“Em dias da semana passada cometteo-se bárbaro crime em Alagoa Nova. Bento de Moura, proprietário da fazenda S.José, a uma légua distante da villa, em legitima defesa, matou Valdevino de Tal que o provocara em sua própria residência, e preparava-se para entregar-se ás justiças locáes, quando, dous dias após o facto, foi a sua casa cercada por um bando de scelerados que o assassinaram barbaramente, acutilando e ferindo a dous dos seus filhos de nomes José e Francisco de Moura que se acham em estado desesperador. Os assassinos foram a casa da victima, a pretexto de diligencia policial determinada pelo Delegado do Termo e levaram, informã o-nos, um mandado summario, assinado pelo respectivo Delegado M unicipal, recomendando a prisão do referido Bento Moura vivo ou morto. Esse mandado não chegou a ser intimado por quanto logo á chegada na residência do assassinado da força legal composta, de inimigos figadáes, esta consumou o atentado, o que deixa ver que o intuito da diligencia não era a prisão e sim a eliminação do infeliz homem. José e Francisco foram victimas de sua dedicação, do seo amor filial, que os levou á defesa heroica do seo pai, sendo esfaqueados deshumanamente.A residência do inditoso Bento, transformou-se em local sinistro, onde, poucas horas depois do luctuoso crime, os cachorros alimentava-se com o sangue coagulado das victimas!Referimos o facto ao publico como nos foi comunicado por pessoa fidedigna e não acrescentamos o menor commentário ao modo terrível por que, no inte rior do estado a lei vae sendo desagravada”.t>
A notícia acima foi publicada na primeira página do Jornal O Commercio, de 10 de maio de 1900. O diário era um Órgão das Classes Conservadoras do Estado da Parahyba, propriedade de uma Sociedade Anônima, como consta abaixo do titulo. Seu diretor e responsável chama-se Arthur Achilles e marcou época com seu jornalismo independente e corajoso. No governo do desembargador José Peregrino de Araújo as oficinas de “O Commercio” foram depredadas. Achilles valeu-se de tipografia no Recife e continuou a publicar sua folha. Enfrentou cara a cara o então Chefe de Polícia, Simeão Leal, a quem responsabilizou pelos prejuízos materiais e pelo crime à liberdade de impren sa. À época, seu jornal encetava campanha contra uma emenda constitucional que pretendia diminuir a idade exigida para se exercer o cargo de governador, justamente para beneficiar Simeão Leal, o preferido do Chefe do Executivo.
Uma ação policial disfarçada como a narrada acima, só mesmo um jornal de oposição teria coragem de noticiar. Estranha que, sendo um órgão das classes conservadoras, ousasse criticar o governo. Quem paga imposto não costuma se afastar do poder, tão pouco, enfrentá-lo. Talvez por isso, mais adiante, desaparece a referência à propriedade de uma sociedade anônima. No alto da primeira página aparece, apenas: “Editor responsável Arthur Achilles”.Sem proximidade com o governo, em todos os tempos, o principal mantenedor dos jornais em circulação, “a cotovia madrugadora dos interessas da Paraíba” como foi chamado por Castro Pinto, procurou sua sustentação financeira na iniciativa privada. Os fármacos eram os principais responsáveis pelo caixa do jornal. E como eram interessantes os reclames de então:
“REGULADOR DA MADRE BEIRÃO- O Regulador da Madre Beirão é de efeitos certos e seguros no tratamento das doenças das senhoras. É “poderoso” tonico “antepasmódico” e sedativo, para vigorar os “órgãos gestativos” da mulher.O Regulador da Madre Beirão previne e cura os incommodos de dores que aparecem quando o fluxo menstrual é escasso ou excessivo e regulariza os períodos menstruais. Não falha, é eficaz. À venda nas principais pharmacias e drograrias de todos os Estados.Depositário na Parahyba do Norte, J.Rabelo”.
MAGNÉSIA FLUIDA PERINI – Especifico de absoluta pureza contra as febres epidemicas, moléstias do fígado, intestinos e estomago.Fabrica, rua da Misericordia 82, Rio de Janeiro”
CAFÉ BEIRÃO – Celebre remédio contra sezões e todas as classes de febres.PÍLULAS ANTE DYSPEPTICAS DO Dr,. Heinzelman.PILULAS FERRUGINOSAS e PILULAS EXPECTORANTES do dr. Heinzelman, encontram-se estes afamosos medicamentos na Pharmacia Londres.
Interessante notar que já no inicio do século passado, havia preocupação com os problemas de disfunção erétil. Um remédio era recomendado para minorar esse padecimento que atinge a muitos dos meus leitores e já preocupava os de Arthur Achilles. O viagra da época chamava-se EPECIFICO ÁUREO DE HARVEY, e dizia sua propaganda em O Commercio:Serve para debilidade nervosa, espermatorréa, prostração nervosa, moléstias dos rins, emissões involuntárias e fraqueza dos órgãos genitais. Cura infalível.
O custo desses reclames daria para se manter, com suor e lágrimas, a compra da tinta e do papel indispensável à publicação da folha. O jornalista morreu pobre e, seu único bem durável, um relógio de algibeira em ouro, foi levado por um visitante noturno. Os tempos eram outros! (NAS TRANSCRIÇÕES MANTIVE A GRAFIA DA ÉPOCA)
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Alexandre Macedo