Quando lecionei Filosofia do Conhecimento, passava aulas interagindo com os alunos sobre a importância do bom senso. Seria, inicialmente, experimentar a escolha de agir ou não agir, fazer ou não fazer, o que fundamenta, em alguns filósofos, como proceder a nossa conduta ética. Tal fundamento, segundo Aristóteles, orienta-nos de como nos conduzir, sob o ponto de vista moral, na sociedade; e digo, do que partir para o conhecimento científico. Adequado exemplo é o da maçã que caiu na cabeça do genial Newton, o que ele relatou ao biógrafo William Stukeley, e que foi a partir desse conhecimento vulgar ou bom senso, que procurou a causa de fruta não cair para a esquerda ou para a direita, mas diretamente na sua cabeça. Essa experiência o teria inspirado aos caminhos da sua Lei da Gravidade. Quando se buscam as razões ou as causas das coisas ou dos seus fenômenos, sai-se do conhecimento vulgar ou do bom senso para o conhecimento científico.
Na nossa infância, quando ainda não somos tomados tanto pelo bom senso ou pelo medo, chegamos a satisfazer a curiosidade, enfiando o dedo indicador numa tomada elétrica. A experiência do choque ensina o conhecimento vulgar daquele perigo até o fim da vida. Nesse sentido, para reflexão da juventude, quanto mais experiências vivenciamos, mais sabemos das coisas, adquirindo a sabedoria e o discernimento dos mais velhos, acumulando sabedoria prática e bom senso. Daí, os idosos são tidos como sensatos, prudentes, discretos e equilibrados, evitando o perigo ou ações ou decisões que consequentemente tenham resultados inadequados ou desastrosos.
As crianças parecem não ter o devido medo das alturas. Tenho visto a meninada saltando a janela e andando e até correndo na balaustrada do parapeito dos mais altos edifícios. Isso causa espanto o suspense na TV, tais experiências não as convenceram de que enfrentavam o abismo, tampouco sentiam a autodefesa do “medo intuitivo” das alturas… Quando menino, no sítio em Pilar, corri atrás de uma cobra, atraído pela sua beleza e cores, e hoje vejo netos querendo abraçar cachorros para acariciá-los, não fazendo diferença entre dogue alemão, pitbull, gatos ou pets. Até agora somente , por amor aos animais, Otto foi atacado, porque entrou no canil do border collie do primo Mateus, que se servia de um apetitoso pernil.
Recentemente, Gerson de Melo Machado, conhecido no seu bairro por “Vaqueirinho”, foi transformado em notícia nacional. Ele já tinha tentado viajar, escondido num trem de pouso, à África, para se encontrar com leões e se dedicar à domação dessas feras. Não logrou êxito para o voo. Por aqui mesmo, recorreu ao Zoo, sem medo da alta palmeira da Bica, desceu à jaula, certamente para acariciar a leoa, dona e ciosa do recinto, Leona estranhou a visita, arrancando-o da árvore pelas pernas e pelo pescoço. Gerson morreu sem ter conseguido as carícias dos seus sonhos…
De Proust, em O Tempo Reencontrado, “Mais vale sonharmos a nossa vida do que vivê-la, embora vivê-la seja também sonhar”. Era um sonho de Vaqueirinho, em que para ele sempre havia algo de profético, e antes de ser fato, vem sendo notícia.