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Blog do Vavá da Luz

PICO DO JABRE SEM CONEXÃO (Marcia Dementshuk)

Uma turma de astrofotógrafos acabara de chegar ao Casarão do Jabre, um hotel nas imediações do ponto mais alto do Estado da Paraíba, o Pico do Jabre, com 1.197 metros de altitude. Todos desceram da van com os equipamentos à mão. O trajeto até ali teria rendido boas fotos, mas a ansiedade era pelo click da lua que eles tirariam naquela noite fresca, banhada pela luz do próprio satélite.

“Essa região é bastante frequentada por grupos de astrofotógrafos da Paraíba, o clima é ameno, o céu é limpo na maior parte do ano e a região é uma das mais escuras do Estado”, indica Dalvanete Rodrigues Dantas, gerente do Casarão, na Serra do Teixeira.

Dalvanete Dantas procurou seu telefone celular para ligar para o astrofotógrafo Marcelo Zurita, integrante da Associação Paraibana de Astronomia, para comentar que os colegas haviam chegado. Digitou, mas o sinal era fraco. Ela caminhou um pouco, procurou outra posição e nada, sem sinal. Tentou novamente… Desistiu. Embora em suas costas o Pico do Jabre estivesse visível com suas imensas antenas de telecomunicações, Dalvanete não conseguia completar a ligação local por falta de conexão: um paradoxo.

“Isso acontece com todos os meios de retransmissão, eles servem apenas como um ponto para retransmitir as microondas das operadoras e lançam o sinal à longa distância”, explica Percival Henriques, presidente da Associação Nacional de Inclusão Digital (Anid). Segundo ele, “não há interesse por parte das grandes empresas de telecomunicação em criar programas de telecomunicação que atendam regiões com poucos habitantes, como é o caso no Pico do Jabre”.

De fato, o acesso à internet usada no Casarão é transmitido via rádio, por um pequeno provedor. “É comum esse provedor ter que buscar o sinal de longe e, por isso, não consegue oferecer um acesso com mais capacidade de transmissão de dados. A internet fica lenta e cara”, analisa Percival Henriques.

Comunidade almeja formação do Parque Nacional da Serra do Teixeira

O Pico do Jabre fica ainda mais alto contando até a ponta das antenas instaladas no topo. Algumas delas já foram desativadas e substituídas, mas as estruturas antigas permanecem como um lixo tecnológico. O lugar é uma Unidade de Conservação Estadual e o esforço dos habitantes da região é que ele esteja incluído na categoria de Parque Nacional.

“Desde 2009 temos um estudo concluído e enviado para o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão federal pelo qual essas Unidades de Conservação são formadas. A existência do Parque Nacional Serra do Teixeira irá ampliar a área de preservação e garantir a proteção de uma área onde há uma biodiversidade única no Brasil”, Ressalta Joaquim Neto, coordenador da ONG SOS Sertão.

Subindo o Pico, a vegetação da caatinga dá lugar a espécies vegetais típicas da Mata Atlântica, por causa das condições do meio ambiente. Uma ilha verde no semiárido. Na área proposta para a ocupação do parque, de 60 mil hectares, os estudos registraram 132 espécies vegetais sendo seis delas incluídas na lista vermelha de espécies ameaçadas de extinção. (Fonte: Estudo para Subsidiar a Criação de Unidade de Conservação de Proteção Integral na Serra do Teixeira – Paraíba).

“Uma coisa é certa: para termos força no Ministério do Meio Ambiente para a formação deste Parque Nacional precisamos concentrar os esforços da comunidade, dos pesquisadores e, principalmente, da classe política, quem detém o poder de articulação em âmbito federal”, argumenta Joaquim Neto.

Pedra do Caboclo: chapéu de cangaceiro

A formação da rocha, olhando de dentro para fora da gruta na Pedra do Caboclo, mostra um típico chapéu de cangaceiro. O modelo de um dos chapéus usados por Lampião poderia ter sido inspirado ali. A gruta fica na área do Parque Estadual do Pico do Jabre, esconde inscrições rupestres e o local atrai observadores de pássaros.

“Cancão, gavião ripino, cinco espécies de rolinha, xexéu, casaca de couro, canário da mata, galo de campina, jacú, lambu, cordoniz, juriti, gavião cauã, andorinha, esses são os mais comuns que vemos por aqui”, revelou o condutor Paulo.