Dar o coração a Deus e a mão aos homens é o lema de um grupo de cristãos que se reune nas madrugadas da cidade de João Pessoa para levar não só alimento e roupas, mas, sobretudo, um abraço e amor aos moradores de rua. Cerca de 30 pessoas são atendidas pelos chamados Anjos da Noite que reservam os sábados para levarem a palavra de Deus aos excluídos da sociedade.
Eles creditam o trabalho social nas ruas de João Pessoa como sendo uma das ações do Ministério Anjos da Noite, que faz parte da Fundação Cidade Viva, localizada no bairro do Bessa, na Capital paraibana. O alimento distribuído e o conforto das palavras de cada integrante aos que estão vulneráveis, por ora ajuda, acolhe, mas não é o suficiente para transformar mentes, pessoas e espírito.
O público alvo é pobres, mendigos, menores abandonados, desempregados, homossexuais e prostitutas que vivem nas ruas. Para os integrantes dos Anjos da Noite, sem a proteção do Espírito Santo e a certeza de que Jesus Cristo é o principal motivo de estar na batalha, a ação não teria sentido.
Como funciona
Para a ronda social nas ruas, um grupo de aproximadamente 30 pessoas se reúne sábado sim, sábado não, no Centro de convenções Cidade Viva, às 21h. Desse horário até meia noite, eles fazem a preparação para a “batalha espiritual”. Além de cada um fazer um resumo de como foi a semana e pedir orações e cobertura espiritual, começam a entoar louvores e interceder por eles mesmos, pelas famílias, mas principalmente pelas pessoas que estão nas ruas e que serão encontradas pelo grupo.
Algumas equipes são formadas dentro do grupo. Segundo eles, cada um tem um dom dado por Deus e dessa forma, eles vão compondo as equipes de louvor, de intercessão, de evangelismo, de servir e de triagem.
Existem dois batedores – homens de moto que saem antes do grupo para mapearem os locais que estão os moradores. Dessa forma, o grupo ganha mais tempo indo direto ao local indicado.
Os Anjos pegam seus carros e saem em comboios para a missão de evangelizar. Sempre em harmonia com o líder do grupo Joaldi Andrade, seguem em direção a vários bairros da cidade, com alvo nas marquises, nos mercados públicos e ruas desertas do centro da Capital.
Geralmente estão dormindo, pois a madrugada está presente. Eles chegam alegres, acordando a todos, com café e pão nas mãos. Sentam-se ao lado deles e começam a conversar e a querer saber da vida de cada um como se fossem grandes amigos. Dessa forma, começa-se a ser criado um laço de confiança entre Anjos e excluídos e a linha tênue de distância começa-se a diminuir a cada instante.
Enquanto isso, as equipes de louvor e intercessão estão trabalhando. Para eles, a cobertura espiritual que os Anjos evangelistas precisam para se aproximarem dos moradores e poder realizar o chamado que Deus deu a eles, depende de oração e músicas de agradecimento e clamor a Deus.
Segundo o líder dos Anjos da noite, Joaldi Andrade, o perfil dos moradores atendidos é de maioria do sexo masculino, porém o número de mulheres e em grande parte grávidas vem crescendo ano a ano. Ele revela ainda que nas ruas é comum encontrar pessoas com dependência química, seja por drogas (principalmente o crack), como pelo álcool.
Como ajudar
O grupo recebe doações de artigos de higiene pessoal, lençóis, colchões, travesseiros, sapatos, meias, roupas, em bom estado para ser doado. Os objetos podem ser entregues no endereço: Rua Luzia Simões Bartoline, nº 100, bairro, Aeroclube, João Pessoa.
Relatos das ruas
Integrantes dos anjos contam que em uma das saídas às ruas, encontraram uma jovem de 19 anos, desde os quatro mora nas ruas da cidade. Aos oito anos de idade teve o primeiro filho, hoje são quatro. Três deles moram com a avó, no bairro do Multirão, em Bayeux. A mais velha, com a outra avó, na praia da Penha.
Uma família procriada pela brutalidade das ruas, pela selvageria da carne, dominada pelo estímulo da sexualidade doentia. Ela e o irmão, deficiente em decorrência de um disparo de arma de fogo, vivem em baixo de marquise. Os dois viciados em crack. E foi pelo vício que o irmão da jovem vendeu a única herança deixada pela mãe, já falecida, uma casa na comunidade do “S”. O irmão vendeu a casa a um traficante pelo preço de R$ 50.
Em uma das paradas, nas proximidades do Parque Solon de Lucena, no Centro, flagrante de um jovem atacando o outro com chutes, ameaçando a vítima com uma faca de cozinha. Tudo em função das drogas, de dívidas pelo tráfico.
PB Agora/blogdovavadaluz