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Assédio e aprendizado: histórias de uma mulher viajando o mundo sozinha

Depois de passar mais de um mês andando apenas de calças e blusas de mangas longas, brasileira conta sua experiência ao sair de batom vermelho no Marrocos

Aos 25 anos e depois de perceber que não havia nada que a prendesse no Brasil, Rafaela Carvalho decidiu viajar pelo mundo. Após se formar em jornalismo, trabalhava como freelancer e tinha juntado dinheiro enquanto fazia faculdade: “Tinha 25 anos e nunca tinha feito nada por mim. A minha vida toda eu tinha vivido dentro do roteiro”.

Foi então que ela tomou a decisão drástica de viajar sem data certa para voltar: “Percebi que, na verdade, o roteiro não existia e tenho de escrever a minha própria história”.

Ela partiu para seu primeiro destino, a Hungria, em 6 de agosto de 2015. “Fiquei desesperada quando cheguei, pensei: ‘o que eu tô fazendo da minha vida’”. Assim que chegou a Budapeste, a vontade da jornalista era cancelar tudo e voltar para casa.

Rafaela Carvalho em seu primeiro destino: Budapeste, na Hungria
Arquivo pessoal

Rafaela Carvalho em seu primeiro destino: Budapeste, na Hungria

Mas o impulso durou pouco. Rapidamente Rafaela, que se considera extrovertida, fez amigos por todos os lugares em que passou: “Percebi que conseguia pertencer a qualquer lugar para o qual eu me abrisse um pouco”.

Apesar de já ter um dinheiro reservado para passar esse tempo viajando, ela faz de tudo para economizar. As hospedagens de Rafaela, por exemplo, são sempre gratuitas: na maioria dos lugares pelos quais passou, ela fez trabalho voluntário em troca de um lugar para ficar.

“No Marrocos, ser mulher era uma dificuldade”

“No Marrocos acostumei a ser assediada todos os dias”, conta Rafaela, que teve muito medo durante seu primeiro mês no país. A partir do segundo mês ela decidiu responder aos assédios que sofria na rua, além de testar a tolerância dos homens.

Em um dia usou vestido, no outro deixou os ombros à mostra e ouviu “muita coisa de homem”, diz. Depois de dois meses de experiência no Marrocos, ela passou batom vermelho. Nesse dia, dois homens a perseguiram. Eles falaram em árabe com ela, que respondeu em francês, sem simpatia. O assédio foi tanto que chegaram a segurar o braço da brasileira.

Rafaela em Marrocos
Arquivo pessoal

Rafaela em Marrocos

Com o trabalho voluntário, que era dar aulas de inglês para jovens, Rafaela pode entender um pouco mais da cultura machista do país em que estava: “No Marrocos, [para os homens,] tudo o que a mulher faz quando ela sai na rua, ela está fazendo para agradar os homens”.

Rafaela relata que ainda sofreu assédio em outros países, como na Holanda, mas foram episódios isolados que não se comparam à realidade marroquina, que ela compara com a brasileira: “É muito parecido com o Brasil, não tive tanto medo porque estou acostumada a sair sozinha em São Paulo”.

Depois de tanto tempo fora de casa e viajando sozinha, Rafaela percebeu que o feminismo e a sororidade são ainda mais importantes em situações como esta: “Mulheres que fazem isso [viajam sozinhas] vão encontrar muita gente nessa situação e fica mais fácil dar as mãos”.

Planos? Quase nenhum. Da Inglaterra, ela vai passar pela Alemanha e voltar para Budapeste, onde pretende ficar um mês na casa de amigos. Depois, ela ainda não sabe por onde vai passar: “Tem os lugares que quero ir e minha missão é ligar os pontos enquanto tento trabalhar e economizar. E ainda tem muita coisa que quero fazer”.

Ig