Ontem, no bar, alguém pediu um peixe e saiu perguntando como era feito. Parecia um cozinheiro refinado, desses de TV fechada.
Tanto insistiu que vieram lhe atender, por ordem, depois do garçom: o chefe, o cozinheiro e, por fim, o dono.
Ao dono, ele só fez uma pergunta:
— A sua família faz refeições aqui?
A resposta foi precisa:
— Sim! Nossas refeições são daqui.
Com as explicações, ele pediu o prato. Estava com a família.
Daqui a pouco, uma notícia extraordinária, no rádio, avisava que o Governador PÚBLICO da Paraíba havia se sentido mal, e fora levado a um hospital PRIVADO para tratamento, onde, possivelmente, seria submetido a um procedimento cirúrgico.
Ao ouvir a notícia, o garçom, que já estava atendendo outro cliente — ele precisa receber a sua parte no serviço — gritou do fundo do salão:
— Viva o SUS!
Ninguém reagiu de imediato. Mas alguns sabiam:
ele espera há alguns anos por uma cirurgia da filha, em hospital PÚBLICO,
e já está juntando o que ganha — prato por prato, gorjeta por gorjeta —
para pagar, um dia, o mesmo procedimento em hospital PRIVADO.