Em 21 de maio de 1998, o Conselho Nacional de Trânsito editou norma que estabelecia a obrigatoriedade de cada veículo portar equipamentos de primeiros socorros.
Todo mundo correu para comprar os kits de saúde. Depois, o próprio governo constatou o óbvio: o que instrumentos de primeiros socorros, nas mãos de leigos, poderiam fazer para salvar vidas no trânsito?
Os kits sumiram.
Entraram em cena, então, os extintores (que não são obrigatórios em quase nenhuma frota do mundo). E todos nós fomos obrigados a comprá-los e instalá-los.
Mas ainda não era o bastante: em outra resolução, o Contran determina que, agora, era preciso trocar os extintores com carga de pó BC para o ABC.
Fizemos tudo isso para, ato contínuo, o órgão maior do trânsito nacional avisar que, a partir daquele instante, o extintor passaria a ser de uso facultativo.
A verdade é que as armadilhas se multiplicam no meio do caminho do motorista brasileiro. E sei que muito mais nos aguarda na próxima curva da história.
E este fenômeno ocorre graças a aberrações que prosperam no segmento automotivo, asfaltadas pelo oportunismo e pelo lobby de alguns fabricantes, que desvirtuam uma indústria séria.
Janelas são abertas para que determinadas empresas – e o Brasil concentra todas as fábricas automobilísticas do mundo – se antecipem e se preparem para atender demandas que elas mesmas criaram.
A nova armação já está na pauta da Câmara de Comércio Exterior.
A Camex se debruça sobre a possibilidade de incluir os chamados “carros verdes” na lista de produtos beneficiados pelo regime ex-tarifário, que reduz as alíquotas de importação de mercadorias não fabricadas no País.
A taxação atual de 35% pode vir a ser zerada, de acordo com a eficiência dos veículos.
A frota será renovada, mas a que custo?
A importação em massa desses veículos causará efeito negativo imediato sobre a balança comercial. E aumentará o fluxo de evasão de divisas.
O principal dano, porém, está na decisão de tão somente abrir as porteiras para a tecnologia alheia ao invés de construir a nossa.
Entramos, definitivamente, na contramão. E na marcha lenta.
Eu conheço bem esse ritmo. Há seis anos apresentei no Senado Federal Projeto de Lei que – pensava eu na época – seria uma semente fecunda para a modernização da frota brasileira.
Em seu escopo, o PLS 255/2010 abria o sinal verde para os veículos híbridos de propulsão elétrica, viabilizando a montagem em solo nacional, com “intercâmbio” do know-how tecnológico e qualificação da mão de obra brasileira.
A semente não frutificou. Por seis longos anos continuamos na inércia. Estacionados no mesmíssimo lugar.
Mas quem disse que essa é nossa pior opção?
Como diz o ditado popular, nada é tão ruim que não possa piorar.
Piorou. Não fizemos nada para viabilizar a tecnologia verde made in Brasil. E ainda admitimos a possibilidade de nos endividar, consumindo a tecnologia alheia.
E como neste País nunca se dá ponto sem nó, é conveniente pensar que essa medida favorecerá alguém. E alguns setores.
Mas de uma coisa tenho certeza: nem o Brasil nem os brasileiros estão incluídos.Empresário Roberto Cavalcante critica medidas de trânsito em novo artigo