Pular para o conteúdo

Blog do Vavá da Luz

CLUBE DA HISTORIA EM : O João é diferente

 João e Ana ainda estão a dormir, embora já seja hora de se levantarem. A mãe acorda-os: — João, vamos lá! Ana, vamos lá! Levantem-se! Ana abre os olhos. Salta da cama. — Bom dia, mãe. Bom dia, João. A mãe dá-lhe um beijo. João também acordou. A mãe diz: — Anda daí, João! Levanta-te! Mas João não liga nenhuma.

Continua na cama. E salta, salta, salta. Não para de saltar na cama. Diverte-se muito a saltar, saltar, saltar… A mãe volta a chamar: — Anda, João! Levanta-te! Salta, salta, salta…João não ouve a mãe. Ana olha para ele e, em seguida pergunta: — Ele é desobediente? — Não, Ana — responde a mãe. — Não é desobediente. Ele é… diferente. «Diferente?» pensa Ana. A mãe ergue o João. Dá-lhe um beijo e leva-o para a casa de banho.

Ana está a vestir-se. A mãe diz: — Anda, João. Anda lá. Veste-te! Mas ele não liga. Olha-se no espelho grande, põe a língua de fora e começa a lambê-lo. Lambe, lambe, lambe. E diverte-se a fazer muitas riscas e uma linha larga. O espelho quase desaparece. Ana olha para ele e depois pergunta: — O João é desobediente? — Não, Ana. Não é desobediente. Ele é… diferente. «Diferente?» pensa Ana. «Diferente, como?» João e Ana estão sentados à mesa. Ana está a comer um pedaço de queijo. O pai diz: — Quando acabares de comer o queijo, podes comer uma bolacha. João não faz refeições, não come queijo. Só come bolachas. Uma mordidela e outra, e outra. De manhã, bolachas. Uma mordidela, e outra, e outra. De tarde, bolachas. Uma mordidela, e outra, e outra.

À noite, bolachas. O pai põe um pouco de queijo na bolacha de João. Este mordisca-a e, logo a deita fora, enojado. Ana olha para ele e depois pergunta: — O João é desobediente? — Não, Ana — responde o pai. — Não é desobediente. Ele é… diferente. «Diferente!» pensa Ana. «O que é, afinal, ser diferente?» João e Ana estão a brincar no tapete grande. Ana constrói para ele uma torre muito alta, feita de blocos, uma torre muito grande. — Olha, fiz uma torre muito grande para ti. Mas João quer fazer girar a roda do seu carro, e nem sequer olha. E gira, gira, gira. João diverte-se muito a fazer girar, girar, girar a roda. Ana tira-lhe o carro. — Olha, rum, rum, rum.

É assim que o carro anda! Mas isso não o diverte. Fica muito irritado e começa a bater com a cabeça no chão. Chora muito alto. Ana também está zangada. — João, tu és muito desobediente! A mãe chega. — O que é que se passa aqui? — pergunta. — O João é desobediente! — exclama Ana. — Não, Ana. Não é desobediente. Ele é… diferente. A mãe entrega o carro vermelho ao filho. «Diferente?» pensa Ana. «Sempre diferente!» Ana está muito aborrecida. Aborrecida com o irmão. Aborrecida com a mãe. E aborrecida com o pai. A mãe aproxima-se e pergunta: — Por que estás tão zangada? Ana olha para o João, e depois exclama: — Ele nunca obedece! — Não, Ana! O João não é desobediente.

Ele é… diferente. Ana, meu amor, chega aqui. Também gostarias de ser diferente? Ana fica muito tempo a pensar e não sabe o que responder. A mãe compreende e propõe-lhe algo: poder ser diferente durante um dia. É hoje o grande dia. João vai brincar para casa dos avós, enquanto Ana fica com os pais. Hoje, é um dia especial para Ana. Tão especial como o dia do seu aniversário? Não, claro que não. Hoje, é um grande dia diferente. Ana vai poder fazer tudo de modo diferente, fazer tudo como o irmão faz. De manhã, a mãe acorda-a a dizer: — Anda, Ana. Anda lá! Levanta-te! Mas Ana faz de conta que não ouve. E deixa-se ficar na cama. E salta, salta, salta. Ana salta na cama.

A mãe ergue-a. Dá-lhe um beijo. — Ana, ouviste-me chamar por ti? — Sim! — responde. A mãe pergunta: — Achas que o João me escuta quando lhe falo? Ana pensa muito antes de responder: — Sim! Mas para o João escutar é outra coisa, outra coisa diferente. A mãe leva-a para o banho, e diz: — Anda, Ana. Anda lá, minha querida. Veste-te! Ana faz que não ouve. Ana olha-se no espelho grande, põe a língua fora da boca e começa a lambê-lo. Faz muitas riscas e uma linha larga. O espelho quase desaparece. — Divertes-te a lamber o espelho? — pergunta a mãe. — Não! É um pouco sem graça. A mãe pergunta: — Achas que o João se diverte a fazê-lo? Ana pensa muito antes de responder: — Claro que sim. Mas para ele lamber o espelho é outra coisa, outra coisa bem diferente.

Ana senta-se à mesa. O pai dá-lhe algumas bolachas. Uma mordidela e outra, e outra. De manhã, bolachas. Uma mordidela, e outra, e outra. De tarde, bolachas. Uma mordidela, e outra, e outra. À noite, bolachas. O pai põe um pouco de queijo na bolacha de Ana. Esta mordisca-a. Cospe o queijo? Não, claro que não. Ana gosta muito de queijo. — Queres mais bolachas? — pergunta o pai. — Não! Quero mais queijo, por favor. E o pai pergunta: — Achas que o teu irmão quereria mais bolachas? — Sim! O João só come bolachas. Ele é diferente. Ana e os pais estão a brincar no tapete grande. A mãe constrói uma torre muito alta para a Ana. — Olha, Ana. Construí uma grande torre para ti.

Ana faz girar a roda de um carro. E não olha para a torre. E faz girar, girar, girar. O pai tira-lhe o carro. — Olha, Ana. Rum, rum, rum. Um carro anda assim! Ana fica aborrecida? Vai chorar? Vai bater com a cabeça no chão? Não, claro que não. Ana pega num carro e leva-o até junto de outro. Diverte-se muito a brincar aos carros com o pai. E a conduzir.

Também constroem uma cidade gigantesca com os blocos. — Gostavas de ter companhia para brincar, o primo Bruno, por exemplo? — pergunta a mãe. — Claro que sim! Não pararia de brincar o dia todo. O pai pergunta: — Achas que o João se diverte a brincar com alguém? Ana pensa muito antes de responder: — Claro que sim, mas para ele brincar é outra coisa, outra coisa bem diferente. Agora é o pai que tem um plano: — Ana, o que achas de vez em quando o teu irmão ficar com os avós, enquanto nós brincamos contigo? Ana acha a ideia formidável. — Yupi! — exclama. E corre a beijar os pais. Então Ana levanta-se, vai a correr à prateleira do roupeiro e pega no casaco. — Vem, mãe! Vem, pai! Vamos buscar o João, tenho saudades dele!

Marleen Vanvuchelen Juan es diferente Zaragoza : Edelvives, 2003 (Tradução e adaptação)