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CLUBE DA HISTORIA EM : O Avô está diferente

O Avô está diferente
O que é o Alzheimer
Hoje é sábado e, tal como todas as semanas, vamos visitar o Avô a sua casa.
Há uns dias atrás, a minha mãe disse-nos que o Avô sofre de uma doença chamada Alzheimer. E,
embora ele queira continuar a viver na casa dele, talvez um dia, mais tarde, decida vir morar
connosco. É por isso que, para poder ajudá-lo, vamos ter de saber algumas coisas sobre a
doença.
É um problema de memória
— Mãe, o Avô não parece doente… — disse eu.
— As pessoas com Alzheimer não parecem estar doentes, mas o problema que têm faz com que
se esqueçam de muitas coisas — respondeu a minha mãe.
— As crianças também podem apanhar Alzheimer, como se apanha uma constipação? —
perguntou Jane, a minha irmã mais nova.
— Não — respondeu a nossa mãe. — Só as pessoas de idade ficam com Alzheimer.
A história do gelado
O Avô é o meu melhor amigo. Desde que tem a doença que, às vezes, faz coisas engraçadas.
Uma vez, esqueceu-se de ir à mercearia… Por vezes, esquece o meu nome, mesmo tendo eu o
mesmo nome que ele. Depois, houve aquele dia em que comprámos gelado na loja. O Avô pôs o
gelado na caixa do correio, e colocou o correio no congelador.
Nós queremos continuar a brincar com o Avô…
A minha mãe disse que o Avô tinha ido ao médico porque estava sempre a esquecer-se das
coisas. Depois de lhe fazer alguns testes, o médico explicou que o seu cérebro não estava a
trabalhar como devia.
Neste sábado, Jane e eu estávamos ansiosos. Se ele estiver doente, será que vai estar sempre na
cama? Será que vai poder brincar connosco?
O truque especial do Avô
A caminho da sua casa, recordámos o primeiro dia em que o Avô nos levou a pescar e nos
ensinou o seu truque especial.
— Se vocês assobiarem — disse-nos ele, — os peixes mordem sempre.
Ao princípio não acreditei, mas assobiámos e resultou mesmo! Até a minha irmã apanhou um
peixe! E, quando regressámos a casa, o Avô fez-nos uma refeição completa com ele: estava
delicioso!
Ele parece estar tão bem como sempre…
Quando chegámos a casa do Avô, uma senhora simpática abriu-nos a porta. Era a enfermeira.
— Prazer em conhecer-vos! — disse ela. — O meu nome é Helen.
Todos nós dissemos:
— Olá, Helen.
O Avô estava de pijama e roupão, e parecia o mesmo de sempre. No entanto, também tinha
umas botas elegantes calçadas…
Acho que até ficava bem…
Deu-nos, à minha irmã e a mim, um grande abraço.
— Olá, companheiro! — disse-me ele, como sempre fazia.
O Avô ainda consegue apanhar bolas!
A minha mãe deu ao Avô algumas flores do nosso jardim. Jane mostrou-lhe um desenho que ela
própria fez. Eu dei-lhe algumas fotos de mim a jogar bola com a minha equipa.
— Talvez possamos brincar a apanhar bolas no quintal, mais logo — disse o Avô. — Aposto que
te tornaste mesmo muito bom!
Podemos fazer algumas coisas para o ajudar com a sua memória?
Depois do almoço, o Avô e eu brincámos a apanhar bolas. Em seguida, sentámo-nos no
alpendre, e Jane e eu falámos sobre a escola. Helen apareceu cá fora com alguns álbuns de fotos
que tínhamos trazido connosco.
— Porque é que não dão uma vista de olhos a estes? — disse ela. — Ver as fotografias pode
ajudar a memória do vosso Avô.
Todos vimos os álbuns com as fotos. Havia muitas imagens de mim e da minha irmã com o Avô.
— Que linda fotografia! — disse o Avô. — Quando é que foi tirada?
— Esta foto é a do meu aniversário — disse, muito séria, a minha irmã.
O Avô parecia confuso.
Não é fácil compreender
Aquilo entristeceu a minha irmã.
Em seguida, a nossa mãe disse que devíamos ir dar um passeio. Eu
levei-a até ao quintal.
— O Avô não se lembra de nada! — disse ela. — Como é que pôde
esquecer-se do meu aniversário? Será que já não gosta de mim?
— O Avô ama-nos como sempre amou — disse eu. — Mas está
doente. O cérebro dele não está a trabalhar bem. Não consegue
memorizar as coisas. Mas isso não quer dizer que não goste de
nós!
— Eu também gosto muito dele — disse a minha irmã.
Talvez ainda possamos ir pescar de novo!
Voltámos a casa.
O Avô ainda estava a olhar para o álbum das fotografias. Apontou para uma imagem.
— Esta é do tempo em que íamos pescar! — disse ele.
— Pois é, Avô! — disse eu.
Parecia que os álbuns de fotos eram, afinal, uma boa ideia!
— Ensinaste-nos a assobiar para apanhar os peixes.
— Gostava mesmo de ir pescar outra vez — disse o Avô. — Talvez possamos ir no próximo fim
de semana.
Quando chegou a altura de ir embora, nem a minha irmã nem eu queríamos ir. Demos ao Avô
um abraço enorme. A minha mãe deu um abraço também à Helen.
— Obrigada por ajudar o meu pai! — disse ela.
O Avô precisa da nossa ajuda
No caminho até casa parámos para comer um gelado.
— Quem dera que as coisas fossem como eram dantes…— disse a minha irmã. — Quem dera
que o Avô ainda fosse como era. Quem dera que ele não estivesse doente!
— Também adorava que o Avô não estivesse doente… — disse a nossa mãe. — Mas podemos
recordar todos os momentos divertidos que passámos juntos. E podemos ajudá-lo de várias
maneiras.
A caminho do lago
Na semana seguinte chegámos a casa do Avô muito cedo. Ele estava a sorrir e tinha vestido o
seu fato da pesca. Também tinha uma grande gravata vermelha e botas que não condiziam com
o resto, o que era um pouco estranho… Mas nós limitámo-nos a sorrir.
A nossa mãe inclinou-se para nos sussurrar “Não se preocupem. Se o Avô ficar confuso, nós
estamos aqui para ajudá-lo.”
E lá fomos nós para o lago.
Tentando lembrar …
Quando chegámos, o Avô olhou para a água, para as árvores altas, para as grandes nuvens e
ficou ali parado.
A nossa mãe aproximou-se dele.
— Está tudo bem? — perguntou.
O Avô estava triste.
— Não tenho a certeza se já estive aqui antes — disse. — Estive?
— Não exatamente aqui. Penso que costumávamos ir para ali, para perto daquelas árvores —
disse a nossa mãe.
— Sim, se calhar é isso — suspirou o Avô.
Somos uma grande equipa!
Sentámo-nos no embarcadouro e começámos a pescar. Mas durante muito tempo nenhum
peixe veio morder.
Então eu vi o Avô a sorrir.
Olhou para mim e disse:
— Talvez eles apareçam se nós assobiarmos.
A nossa mãe ficou feliz.
— Pai! Lembraste-te!
Depois, virou a cara, e vi que tinha lágrimas nos olhos.
Portanto, nós assobiámos. Assobiámos muito.
E os peixes começaram logo a morder!
Pam Pollack and Meg Belviso
Grandpa has changed
New York, Barron’s, 2009
(Tradução e adaptação)