Camila não quer emprestar os seus brinquedos
Hoje, a Camila convidou o Celestino e a Beatriz para brincarem lá em casa. Mal eles
chegam, a Camila corre para a porta e exclama:
— Olá! Entrem e venham conhecer a minha casa!
A Camila e os seus amiguinhos sobem as escadas a correr, muito felizes.
— Aqui é o meu quarto — diz a Camila, toda orgulhosa. — Vamos brincar?
— Sim! — gritam o Celestino e a Beatriz.
Os amigos da Camila entram no quarto e começam a mexer em todos os brinquedos.
— Oh! Que linda boneca! — exclama a Beatriz, pegando na Ritinha ao colo. — Vou tirá-
-la da cama.
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E a Beatriz pega na Ritinha e põe-se a brincar com ela.
— Oh! Que cubos giros! — exclama o Celestino, muito animado. — Vamos construir uma
cidade? Vai ser muito divertido! Queres ver?
E, de uma só vez, despeja os cubos todos no chão, perante a admiração de Camila.
A Camila observa o Celestino, entretido a brincar com os cubos, e a Beatriz, entretida a dar o
biberão à sua boneca Ritinha, e, de repente, começa a chorar.
Senta-se a um canto do quarto, agarrada ao Ursinho, e fica amuada.
Muito baixinho, e longe dos olhares dos seus amigos, a Camila diz para o Ursinho:
— Aqueles são os meus brinquedos, e eles pegam neles sem me pedir. A Ritinha estava
muito bem na cama. E os cubos estavam muito arrumadinhos.
— Não vens brincar connosco, Camila? — pergunta o Celestino. — Vamos construir o prédio
mais alto e mais bonito do mundo!
— Não quero — diz a Camila, amuada.
— Então vamos brincar às bonecas — sugere a
Beatriz.
— Não, não me apetece — responde a Camila,
saindo do quarto.
A Camila vai para ao pé da mãe, e senta-
-se na mesa da cozinha.
— O que é que aconteceu, querida? — pergunta
a mãe, ao ver a Camila tão triste. — Ainda não é a
hora do lanche.
— A Beatriz e o Celestino estão a brincar com os
meus brinquedos — resmunga a Camila, muito
amuada.
A mãe está na cozinha a passar a roupa a
ferro e tenta saber por que é que a Camila está
tão aborrecida com os seus amigos.
— Ó filha, o que é que se passa? —
pergunta.
— Eu não quero emprestar os meus
brinquedos — diz a Camila, muito irritada.
— Então preferes brincar sozinha? —
torna a mãe.
— Não! Eu gosto de brincar com outros meninos — confessa a Camila, cada vez mais triste.
— Então, tens de emprestar os teus brinquedos — explica a mãe. — É importante saber
partilhar. Assim, mostras aos teus amigos que
gostas deles. Eu também te emprestei os
utensílios de cozinha quando tu quiseste fazer
um bolo, lembras-te?
E, de facto, a Camila lembrava-se.
— Tu gostas muito da Beatriz e do
Celestino, não é? — continua a mãe.
— Claro que sim! São os meus melhores
amigos! — exclama a Camila, já mais
sorridente.
— Então, vai brincar com eles e empresta-lhes as tuas coisas!
Meia hora depois, a mãe chama para o lanche.
— Mas… essas roupas são da Camila! — exclama ela, muito espantada, ao ver a Beatriz e o
Celestino.
— Pois são! Foi a Camila que nos emprestou as roupas dela para nos disfarçarmos — explica
o Celestino.
— E esses adereços são as joias de ouro que a avó lhe deu! — acrescenta a mãe, cada vez
mais espantada.
— Pois são — diz a Beatriz. — Eu quis experimentá-las e a Camila emprestou-mas.
— Olha, mamã! — exclama a Camila, descendo as escadas. — Disfarcei-me de princesa.
— Ai o meu rico vestido! — grita a mãe, aflita. — E o meu colar de pérolas!
— Ó mãe, como tu gostas muito de mim, eu já sabia que me emprestavas tudo o que eu
quisesse! — diz a Camila, muito orgulhosa do seu disfarce.
Aline de Pétigny
Camila não quer emprestar os seus brinquedos
Lisboa, Edições Asa, 2003
(Adaptação)