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CLUBE DA HISTORIA EM :O amor era o avô e no dia em que as avós perderam a memória

O dia em que as avós perderam a memória

á muito, muito tempo, o duende Brincalhão, que era muito endiabrado e ladrão, roubou a
memória a todas as avós, e correu a esconder-se na gruta do bosque onde vivia.
Chegado à gruta, pegou na almofada da cama e retirou o recheio de lã.
Voltou a enchê-la com a ajuda do seu belo botim afiado e coseu-a.
A partir desse dia, ao deitar-se, queria ouvir todas as noites uma história diferente que vinha das
mil memórias das avozinhas… E assim, o duende malandro pensava ter conseguido arranjar histórias
para ouvir durante toda a vida!
Qual não foi, pois, a surpresa das crianças quando, no dia seguinte, pediram às avós que lhes
contassem uma história!
— Que estranho… não me lembro de nenhuma! — diziam as avozinhas.
— Vamos, Vovó, ainda que seja a mesma de ontem!
— Não me lembro! — respondiam elas, sem compreender como, de um dia para o outro, se
tinham esquecido de todas as histórias.
De nada serviram as mezinhas das curandeiras nem os xaropes que os médicos prescreveram.
As avós não se conseguiram lembrar de nenhuma história! Recordavam-se de uma ou de outra receita
de cozinha, de alguns remédios caseiros para curar, lembravam-se como se bordava uma toalha de
mesa…. Mas nada disto interessava às crianças.
Entretanto, o duende Brincalhão não saía do fundo da caverna para não perder nenhuma das
histórias…. Tinha até descoberto que escutava uma história diferente consoante a parte da almofada
onde colocava a orelha! No meio da almofada estavam as histórias de piratas que falavam de tesouros
H
escondidos, praias longínquas e marinheiros rudes. Um pouco acima ouviam-se contos de fadas, com
bosques encantados, dragões que lançavam fogo e princesas prisioneiras. Na ponta da almofada, onde
se formava um bico em forma de orelha, o duende ficava com água na boca ao ouvir as fábulas de
cidades de caramelo, com torres de chocolate, lagos de água doce e árvores de torrões.
Mas o duende Brincalhão tinha muito cuidado para não voltar a colocar a cabeça sobre a costura
da almofada. Aí, entre as pontas do nylon, tinha sido cosida a memória de uma avó que colecionava
contos de terror. Fantasmas terríveis arrastavam correntes por castelos embruxados nas noites de
tempestade e… Brrr! Tantas coisas que metiam muito medo e provocavam pesadelos!
Desde que tinha a “almofada dos contos”, como ele dizia, não fazia nada mais senão passar todo
o dia na cama, empanturrando-se com histórias e caramelos. E a dormir…. Tinha engordado tanto que
quase não conseguia mexer-se para passar o pano do pó ou varrer o chão.
Por isso, em pouco tempo, a gruta encheu-se de pó e teias de aranhas. E, o que foi pior, de traças.
As traças comeram-lhe a roupa, a toalha de mesa, o colchão…
E uma noite, enquanto dormia, o forro da almofada.
Foi então…
…que as memórias escaparam e voltaram a juntar-se às respetivas avós.
As avós recuperaram a memória.
Mas como ficaram a saber que tinha sido o duende Brincalhão quem as tinha roubado, decidiram
escrever as histórias em papel, não fosse o malandro
voltar a pregar alguma das suas partidas.
E foi assim que nasceram os livros de contos.
Oscar Salas
El día en que las abuelas perdieron la memoria
Editorial: Los Libros del Imaginados, 2000
(Tradução e adaptação)