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Entrevista: ‘Tenho pavor desse nome’, diz mãe do Maníaco do Parque, o maior serial killer da história do Brasil

Maria Helena de Souza Pereira, de 77 anos, mãe de Francisco de Assis, o Maníaco do Parque, afirmou em entrevista exclusiva que não receberá o filho assassino em casa, caso ele realmente saia em 2028. “Ele vai completar 30 anos na cadeia. Faz dez que não o visito. Nem sei se está pronto para sair. Acho que não. O ideal seria que ele fosse morar em Portugal, onde há uma mulher interessada nele”, diz a mãe ao blog.

Considerado o maior serial killer do Brasil, Francisco de Assis Pereira aterrorizou a cidade de São Paulo em 1998. Sua extensa ficha criminal inclui condenações por assassinato de sete mulheres, embora ele tenha confessado a morte de nove. Condenado a mais de 280 anos de prisão, Chico Estrela, como era conhecido no meio do patinador profissional, deverá ser solto em 2028, uma vez que, na época de seu julgamento, um preso não poderia cumprir mais de 30 anos em uma penitenciária.

Maria Helena revelou que o filho ainda recebe cartas de mulheres que se dizem apaixonadas por ele. “Essas mulheres o visitam na cadeia. Elas me ajudam com alimentos e repasses financeiros”, conta. Ela refuta quando alguém chama o filho de “maníaco do parque”: “Não aceito! Tenho pavor desse nome”.

Por dificuldades financeiras, Maria Helena não visita mais Francisco. Com isso, sua carteirinha de visitante foi suspensa pela administração da Penitenciária Orlando Brando Filinto, de Iaras (SP), onde cumpre pena desde 22 de maio de 2009. “Se ele ler esta entrevista, quero dizer o seguinte: Querido Tim, eu não te abandonei. A mamãe continua te amando. Um grande beijo no coração”, declarou.

A entrevista com Maria Helena foi feita em três momentos e faz parte da biografia “Francisco de Assis – O Maníaco do Parque”, a ser lançada em setembro pela editora Matrix.

Francisco de Assis e mãe dele, Maria Helena de Souza Pereira — Foto: Reprodução e Ullisses Campbell

Veja os principais trechos da conversa.

Alguma vez Francisco deu algum sinal na infância ou adolescência de que se tornaria um serial killer?

Nunca! Nenhum. Ele foi uma criança normal, como qualquer outra. Nasceu gordinho, demorou a andar e a falar. Mas isso não tem nada a ver. O meu pequeno Tim foi tão amado quanto os irmãos.

Laudos feitos por psiquiatras e psicólogos dizem que Francisco é psicopata. A senhora viu nele qualquer traço nesse sentido?

Se tivesse percebido alguma coisa, teria buscado tratamento. Mas nunca percebi nada. Ele sempre foi amigo das meninas, de mulheres, de moças, e amava crianças. Sempre foi muito mulherengo. As meninas viviam atrás dele.

E essa tese de que ele é gay e desejaria ser mulher?

Conversa fiada. Meu filho era disputado pelas meninas. Já disseram que ele namorou homens, travestis, homossexuais. Tudo mentira. Meu filho sempre foi macho. Havia fila de mulheres na porta da minha casa atrás dele. Essa conversa de que ele seria gay começou porque ele vestia roupas coladas ao corpo e com cores berrantes.

Como assim?

Francisco era um rapaz colorido, usava roupas chamativas, pintava o cabelo. Mas isso não fazia dele um homossexual.

Foi ele quem disse a uma psicóloga que queria ser mulher dentro da penitenciária. Está escrito no processo de execução penal.

Só acredito se ele disser isso na minha cara.

Antes, a senhora não acreditava que seu filho fosse o Maníaco do Parque e tivesse matado nove mulheres. E hoje? A senhora acredita?

Nunca fale essa palavra suja perto de mim. É um nome maldito que a mídia colocou nele. O meu filho se chama Francisco. Até hoje não acredito que ele tenha feito isso. Não entra no meu coração.

Sente vergonha do que ele fez?

Não. Até porque Francisco não foi criado para ser assim. Teria vergonha se soubesse o que ele vinha fazendo e tivesse ficado quieta. Nunca soube de nada. Como disse antes, até hoje tenho minhas dúvidas.

Como é ser mãe do Francisco?

É muito triste, muito triste mesmo. Nenhuma mãe deveria passar por isso. Lembro do dia em que ele foi preso e fui à delegacia perguntar se ele tinha feito aquilo tudo. Ele não respondeu nada. Mas não sou apontada na rua. As pessoas me tratam bem. Sou uma mulher forte, guerreira, brava.

Há quanto tempo a senhora não visita Francisco?

Há mais ou menos uns 10 anos.

Por que tanto tempo?

A situação financeira atrapalhou bastante. Veio a pandemia, e depois ele pediu que não queria ser visitado durante a pandemia. Uma situação muito difícil. Talvez ele nem entenda o porquê.

Se Francisco sair da penitenciária daqui a quatro anos, vai recebê-lo em casa?

Não tem como. Ele é outro homem. Afinal, são 30 anos. Nem sei como ele está. Além do mais, moro em uma casa humilde. Tenho receio do assédio da imprensa. O ideal seria que ele fosse morar em Portugal, onde há uma mulher apaixonada que quer levá-lo para lá.

Orientada pelo filho mais velho, Luís Carlos Pereira, de 58 anos, Maria Helena pede para corrigir a resposta.

Se Francisco sair da penitenciária daqui a três anos, vai recebê-lo em casa?

Com certeza, de braços abertos. Isso ninguém me tira.

Na sua avaliação, Francisco está preparado para viver aqui fora?

É uma questão bastante difícil de responder. No momento, acho que ainda não. Durante esses dez anos, não conversei com ele.

Tem receio de que ele possa voltar a matar mulheres?

Depois de tudo o que ele passou na cadeia, ele se transformou em um novo homem, uma nova pessoa, sem maldade. Acredito que ele não vai mais fazer essas coisas. Aquele Francisco que foi preso é uma pessoa. Hoje ele é outra.

O fato de Francisco ter sido ateu no passado, na sua opinião, pode ter contribuído para transformá-lo no que ele se tornou?

Pode ser. Uma pessoa sem religião é uma pessoa sem Deus. Francisco não tinha Deus dentro dele. Ele só vivia para o mundo. Hoje ele é evangélico.

Tem algum tipo de preocupação com o fato de seu filho receber visitas de mulheres na penitenciária?

Não sei o que responder. Durante o tempo em que o visitei, havia mulheres atrás dele. Algumas quiseram fazer visita íntima, mas o juiz não permitiu.

Como a senhora trata mulheres que a procuram pedindo ajuda para visitá-lo?

Sempre tratei muito bem, porque elas falam muito bem dele. Algumas me ajudam com alimentação e dinheiro. Minha vida é muito difícil. Não tenho mais condições de pegar um ônibus e viajar até Iaras (300 quilômetros). Tenho de ir de carro e ficar em hotel. São quatro horas de viagem.

Faz algum tipo de alerta para essas mulheres?

Nunca fiz alerta a ninguém. Elas vão lá de livre e espontânea vontade.

O que sente pelo Francisco hoje?

O que sempre senti: muito amor e carinho. Ele é o meu filho do coração, assim como os outros também são.

É verdade que seu maridovmorreu de tanta tristeza pelo filho?

Acredito que sim, porque como ele tinha um problema muito forte de diabetes, a diabetes virou emocional e ficou fora de controle. Morreu deprimido por não ver o filho que tanto amava.

O que diria para a família das vítimas de Francisco?

Peço perdão a todas elas. Continuo sempre pedindo perdão para todas as mulheres que partiram.

A PALAVRAPB