Gosto de Portugal. Amo Lisboa. Tenho uma música de louvor a Portugal e a Lisboa, cujo poema eu compus enquanto subia e descia as ladeiras do bairro do Chiado, em uns dias de outono na cidade, e Sthel fez uma bela melodia, arranjada por Eduardo Costa.
Conheci Roberto Leal, por volta de 1974/75, por um disco que era tocado no Bar de Arnaldo, lá em Jatobá d’eu menino. As faixas renovavam aos ouvidos o fado e o balanço melódico português d’antanho. Tanto curtíamos o disco, que Bebé inventou uma banda (Os Cachopas, porque as latas vinham de uma cera de limpar pisos, com esse nome) e fazia paródias das músicas.
Uma das músicas era sempre saltada, porque mais lenta, num ritmo diferente das demais.
Creio que depois ouvi aquela música lenta numa publicidade de um azeite português.
Mas nada que me empolgasse, pelo menos voluntariamente.
No dia 25 de abril de 1984, eu estava no grupo de estudantes da UFPB que organizou uma manifestação em pleno Ponto de Cém Réis, na capital da Paraíba, para chamar a atenção do povo à votação da Emenda Dante de Oliveira, ‘das Diretas Já’, no Congresso Nacional. Havia um enorme cartaz com os nomes de todos os representantes da Paraíba, para informar a posição de cada um.
Eu estava em cima do palanque, quando alguém gritou meu nome (eu tomara que tenha sido Dinarte) e informou que naquele data comemoravam-se os 10 anos da Revolução dos Cravos, que derrubara em Portugal os 40 anos da ditadura Salazarista. Corri para avisar o locutor, que entendeu o recado e pediu para cantarmos juntos a música Grândola Vila Morena, de Zeca Afonso, que é o Hino da Revolução. Começamos a cantá-la e eu me peguei acompanhando inteiramente. Terminei aos gritos.
Mas de onde eu trouxe aquela memória?
Eu não conhecia a música.
Eu havia cantado tudo como se já a conhecesse de muito tempo?
Não descobri tão cedo.
Anos depois, garimpando discos de vinil num sebo em Brasília, num dos sábados a que me dava a essa tarefa deliciosa, com o Maestro Ely, hoje morando em Lisboa, eu encontrei o disco do Roberto Leal e fui ouvi-lo inteirinho – para lembrar de Jatobá, óbvio. Na 4ª faixa do lado A, estava a música. Ouvi. Repeti diversas vezes e comprei o disco.
Eu estava me dizendo: Foi no Bar de Arnaldo, em Jatobá, que eu encontrei a Revolução dos Cravos – e eu nem sabia.