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CLUBE DE HISTÓRIA EM : Stella, princesa dos céus

Stella, princesa dos céus
— Stella! — chamou Simão. — Stella! Olha! O céu está a arder!
— Não está nada, Simão — disse Stella, — é o Sol que se vai deitar.
— Mas por que está tão vermelho? — perguntou Simão.
— Não vês? É porque vestiu um pijama encarnado.
— Um pijama? — espantou-se Simão, — como o meu?
— Claro! — disse Stella. -— E quando a Lua chega, envolve o Sol num grande cobertor
estrelado.
— Onde é que o Sol dorme? — perguntou Simão. — Numa cama?
— Numa nuvem fofa — respondeu Stella, — e de manhã, o Sol salta para o céu… Assim!
— Exceto quando está a chover — disse Simão.
— Pois — disse Stella, — quando chove, o Sol fica a dormir até mais tarde.
— Já sei! Vamos acampar aqui fora, esta noite! — disse Stella.
— Aqui fora? Mas é muito frio e escuro.
— Traremos cobertores e uma lanterna.
— E os mosquitos? — sussurrou Simão. — Ou as traças gigantes?
— Anda lá, Simão! — chamou Stella.
— Escuta! — gritou Simão. -— Era um lobo?
— Os lobos não coaxam, Simão. Era uma rela.
— As relas são tão grandes como os lobos? — perguntou Simão.
— São tão pequenas que cabem no teu bolso.
— Não há espaço no meu bolso — disse Simão, — está cheio de bolachas.
— As relas adoram bolachas — disse Stella.
— Este sítio é perfeito; vamos ver a Lua subir, vinda do lago.
— A Lua vive no lago? — perguntou Simão. -— Ela sabe nadar?
— Não, ela vive no céu — respondeu Stella, — ao pé das estrelas.
— Então a Lua sabe voar? Tem asas?
— A Lua flutua no ar — explicou Stella, — como um balão.
— E quem segura na ponta do cordel? — perguntou Simão.
HU! HU! HU!
— O que é aquilo? — sussurrou Simão.
— É uma coruja — disse Stella, — quer saber
quem somos.
— Esta é a Stella, e eu sou o Simão.
— Já viste como os morcegos voam depressa?
— disse Stella.
— Não ficam presos no cabelo das pessoas? — perguntou Simão.
— Não, os morcegos têm medo das pessoas. Eles não se aproximam de nós.
— Eu não tenho medo de morcegos — disse Simão, — nadinha.
— Então vais apanhar um com a tua rede, Simão?
— Oh, não — disse Simão, — vou apanhar uma estrela-cadente.
— Só se fores rápido como um raio — disse Stella.
— Ora, vai ser fácil — disse Simão, — a relva está cheia de estrelas.

— Não são estrelas, são pirilampos — disse Stella. — Iluminam o caminho aos outros insetos.
— Queimam? — perguntou Simão.
— Não! Fazem cócegas! Queres pegar num, Simão?
— Acho que prefiro vê-lo voar — respondeu Simão.
— Quem desligou a Lua? — gritou Simão. — Não vejo nada.
— Foi uma nuvem que tapou a Lua, Simão.
— Olha! — sussurrou Stella. -— Uma família de guaxinins!
— Estão a usar mascarilhas. São ladrões?
— Não, vão a um baile de máscaras — respondeu Stella.
— Deve haver milhões de estrelas no céu! — exclamou Stella. — Ali está a Ursa Maior… e ali a
Via Láctea. Não é lindo, Simão?
— Parece que a Lua entornou um copo de leite — disse Simão. — Um copo muito grande.
— Aquela é a Estrela Polar… que nos indica o Pólo Norte.
— Para um urso polar achar o caminho para casa, se se perder?
— Claro, basta-lhe seguir aquela estrela.
— Então e se eu me perder?
— Podes seguir-me a mim — disse Stella.
— Como é que tu sabes tanto acerca das estrelas, Stella?
— Foi a Avó que me ensinou, no verão passado. Agora, sempre que olho para as estrelas,
lembro-me dela.
— Eu lembro-me da Avó sempre que
cheiro as flores — disse Simão.
— Tenho saudades dela —
acrescentou Simão.
— Vamos visitá-la um dia destes —
propôs Stella.
— Vamos — sussurrou Simão.


Marie-Louise Gay
Stella, princesa dos céus
Lisboa, Livros Horizonte, 2004