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A DIFÍCIL VIDA EM BRASÍLIA PARA UM EX-POLÍTICO SEM O BROCHE( basta calçar as sandálias da humildade ) – Por Júnior Gurgel

A versão do ex-senador Cássio Cunha Lima, justificando sua presença em Campina Grande para ajudar na reeleição do primo Bruno, e eleger seu sobrinho Ronaldo Cunha Lima Neto vereador, não é das mais convincentes. Morando atualmente em Brasília, cidade que conhece desde a mais tenra idade, sabe que os valores da Capital política do país são outros. O “tratamento” é aferido pelo broche na lapela do paletó.

Não importa a atividade profissional, excetuando-se os bilionários – talvez três ou quatro residam em Brasília – os broches são senhas de acesso ao fechado “clube do poder”, frequentado pelo Parlamento, Poder Judiciário, Poder Executivo, Deputados Distritais e Governo do DF. Sobre eles, os holofotes da Nação.

Agendas estouradas, sobram convites para almoços com presidentes das centenas de grandes entidades classistas; filas de empresários a sua procura; jantares e festas nas Embaixadas; viagens em comitivas ao exterior; cortesia de Banqueiros, grandes investidores, tapete vermelho para ser recebido pela elite econômica do país.

A vida de um político sem mandato em Brasília, é deprimente. São esquecidos em quatro anos. Pegam a fila para tratar de assuntos, com seus ex-colegas – quer sejam do parlamento (Senado e Câmara) Ministérios, STJ, TST, STF, STM -. o celular começa a ter ligações recusadas. O passado ficou no ontem, e o hoje é dedicado para assegurar seu espaço no amanhã. Um pedido atendido é considerado como favor concedido, em memória dos velhos tempos. Se repetido, torna-se abusivo. E o pior, é carregar consigo o semblante de derrotado, na obrigação de contar repetidas vezes a história de seu infortúnio nas urnas. Em seguida, vem a cobrança: E por que não volta a disputar? Seu amigo Aécio Neves foi presidente da Câmara, Senador, candidato a Presidente da República e hoje é deputado federal.

Acompanhei a trajetória de alguns “ex” da Paraíba, Rio Grande do Norte e do DF. Ex-Ministro do STM, José Luiz Clerot, querido no TSE por ser deputado federal da Paraíba. Sem mandato, o ostracismo o alcançou. Só Sarney, o atendia. Por onde anda Carlos Ayres de Brito, Joaquim Barbosa, José Serra, Aloysio Nunes… Até o próprio FHC? Completamente esquecidos.

Sarney previa isto. Quando foi presidente, na Constituinte de 1988, criou um Estado “Amapá” para voltar a política como senador e presidente do Congresso no governo FHC.

A permanência de Cássio em Campina Grande, após o primeiro turno, sugere que sonha em voltar à vida pública. Foram-se trinta anos. Como começar a vida, escolhendo uma atividade – qualquer que seja – se nada aprendeu sobre ela desde a juventude? Quem ingressou na vida pública aos 21 anos, elegendo-se deputado federal, em seguida prefeito de Campina Grande por três vezes, governador do Estado (duas vezes) e senador da república, não sabe fazer outra coisa, a não ser política.

No último sábado (19/10/2024), na gigante manifestação promovida pelo candidato Bruno Cunha Lima, Cássio tomou um “banho de povo”. Nas calçadas das ruas por onde passou a carreata, viu o povo gritar seu nome, acenar, procurar pegar em sua mão. Por momentos, em sua mente, recordações dos velhos tempos o convenceu que este sempre foi seu mundo. Se seu propósito em permanecer na cidade foi uma sondagem ou prospecção sobre a possibilidade de volta à vida pública, basta calçar as sandálias da humildade, escolher palavras certas, ouvir mais que falar, e abrir-se ao diálogo interagindo com as atuais lideranças políticas estabelecidas. Recomeçar como deputado federal é um grande triunfo. “Qualquer roupa, veste um nu”.

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