Na campanha presidencial do ano passado, Dilma acusou o rival Aécio Neves de conspirar contra o Bolsa Família. Na falta de melhor evidência, brandia uma entrevista em que o economista tucano Armínio Fraga propunha auditar as contas dos bancos públicos. Eleita, Dilma já jogou no mar quase todos os compromissos que assumira com o eleitorado em 2014. Mesmo a promessa de jamais tocar nos investimentos sociais já foi parcialmente desrespeitada. Podaram-se verbas de programas como o Minha Casa, Minha Vida e o Pronatec. Se depender do relator Ricardo Barros, o intocável Bolsa Família também será tocado. “Precisamos ser racionais, e não agir com emoção, não vou votar um Orçamento deficitário”, disse o deputado. Ricardo Barros trabalha com a matéria-prima que recebeu do governo: um Orçamento deficitário para o ano que vem, com um rombo de R$ 30,5 bilhões. Para cobrir o buraco, o Planalto sugere recriar a CPMF, que renderia uma coleta anual de R$ 32 bilhões. O problema é que o Congresso não se dispõe a ressuscitar o tributo. Dando de barato que a nova CPMF é uma iniciativa natimorta, o relator do Orçamento rende-se à realidade: “No Bolsa Família há uma grande rotatividade. As famílias que estão no programa serão mantidas e as que saem não serão substituídas, é simples o raciocínio.” O efeito do corte também será simples. A eventual redução do Bolsa Família injetará raiva na alma de eleitores que asseguraram ao PT um colchão de votos que fez toda a diferença nos pedaços mais pobres do mapa eleitoral do Brasil, sobretudo no Nordeste e no Norte. “Eu quero votar um Orçamento em que o mercado acredite”, afirmou Ricardo Barros. Resta saber se Dilma está disposta a protagonizar no seu segundo mandato o papel de uma espécie de Napoleão se descoroando.