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Blog do Vavá da Luz

CLUBE DE HISTORIA EM : Somos os jardineiros Somos os jardineiros.

Somos os jardineiros Somos os jardineiros.

Embora esta afirmação pareça óbvia, nem sempre foi assim. À semelhança
do nosso jardim, também nós começamos muito pequeninos e vamo-nos
desenvolvendo com o tempo. Há quem diga que um jardim cresce a partir das
sementes lançadas à terra, mas nós temos uma perspetiva diferente: um jardim só
cresce se perseverarmos, mesmo quando não somos bem-sucedidos. Um jardim dá
muito trabalho, mas o mesmo se pode dizer de tudo
o que verdadeiramente importa na vida.
A história do jardim da nossa família
começou com um vasinho de fetos. O pai
encontrou-o por acaso enquanto andava às
compras. Achou a plantinha tão mimosa que
logo pensou em oferecê-la à mãe. E que feliz
ela ficou quando a recebeu!
Somos os
Jardineiros
Escolhemos uma janela banhada de sol e colocámos o pequeno feto no
parapeito. Pareceu-nos o local indicado para a plantinha crescer com saúde. Nessa
altura, éramos ainda muito pequenos, mas todos nos recordamos das nossas visitas
diárias ao feto para o regar e
conversar um bocadinho.
E de repente, PUM! Para
grande surpresa nossa, o feto
morreu. Morte por excesso de
hidratação, que é uma maneira
sofisticada de se dizer que a
regámos em demasia. Olhando
agora para trás, apercebemo-nos
de que cada um de nós a regava
diariamente, o que foi manifestamente exagerado para uma plantinha tão pequena.
Gostávamos tanto do nosso feto que, por amor, o matámos. Um pequeno desaire
como este é bem capaz de desencorajar algumas pessoas, mas nós nunca
considerámos a possibilidade de desistir.
Fomos, por isso, à biblioteca, fizemos as nossas pesquisas e aprendemos
que os fetos são plantas delicadas que preferem a sombra. Ao que parece, as folhas
de uma planta conseguem comunicar connosco e dizer-nos aquilo de que
necessitam.
Também aprendemos que a maior parte das plantas tem boas maneiras:
não gostam de beber de um trago só; preferem ir bebericando. LIÇÃO APRENDIDA!
O nosso pai arranjou-nos um novo feto e, com ele, chegou uma NOVA
ESPERANÇA. Desta vez, colocámo-lo em cima do piano, precisamente do outro lado
da sala onde o sol não incidia diretamente. Elaborámos um calendário para cada um
de nós a regar na sua vez e lhe dizer um monte de coisas bonitas. O feto número
dois foi, assim, crescendo, viçoso, até que, por fim, a mãe decidiu arranjar-lhe um
amiguinho.
E depois, outro. E a seguir, mais um ou dois. Reparámos como conversar
com as nossas plantas as ajudava a crescer MAIS e MAIS FORTES, por isso passámos
também a cantar-lhes e a contar-lhes anedotas. Ao contrário de que tinha sucedido
com o excesso de água, nenhuma planta morreu por falarmos de mais. Em pouco
tempo, havia plantas por toda a casa. Foi então que o papá disse que estava na
altura de irmos jardinar lá para fora.
A nossa mãe ficou tão entusiasmada com a ideia como nós e começou a
falar do nosso futuro jardim com ar SONHADOR. Foi então que o papá reuniu a família
para pensarmos num plano a sério.
Sentámo-nos à mesa da cozinha e cada um de nós disse como imaginava o
jardim.
Sabíamos que precisávamos de uma área bem iluminada – um local onde
as plantas pudessem apanhar sol durante seis horas por dia, pelo menos. Com toda
essa exposição solar, nós ficaríamos mais vermelhos que rabanetes, mas as plantas
adoram. É mais do que adorar, na verdade: é uma questão de necessidade. Para o
jardim ter vida, tem de haver luz.
O pai está sempre a dizer que a solidez de uma casa depende
fundamentalmente dos seus alicerces. Se for erigida sobre uma estrutura frágil,
nenhuma casa será robusta, o mesmo podendo dizer-se dos jardins. Por isso, para
fazermos um bom e belo jardim, misturámos fertilizantes naturais na terra. Estes
fertilizantes incluem uma quantidade enorme de micro-organismos e são eles que
vão permitir que as plantas cresçam saudáveis.
Paremos um pouco para refletir: é impossível não nos surpreendermos com
a pujança da vida invisível que acontece mesmo debaixo dos nossos pés. Não é
porque não conseguimos vê-la a olho nu que ela não existe. Os fertilizantes
alimentam e fortalecem as sementes que semeamos e que depois, COMO QUE POR
MILAGRE, dão origem às plantas e às flores que brotam da terra.
Também sabíamos que o nosso jardim iria precisar de bastante água. O
melhor para se dar de beber às plantas é água da chuva, mas é difícil saber quando
e se vai chover. Por isso, para mantermos as plantas bem hidratadas, podemos
recolher a água da chuva ou usar um regador ou uma mangueira.
Uma vez escolhida a localização, fertilizado o solo e elaborado um plano de
rega, metemos mãos à obra. Começámos pelo
início: AS SEMENTES! Uma das partes mais
divertidas do planeamento do nosso jardim foi
decidir o que plantar. Começámos pelos
alimentos que gostamos de comer, como
morangos e tomates, e depois escolhemos
algumas flores bonitas para lhes fazerem
companhia. As sementes são MILAGRES DIÁRIOS.
Tudo aquilo que uma planta virá a ser esconde-
-se dentro da semente.
Escolhemos zínias, girassóis e
cosmos para atrair os polinizadores. As
borboletas, os beija-flores e as abelhas,
poisando de flor em flor, espalhavam o pólen
e, assim, mais plantas floresciam. Ficámos
muito contentes por podermos contar com o
apoio destes pequenos ajudantes.
As abelhas devem ter divulgado a
mensagem de que havia coisas deliciosas no nosso jardim, porque começou a
aparecer uma diversidade enorme de animaizinhos.
Não precisámos de muito tempo para descobrirmos que havia três tipos de
insetos no nosso jardim: OS BONS, OS MAUS E OS FEIOS.
Comecemos pela parte pior. Recordamos com muita tristeza o dia em que
os afídios chegaram. Os afídios são conhecidos pelos efeitos devastadores que
deixam à sua passagem, pois sugam a seiva das plantas até as matar. É então que
surgem as joaninhas: elas adoram banquetear-se com estes insetos impertinentes e
é desta forma que protegem as nossas plantas, à maneira dos heróis.
Não podemos esquecer as minhocas. Elas são uma espécie de AGENTES
SECRETOS do jardim. As minhocas alimentam-se de organismos mortos, como raízes
e folhas apodrecidas e, assim, adubam a terra. Sempre que encontrávamos uma, era
motivo de celebração. É verdade que não são bonitas, mas que diferença é que isso
faz? São fantásticas e adoramos vê-las trabalhar com afinco.
Não demorou muito até nos
apercebermos de que tínhamos de andar
continuamente em cima das verdadeiras
intrusas do jardim: as ervas daninhas. As ervas
daninhas tentam roubar a água, a luz e os
nutrientes às nossas frutas e legumes, e a
nossa função é impedir que essas malandras
levem a sua avante. Se nos descuidarmos, em
pouco tempo as ervas daninhas proliferam e
danificam as nossas queridas plantas. É tão
mais fácil tratar do jardim um bocadinho todos
os dias.
Tínhamo-nos tornado autênticos jardineiros e o nosso jardim, que nos
enchia de orgulho e de alegria, era disso prova! Dia sim, dia não, cuidávamos das
nossas plantas e verificávamos se continuavam a crescer saudáveis.
Era sempre com entusiasmo que dávamos as boas-vindas a uma nova
plantinha.
O tempo foi passando, o nosso jardim foi crescendo E A NOSSA FAMÍLIA
TORNOU-SE MAIS NUMEROSA! O nosso jardim ficou todo florido e nós adorávamos
andar a correr por entre os canteiros e observar as borboletas que esvoaçavam à
nossa volta.
Mas um dia, enquanto andávamos nas nossas brincadeiras, reparámos nuns
transgressores a almoçar e ficámos consternados ao aperceber-nos de que tinham
destruído grande parte do nosso jardim. Os animais têm, na generalidade, uma
aparência simpática e inocente, mas alguns conseguem ser bem matreiros: podem
dar cabo de um jardim num ápice.
As galinhas depenicaram os legumes. As cabras devoraram as rosas da
nossa mãe. Os coelhos banquetearam-se com tudo o que viam à sua frente.
Despedirmo-nos de todas aquelas plantas outrora tão felizes foi ainda mais difícil
do que a vista do nosso primeiro feto morto.
A família voltou a reunir para decidir se não seria melhor desistir ou se
valeria a pena recomeçar do zero. Foi então que nos lembrámos de um pormenor
muito importante:
Somos Os Jardineiros.
Não só éramos responsáveis pelo cultivo do jardim como pela sua proteção.
Por isso, pusemos uma cerca a toda a volta para manter os animais afastados e
metemos mãos à obra na reconstrução do jardim!
Não levou muito tempo até as plantas e as flores brotarem de novo e
crescerem saudáveis. Até hoje, uma das coisas mais gratificantes para nós é
contemplar OS FRUTOS DO NOSSO ESFORÇO. A mãe adora fazer arranjos de flores de
todas as cores, e nós gostamos de a ajudar a idealizar receitas a partir dos alimentos
que cultivámos.
Por vezes, ao olharmos para toda aquela beleza, mal conseguimos acreditar
que foram as nossas mãos que a criaram. O trabalho árduo e persistente valeu a
pena e faz-nos voltar um dia após o outro, ano após ano.
Ainda temos um pequenino feto em cima do piano para nos lembrar que as
longas jornadas começam com um primeiro passo. Sempre que a regamos,
recordamo-nos de que não devemos desistir quando as coisas não correm logo bem:
todos os fracassos ou contrariedades têm sempre alguma coisa para nos ensinar. O
papá costuma dizer que as coisas difíceis nos tornam MAIS RESISTENTES à
adversidade.
Há tantas lições a aprender e um mundo inteiro à espera de florir…
Somos Os Jardineiros,
e tu também podes ser!
Joanna Gaines and Kids
We are the gardeners
Thomas Nelson, 2019
(Tradução e adaptação