, curiosamente,  ganhou ontem o direito de retirar a tornozeleira eletrônica após 1 ano e 4 meses.

A Polícia Federal alega que Joesley e Saud teriam “praticado atos de obstrução de justiça, prejudicando a instrução criminal, com o objetivo de desviar a PF da linha de apuração adequada ao correto esclarecimento dos fatos”. É ‘traição’ que levou à escolha do nome Operação Capitu , apesar de, na obra de Machado de Assis, não ser claro se realmente a personagem traiu seu marido, Bentinho.