O MHN ainda nas instalações do antigo Museu de Arte da UEPB
No último sábado, na boquinha da noite, recebi um documento do amigo Professor Juvandi de Souza Santos dando conta de que o Museu de História Natural da UEPB tinha finalmente recebido o seu certificado de registro de Museu pelo Instituto Brasileiro de Museus, o IBRAM. A mensagem emocionada confirmava: “Chegou, nosso Museu agora tem certificado!”. Isso me fez voltar no tempo por meandros sinuosos, testemunha que fui de uma luta incessante pelo desenvolvimento da ciência de nossa amada Parahyba e o quanto houve luta e suor para, enfim, o MHN ser efetivado e reconhecido, do sonho ao reconhecimento.
Lá pelos idos de 2009, Prof. Juvandi conseguiu elaborar um projeto e aprová-lo junto as instâncias da Universidade Estadual. Foram alguns anos se dedicando a pesquisa por todo o interior do nosso estado recolhendo peças e fazendo amizades, criando uma rede de comunicação que pudesse desenvolver as pesquisas principalmente no que se referia a arqueologia e paleontologia. Três anos antes, participei com ele da criação da Sociedade Paraibana de Arqueologia e paralelamente ele criou um Laboratório na UEPB (onde sou colaborador) de onde surgiu o sonho do Museu, que poderia ser utilíssimo para a pesquisa de alunos da Universidade em diversas áreas do conhecimento como também um grande atrativo para a toda a população. Naquele momento ele conheceu um Professor recém-admitido na Universidade, o Márcio Mendes, paleontólogo mineiro que logo se uniu ao sonho que finalmente se tornou o Museu de História Natural, o primeiro do estado nessa linha e um dos poucos no Nordeste.
Uma das atividades fundantes de todo esse cenário foi a escavação paleontológica na Lagoa Salgada, zona limítrofe entre Areial, Pocinhos e Montadas, um interessante lago de água salobra que curiosamente é a nascente de um dos rios mais importantes do estado, o Mamanguape. Na Lagoa afloraram fósseis da megafauna pleistocênica, animais que ali morreram há alguns milhares de anos e ficaram soterrados até que obras para aumentar a capacidade de acúmulo de água os descobriram. Os Profs. Juvandi e Márcio empreenderam essa escavação onde tive a oportunidade de conviver e aprender muito com biólogos que integravam a equipe. Toda a coleção escavada faz parte do acervo do Museu que ocupou duas salas do prédio do antigo Museu de Artes (2009) no Açude Novo e pouco mais de um ano depois foi para a sua atual instalação no prédio da antiga Faculdade de Administração da UEPB, por trás dos Correios, no coração de Campina Grande.
Prof. Juvandi (azul) e Márcio Mendes (ao seu lado), ainda vemos Dennis Mota e Elnathan Monteiro – Areial-PB
O querido e saudoso amigo Balduíno Lélis me disse, certa vez, que era encantado por museus justamente pelo fato de que ele é uma janela para observarmos e estudarmos o passado e sabermos quem somos. Foi nesse ideal que ele foi mentor de várias casas de memória e certamente iria admirar a proposta do MHN. São muitos saberes envolvidos, várias coleções que identificam a nossa região, conservando nosso acervo arqueológico, faunístico, florístico, geológico, espeleológico e paleontológico. Ali vi de perto inúmeros alunos e alunas se ocupando em seus trabalhos de conclusão, dedicados ao estudo do acervo e participando da organização.
De tão grandioso, o projeto não possui – ainda – toda a estrutura digna de que necessita e talvez nesse afã, tenha surgido a ideia do Museu Itinerante, uma exposição de peças e artefatos em redomas de madeira e vidro, além de banners que desde 2012 exibe um pouco do que é o Museu em escolas, no saguão da universidade, em feiras como a antiga Fetec e em alguns municípios onde são desenvolvidas pesquisas.
Chamada de capa do Jornal A União
Esse certificado é o reconhecimento de um trabalho sistêmico que atrela o Laboratório de pesquisas, a Revista Tarairiú divulgando os trabalhos científicos e o Museu de História Natural, fazendo a ponte com a comunidade. Parabéns Professor Juvandi, olhando para o início de tudo, tenho certeza que a luta não foi em vão e mesmo antes desse registro, o reconhecimento de um sem número de estudantes já era suficiente para você que, simples como o é, empunha a bandeira do idealismo tendo como única missão e prazer a preservação do patrimônio cultural e da nossa história.
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