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Blog do Vavá da Luz

CLUBE DE HISTORIA EM : Repartir um pouco do meu tempo

REPARTIR UM POUCO DO MEU TEMPO


Li no livro Na berma de nenhuma estrada, do escritor moçambicano Mia Couto:
— O que quer de mim?
— Eu quero conversar.
— Conversar?
— Sim, apenas isso, conversar. É que, agora, com esta minha idade, já ninguém
me conversa.
Constato que enquanto temos força para o trabalho, é sempre a andar. Não temos
tempo para mais nada. Nem damos conta de mais nada. Tudo é pouco! Tudo nos
consome na força do dever para cumprir, da tarefa para fazer.
Todo o tempo é curto até ao final do dia … É um corre-corre!…
Parar para ouvir… não há tempo.
Parar para olhar … não há tempo.
Dar a mão e levantar … não interessa e também não há tempo.
Deixar o carinho que vai num beijo, num abraço … já não faz sentido, e não há
tempo.
E assim se vai golpeando o coração com as feridas que ficam com o passar desse
tempo que não houve e cada vez há menos, relegando tudo para a gaveta da inutilidade
e do esquecimento.
Quantas vezes, à espera de um carinho, de uma palavra, de um olhar, se escrevem
histórias de vidas sofridas no passar desse tempo que não houve e que apagou a
esperança de serem escritas!
O tempo fugiu e castrou o sonho.
Não houve tempo sequer para abrir uma porta com um sorriso …
Um sorriso, um aperto de mão, um até logo.
Pequenos gestos com grande valor.
Coisas que se dão sem gastar!
Coisas que não se carregam no saco das compras do supermercado!
Tanto que podemos ser e não somos porque o tempo nos consome no corre-corre
do dia a dia.
Para onde?
Para quê? …
E porque não?
Aproveitar o tempo para parar, contemplar, olhar à minha volta e abrir o coração
às pessoas que me rodeiam?!…
Vou parar e … pensar mais em ti.
Vou repartir um pouco do meu tempo.
Se isto te der paz, em paz eu ficarei! …
Dário B. Chaves