DANIELA RIBEIRO VENCEU LUCÉLIO EM JP: ENTENDA ESTE ENIGMA…
Considerando as narrativas das correntes majoritárias nesta eleição, não podemos creditar que Daniela tenha sido beneficiada por nenhuma onda. Pois nem o lulismo nem o bolsonarismo tinham nela alguém a altura das exigências e do perfil que eles mesmo ecoam. Atentem bem, ela, tida como a irmã de um “golpista”, de um “traidor” de Dilma, herdeira do familismo tradicional agrário, e que tem, também no mesmo ágil e sagaz irmão, a pecha de ser temerista, por ser este, líder do presidente, e membro do partido que para muitos, é o maior símbolo de como a república atual está falida. O PP, que está da primeira a última página na Lava-Jato. Da primeira a última página. Pode abrir o inquérito de olhos fechados! No entanto, ela venceu esmagadoramente para o senado, mesmo na evoluída, independente e crítica João Pessoa. Mas como? Venham comigo…
Primeiro digo que fenômeno popular ela não o é, lhe falta envergadura de idealismo, pelo pragmatismo tático que foi sua eleição, digo que ela representa o mais do mesmo intensamente, e só. No entanto, algo fica a intrigar, e supera e muito o simplismo de dizer que ela é fruto do “toma lá da cá eleitoral” do venalismo do eleitor, e aí é que o enigma começa. Como explicar a vitoria dela na capital do estado, muito mais robusta, inclusive, que a votação do irmão do prefeito. Vejamos os números:
Daniela teve 175.280 votos x 117.573 votos de Lucélio. São 57.707 votos a mais que o irmão do prefeito e 67 mil acima de Cássio..
Isso disputando contra os candidatos do momento, um lulista ao extremo, o padre Luiz Couto, outro neo-girassol que seria Veneziano representando o Ricardismo, e colado com a alta votação de João Azevedo na capital. À ela, como vimos, não se pode creditar a vitória na capital, pela parceria seja com Cássio ou Cartaxo, ambos com votação parecida inclusive, mas bem abaixo dela. O prefeito muito menos, já que nem o irmão, nem seu fiel escudeiro Zennedy, ele elevou.
Descarto que tenha sido o bolsonarismo, ela não representa o novo e nem sequer vimos esforço dela neste sentido. Na nossa Jampa não podemos dizer que tudo foi resolvido a seu favor via BU, seria atestar contra os fatos no caso dela ao menos, ela sequer teria a força de uma máquina própria. Dizer que foram vereadores ou deputados unidos, seria surreal, na altura do desgaste da politica tradicional, e falar em ideologia da parte dela, muito menos ainda. logo, que evidência nos permite um solo seguro para explicar este case de sucesso eleitoral? Vos digo: uma improvável soma de pequenos fatores que interligadas criam aquilo que Maquiável chamava fruto da deusa Fortuna na política. Fortuna, uma velha cega com olhos nos pés, permitiu que o anti-lulismo puxasse voto útil para ela em nossa cidade, mesmo sem ela ser o perfil direitista-ético dos bolsonaristas, por outro lado, o ódio cego do anti-cassismo fez lulistas e ricardistas votarem nela sem que ela tenha os predicados de esquerdismo para tal – uma menos ruim. Para somar ainda mais, embora com menos vigor, uma insatisfação dos políticos profissionais com seus caciques de todos os lados a elegeu como a mais confiável representante destes no momento, e assim, muitos pediram voto para ela, numa rebeldia ligth, sem que a mesma nem fizesse o “faz me rir” acontecer do jeito que se comentam por ai, teve algo só de polo de ‘gravidade” nisso, mais isso que as conhecidas onças (quer algo mais paradoxal – de rir até). E, num jogo cruzado único, pela perspectiva útil das rejeições entre os mais fortes, todos os rancores tiveram nela o voto da desforra, do despeito, da “vingança” ou proteção contra algo ou alguém. De Luís Couto e Cássio, todos para com todos. A mulher serena, desfilando por tudo isso. Sem muito esforço, despretensiosamente, catalisou tudo. E só teve sucesso, por simplesmente, não representar nada de novo especificamente. Nada de eficaz. Nenhuma bandeira de Gestão Pública. Dane-se tamanho do estado, choque moral, ou etc e etc… sobre isso, o PP só sabe na hora. Toda hora assim. Por isso mesmo, a causa desta eleição vitoriosa é um primor “sem causa coletiva”, a ser estudado décadas à frente…
Trocando em miúdos, ela venceu mesmo sem representar nada ou ninguém dos que ai estão na moda. Foi “além princípios”, disso, só existe o sobre sí mesma, tipico da ideologia -jogo político- do PP e só. Tudo às vistas, cravados nas peripécias de seu irmão, sem subterfúgios ou esconde-esconde. Autentica nisso, nada há também contra ela, que só acumula amizades, até por isso: venceu. Vejam bem o tanto de paradoxos deste caso. E faz isso, ela e seu grupo, sem iludir absolutamente ninguém. Sem essa de esconder os votos do irmão nas tais reformas, ou do seu partido no dito golpe. Foi justamente nas quedas de braços entre atores principais, precisamente na guerra forte entre idéias, entre vaidades de ricardistas e cartaxistas, lulistas e bolsonaristas, entre anti-cassistas e cassistas, que em cada uma delas, ela, pela graça da fortuna saiu ilesa, como nos episódios do antigo desenho do cego desastrado Mister Magoo atravessando avenidas. Sua vitória é um fato interessante da realidade, uma pintura de nossos dias, e, um deleite gostosamente democrático. Efeito colateral raro, mas, passível de existir. Justo inclusive. E eu, eu prefiro esses acidentes de vitória do não-mérito por ausência de opinião, que uma ditadura cruel. Mil vezes isso. Viva a democracia e suas mil possibilidades… De experiências se vive. O Brasil viverá mais uma. Otimista, creio no melhor, na possibilidade da honestidade fincar. Pois pior ta difícil…
(Blog do renato Martins)